Cauteloso, Obama manda rever ajuda

Sem mencionar golpe, americano expressa preocupação; Brasil defende respeito à institucionalidade egípcia

O Globo

CAIRO, WASHINGTON e BRASÍLIA - Com a exceção das monarquias do Golfo Pérsico e do regime sírio, liderado pelo ditador Bashar Al-Assad - notórios inimigos da Irmandade Muçulmana, grupo que estava até ontem no poder no Egito -, os países que se pronunciaram publicamente sobre a queda do presidente Mohamed Mursi adotaram cautela para comentar o ocorrido. 


Enquanto os reis e Assad se colocaram ao lado dos revoltosos, nações como Estados Unidos, Brasil e Reino Unido fizeram chamados ao diálogo. Mas a nota divulgada pelo presidente americano, Barack Obama, trouxe pelo menos uma consequência prática para o novo governo do Egito, país que recebe mais de US$ 1,5 bilhão ao ano em ajuda econômica e militar dos EUA.

"Diante dos acontecimentos de hoje (ontem), eu orientei os departamentos e agências relevantes a rever as implicações, sob a lei americana, de nossa assistência ao governo do Egito", diz a nota assinada por Obama e divulgada no site da Casa Branca.


No texto, Obama se disse "profundamente preocupado pela decisão das Forças Armadas egípcias de remover o presidente Mursi e suspender a Constituição egípcia", mas evitou usar a palavra "golpe" - o que tornaria o cancelamento da ajuda americana obrigatório por lei - e classificou a situação no Egito como "bastante fluida", preferindo dizer que o futuro do país "pode ser determinado apenas pelo povo egípcio". O presidente americano defendeu que os militares egípcios "devolvam a total autoridade a um governo civil e democraticamente eleito o mais rapidamente possível", além de pedir que prisões arbitrárias de Mursi e seus partidários sejam evitadas.


A meticulosa escolha de palavras do comunicado de Obama revela a dificuldade que os EUA terão em dar um nome para o que ainda acontece no Egito. Uma prova de que Washington valoriza seus laços com os militares egípcios foi a aprovação, em maio, da entrega de US$ 1,3 bilhão às Forças Armadas do país pelo secretário de Estado, John Kerry, apesar de o Egito não atender aos padrões de democracia exigidos pelo Congresso dos EUA para a concessão de ajuda. Ao mesmo tempo, a lei americana prevê a interrupção do auxílio em caso de golpe militar, mas deixa nas mãos do Departamento de Estado a definição sobre se algo do gênero ocorreu ou não.
 

Assad comemora queda de presidente

Obama não foi o único a evitar um posicionamento mais contundente diante da atual imprevisibilidade do Egito. Em Brasília, o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota dizendo que o Brasil "acompanha com preocupação a grave situação no Egito, onde a Constituição acaba de ser suspensa e o presidente democraticamente eleito, destituído". O governo também defendeu o "respeito à institucionalidade", o diálogo e a conciliação, "para que as justas  aspirações da população egípcia por liberdade, democracia e prosperidade possam ser alcançadas sem violência e com a plena vigência da ordem democrática."


Outro que fez chamados à calma e à democracia no Egito foi o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague. De forma genérica, o chanceler britânico declarou em nota que seu país "não apoia a intervenção militar como forma de resolver disputas em um sistema democrático". Na mesma linha, a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, defendeu um "rápido retorno de todas as partes ao processo democrático" e condenou os recentes atos de violência em solo egípcio.


Por outro lado, monarquias como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, além da Síria de Bashar al-Assad, não hesitaram em declarar seu apoio ao novo levante no Egito, já que sempre viram na ascensão da Irmandade Muçulmana um incentivo aos islamistas - e uma ameaça ao status quo - em seus países. Assad saudou a saída do presidente egípcio como "a queda do chamado Islã político".


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