Os químicos da ONU estudam o dossiê químico do Síria

Segundo foi prometido, a Síria entregou em 20 de setembro à Organização para Proibição de Armas Químicas (OPAQ) a declaração sobre as suas reservas de substâncias tóxicas, o seu tipo, forma de conservação e localização dos seus depósitos.

Andrei Fedyashin - Voz da Rússia


A informação foi tão detalhada e vasta que a referida organização reservou mais algum tempo para o seu estudo. O principal órgão internacional de inspeção de armamentos químicos anunciou que transferia a reunião do seu comitê executivo, dedicada ao problema da Síria, por um prazo indeterminado. Inicialmente pretendia-se realizar a reunião em 22 de setembro.

Os peritos da OPAQ devem elaborar o processo concreto de registro, transporte, conservação e eliminação de reservas de armas químicas sírias. De acordo com as estimativas preliminares, elas constituem de 1000 a 1300 toneladas. Agora os inspetores devem ir à Síria e comparar os dados, apresentados por Damasco, com as reservas reais de armas químicas no território deste país e elaborar os métodos da sua eliminação.

Os EUA e os seus parceiros não fazem segredo de que preferem que esta missão seja confiada à Rússia. Os peritos russos afirmam que Moscou pode eliminar sarin e outras substâncias químicas na empresa especial, situada na cidade de Schuchie, região de Kurgan, que se encontra na parte sudeste da Rússia.

Mas aí impõem-se toda uma série de questões complicadas – internacionais, interestatais e relativas estritamente à Rússia, disse na entrevista à Voz da Rússia o diretor do Centro Russo de Pesquisas Sócio-Políticas Vladimir Evseev. Para realizar todos estes planos é preciso muito tempo e é precisamente o tempo que falta. O primeiro problema é a evacuação das armas do território da Síria, reputa Vladimir Evseev.

“Será preciso não somente formar a missão de inspetores da ONU e ampliá-la mediante a incorporação de oficiais das tropas de defesa química dos outros Estados, incluindo a Rússia, mas também garantir a sua segurança. A Rússia estuda a possibilidade de incorporar nesta operação uma equipe de forças especiais”.

Além disso será preciso cerca de dez mil soldados de diversos Estados a fim de garantir a segurança desta operação.

Mas este problema é apenas o início, diz Vladimir Evseev. Será preciso verificar quais os recipientes destas armas são seguros e que nenhum projétil vai detonar no processo de transbordo. Esta possibilidade também não pode ser descartada, afirma o perito.

“A Turquia pode proibir a passagem de navios com esta carga através dos seus estreitos. O mesmo problema pode surgir no caso do seu transporte por uma via de rodeio. Ninguém quer ter junto da sua fronteira um navio, cheio de armas químicas”.

O diretor do Centro Russo de Pesquisas Sócio-Políticas Vladimir Evseev está convencido de que para Moscou também será bastante difícil de explicar aos seus cidadãos, a razão pela qual as armas químicas sírias são transportadas para a liquidação precisamente para o seu território. Durante a construção da empresa especializada em Schuchie, que foi posta em funcionamento em 2009, a Rússia já viu numerosos protestos dos seus habitantes e manifestações dos ecólogos.

As discussões sobre a evacuação das armas ou a sua destruição no local não têm sentido enquanto os inspetores da ONU não fizeram a inventarização completa das suas reservas e do seu estado, afirma Natalia Kalinina, perita russa em problemas de armamento do Instituto de Economia Internacional e de Relações Internacionais junto da Academia dsa Ciências Russa.

“A Convenção para a proibição de armas químicas estabelece que a sua liquidação deve ser efetuada nas proximidades dos seus depósitos. Tudo depende ainda do estado destas armas. É preciso saber, quê espécies de armas químicas estão lá, a forma do respectivo equipamento, o seu estado no plano de segurança. Na minha opinião, o seu transporte é irreal”.

Em qualquer caso, diz Natalia Kalinina, a prática e os cálculos demonstram que a evacuação destas armas vai exigir despesas enormes. Será preciso contêineres e navios especiais, equipes de acompanhamento, medidas de segurança no trajeto do seu transporte. Tudo isso pode custar muito mais do que um bilhão de dólares, que o presidente Bachar al-Assad mencionou na sua última entrevista. O processo de transporte pode transformar as armas químicas da Síria em “armas de ouro”.



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