Rússia salvou a Síria do ataque, mas não da guerra

A Gazeta Russa ouviu alguns sírios que moram em Moscou sobre a iniciativa russa de colocar o arsenal de armas químicas sírias sob controle internacional. Muitos deles acreditam que essa iniciativa está mais de acordo com os interesses de Israel e de Bashar al-Assad do que com os da Síria e de seu povo.

Munzer Khallum, Gazeta Russa
Hassan Aldash, engenheiro e empresário

Os grandes atores internacionais não respeitam os interesses de nosso povo nem seu direito à liberdade, democracia e a uma vida normal. Eles não se importam com as consequências dessa iniciativa para o país. As armas químicas foram um fator de dissuasão para Israel. O regime sírio abriu mão de seu arsenal químico em 10 minutos para permanecer no poder. Nesse sentido, a iniciativa russa é uma espécie de conluio entre a Rússia, EUA e o regime de Assad. A iniciativa russa em sua forma atual é favorável ao regime sírio e pessoalmente a Assad, deixando, porém, a própria Síria mais fraca e proporcionando liberdade de ação a Israel.

Amin Aldager, engenheiro e empresário

A iniciativa russa é boa por evitar um ataque contra a Síria. Nesse sentido, ela salva muitos sírios da morte e da miséria. Se um ataque contra a Síria fosse realizado, os radicais venceriam. Por outro lado, a iniciativa russa não poderá dar fim à crise se não acabar com o afluxo de mercenários estrangeiros ao país e não obrigue as partes em conflito a participar de “Genebra 2” para buscar uma solução política e criação de um governo de transição.

Nidal Abu-Ali, médico

Já é suficiente que a iniciativa russa tenha afastado a ameaça de uma agressão contra a Síria. Mas isso não resolve o problema. Uma solução política é necessária: é preciso colocar as partes à mesa de negociações. A Rússia fez o que devia fazer. Agora, os EUA devem parar de armar os terroristas. Depois disso, só uma oposição de verdade vai ficar na Síria. Mesmo assim, a Rússia deve ter um programa claro para as negociações de paz a fim de garantir ao povo sírio reformas democráticas.

Nedal Khudr, médico

Dói ver que os problemas do regime sírio estão sendo solucionados à custa da segurança militar do país. No fim de contas, as armas químicas são a propriedade síria que, de repente, viraram uma moeda de troca para salvar o regime sírio, enquanto o próprio povo sírio fica em uma situação de impasse. Surge a pergunta: já que esse conluio pode parar um ato de violência externa, será que também pode parar a violência interna? A Rússia deve exercer pressão sobre o regime e não esquecer que o povo sírio têm justas reivindicações que o levaram às ruas há dois anos e meio. São reivindicações pela liberdade, justiça e democracia. Onde estão as iniciativas russas sobre essas questões?

Ahmed al- Dari, farmacêutico e empresário

Pelo que estou vendo, todas as iniciativas e conluios sobre a Síria giram em torno de um só problema, ou seja, a segurança de Israel. A mais recente iniciativa prolonga a vida do regime sírio por um tempo indeterminado e coloca o povo sírio em uma situação perigosa e humilhante. E o regime sírio? O regime sírio vai estar de acordo mesmo que fique com uma pequena porção do país. O governo de Moscou entende isso e pode aceitar a divisão da Síria se achar que essa pequena porção poderá garantir seus interesses. Eu gostaria de que a Rússia fosse fiel a seus slogans e que realmente defendesse o Estado sírio, e não seu regime.

VOZ DO ESPECIALISTA

Hazem Nahar, analista político do Centro Árabe de Pesquisas e Estudos Políticos, em Doha, Qatar
A retirada do arsenal de armas químicos da Síria é do interesse dos EUA e de Israel. Assim, a Síria perde as armas que serviam de fator de dissuasão para Israel. O Ocidente pode aceitar que Assad permaneça no poder durante o período de transição se chegar a acordo com a Rússia, mas isso não vai ajudar os sírios. Aqui, porém, cabe uma pergunta: o Ocidente é capaz de parar a guerra na Síria? A guerra, que já dura mais de dois anos, criou uma nova realidade. A oposição está começando a fabricar armas por conta própria e tem muitas fontes de financiamento e fornecimento de armas. Se, suponhamos, a iniciativa for mais longe, existe uma oposição que aceite participar de “Genebra 2”? A aliança das forças revolucionárias e da oposição não vai aceitar as negociações por perceber que isso significa a permanência de Assad no poder. Manter Assad no poder é o principal objetivo da Rússia e do Irã. Israel também está interessado em tirar as armas químicas da Síria para enfraquecê-la e manter o atual líder. Tanta a Rússia como os EUA garantem esse interesse de Israel por meio de presente conluio.

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