Ao menos 7.500 militares foram alvos da ditadura

Trabalhos da Comissão da Verdade devem ser prorrogados até novembro de 2014

Evandro Éboli | O Globo


BRASÍLIA - A Comissão Nacional da Verdade constatou que os militares foram a categoria social mais atingida pelo golpe de 1964. Dados da Comissão apontam que pelo menos 7.500 militares das Forças Armadas foram alvos de ações da ditadura, como perseguição, prisão, tortura, morte e perda do emprego. Esses números foram anunciados numa audiência pública na tarde de ontem na SubComissão da Memória, Verdade e Justiça do Senado. Três integrantes da Comissão participaram do debate, acompanhados de vários assessores do grupo.

A Comissão criou o Grupo de Trabalho Repressão aos Militares, que analisa e investiga a repressão sofrida por integrantes das três forças por suas posições político-ideológicas. O pesquisador e professor Paulo Ribeiro da Cunha, que atua nesse grupo da Comissão da Verdade, explicou que a grande maioria se opôs ao golpe de 64.

— Os militares formam, sem dúvida, a categoria mais atingida pelo golpe. A grande cassação desse pessoal se deu em 64. Eram perseguidos, tinham telefones grampeados, presos — disse Cunha.

APOIO POLÍTICO PERSEGUIDO

Cunha explicou que esses militares eram vítimas de perseguição por motivações como apoiar a candidatura de Leonel Brizola (PDT) para o governo do Rio ou até mesmo de alguém que adquiriu um livro do sociólogo e brizolista Darcy Ribeiro.

O novo coordenador da Comissão da Verdade, Pedro Dallari, defendeu na audiência a ampliação do prazo de trabalho do grupo, que termina em maio de 2014. Ele disse que a presidente Dilma Rousseff concordou com a ampliação até novembro do ano que vem.

A presidente deverá enviar projeto ao Congresso Nacional prevendo essa ampliação. 


O novo coordenador disse ainda que também será recomendado que as Forças Armadas e as polícias introduzam ensinamento sobre direitos humanos nas suas formações.

APOIO FINANCEIRO AO MIPE

Em São Paulo, o ex-governador Paulo Egydio Martins (1975/1979) detalhou ontem o que foi, "segundo ele, um amplo apoio financeiro de empresários e sociedade civil de São Paulo à derrubada do presidente João Goulart pelo golpe militar de 1964. Em depoimento à Comissão Municipal da Verdade, na Câmara Municipal da cidade, Egydio classificou ainda as mortes do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do sindicalista Manuel Fiel Filho, meses depois, como "parte de um plano para tirar o general Ernesto Geisel do poder” elaborado pelos que queriam "um regime mais forte e violento”.

O único nome citado peio ex-governador como parte desse plano foi o de Sylvio Frota, ministro do Exército de Geisel (exonerado em 1977). Aos 85 anos, Egydio disse que "todos contribuíram com dinheiro e equipamentos para o II Exército, que estava no chão e era uma piada" para derrubar Jango.

Ele contou fazer parte, ao lado de outros empresários, de um "processo conspiratório". Segundo o ex-governador, a cada discurso que Jango fazia, "nossa tensão e o medo de que o Brasil virasse um "Cubão" (em referência à tomada do poder pelos comunistas em Cuba) aumentava, "aumentando também as contribuições".

— Ninguém no Exército ia pedir, pessoas é que procuravam a quem doar — disse Egydio, lembrando que doações eram feitas via pessoas físicas e não entidades, diretamente a coronéis do II Exército.


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