Três tripulantes queimados e vazamento em porta-aviões da Marinha

Corporação admite que navio ‘São Paulo’ jogou óleo na Baía e marinheiros denunciam risco


JULIANA DAL PIVA | O DIA

Rio - Marinheiros a bordo, desde terça-feira, do porta-aviões São Paulo, em exercício em plena Baía de Guanabara, denunciam uma situação de perigo. Os tripulantes revelaram que o navio está despejando óleo no mar devido a um vazamento.

Além disso, problemas na caldeira causaram queimaduras em três militares. Eles também alertam que existe risco de explosão e incêndio. Cerca de mil militares, entre soldados, cabos, sargentos e oficiais, estão embarcados sob o comando do contra-almirante José Renato de Oliveira. Segundo os marinheiros, o oficial se recusa a encerrar o exercício apesar do perigo oferecido à tripulação. Após o contato da reportagem com a Marinha ontem, o comando teria proibido o uso do celular pessoal, segundo denúncias.

Os embarcados não quiseram se identificar com medo de represálias, e informaram que desde terça-feira o navio também apresenta um problema em um dos dois refeitórios que servem a cabos e marinheiros — logo o que alimenta a maior parte da tropa. A água do mar estaria entrando no local, que estaria interditado. Além disso, alguns marinheiros estão passando mal com as altas temperaturas da cidade e a ausência de ar-condicionado.

Sem previsão

A previsão inicial era de que o exercício terminasse na sexta-feira, mas o comando teria avisado à tropa ontem de que não há mais previsão de término, o que preocupa os parentes dos tripulantes.“Estamos muito apreensivos com toda essa situação”, contou um familiar que não quis se identificar.

O porta-aviões é a única embarcação do seu tipo no Hemisfério Sul e um dos 20 do seu modelo em atividade no mundo. A atividade desempenhada é tão específica, que só nove países operam navios semelhantes. Mas o equipamento no Brasil sofre com a infraestrutura. Foi comprado já usado da França em 2000.

Procurada, a Marinha admitiu que ocorreu um “pequeno derramamento de óleo a partir de uma tubulação” e que foram colocadas barreiras de contenção, em torno do navio. O plano de emergência foi acionado para o recolhimento do resíduo despejado. Sobre os militares feridos na caldeira, eles já foram medicados e liberados, diz a Marinha.

Quatro mortes, incêndios e cinco anos parado

Desde que foi comprado em 2000, o porta-aviões já teve quatro marinheiros mortos e 13 feridos em, pelo menos, seis grandes incêndios. Em 2005, o navio chegou a parar por cinco anos, mas voltou a operar. Em 2012, na tragédia mais recente, o marinheiro Carlos Alexandre dos Santos Oliveira, de 19 anos, morreu durante um incêndio na antessala do alojamento em que se encontravam os militares. Além dele, ficaram gravemente feridos José de Oliveira Lima Neto e Jean Carlos Fujii de Azevedo.

Naquela ocasião, tripulantes também denunciaram para a coluna ‘Força Militar’ que os problemas iniciaram logo que a embarcação deixou o cais, mas o comando decidiu seguir viagem. Há dois anos também ocorreram focos de incêndio na caldeira, e também foram registrados problemas na chaminé e nas máquinas.

A estimativa é de o navio tenha custado U$ 12 milhões, mas o problema é que só para a modernização ainda foram gastos outros US$ 90 milhões, nos últimos dez anos. Apesar dos evidentes problemas de manutenção, militares avaliam que se o navio for aposentado, o Brasil não terá mais uma esquadra — pois é necessário um porta-aviões para tal. Dessa forma, vários almirantes de esquadra teriam que ir para a reserva.


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