Ucrânia diz que Rússia avança pelo leste e prepara invasão

Presidente em exercício da Ucrânia disse que há perigo real de invasão.

Região separatista ucraniana fará referendo de anexação à Rússia.


Reuters

A Ucrânia acusou neste sábado (15) "agentes do Kremlin" de fomentarem violência e mortes em cidades de idioma russo no país e pediu que a população não se levante ante às provocações, que seus novos líderes temem que sejam usadas para justificar uma invasão mais profunda, depois da tomada da Crimeia. O presidente em exercício da Ucrânia, Oleksander Turchinov, em um discurso no Parlamento, referiu-se às três mortes nos últimos dois dias em Donetsk e Kharkiv e disse que há um "perigo real" de uma invasão de forças russas pela fronteira leste da Ucrânia.

Falando a membros do partido do presidente deposto, que era pró-Moscou, Turchinov disse: "Vocês e nós sabemos quem está organizando os protestos populares no leste da Ucrânia -- são os agentes do Kremlin que estão organizando e patrocinando os protestos, que estão provocando as mortes das pessoas."

Dois homens, descritos pela polícia como manifestantes pró-Moscou, foram mortos a tiros em uma briga em Kharkiv na noite de sexta-feira. Um nacionalista ucraniano foi morto a facadas quando manifestantes pró-Rússia e pró-Ucrânia entraram em confronto em Donetsk, na quinta-feira.

Turchinov encerrou a sessão parlamentar dizendo: "A situação é muito perigosa. Não estou exagerando. Há um risco real de ameaça de invasão do território da Ucrânia e nós iremos voltar a nos reunir na segunda-feira às 10h", conforme registro da imprensa local.

Referendo

Líderes pró-Rússia da Crimeia se preparavam neste sábado para um referendo que deve transferir o controle da península do Mar Negro da Ucrânia para Moscou, apesar da ameaça de sanções e as críticas por parte dos governos ocidentais.

O referendo, que o ocorrerá no domingo e é classificado como ilegal por Kiev, causou a pior crise entre Ocidente e Oriente depois do fim da Guerra Fria, e aumentou a tensão não apenas na Crimeia, mas também no leste da Ucrânia, onde duas pessoas morreram durante confrontos na sexta-feira.

As ruas da capital da Crimeia, Simferopol, estão calmas neste sábado, apesar da forte presença militar, anormal para uma cidade normalmente pacata.

O primeiro-ministro da Crimeia, Sergei Aksyonov, cuja eleição em uma sessão fechada no Parlamento nacional não é reconhecida por Kiev, afirmou que há segurança suficiente para garantir que a votação deste domingo ocorra calmamente.

"Acho que temos gente o suficiente: mais de 10 mil pessoas nas forças de autodefesa, mais de 5 mil em diferentes unidades do Ministério do Interior e os serviços de segurança da República da Crimeia", afirmou o premiê.

Em Kiev, o Parlamento ucraniano aprovou a dissolução da assembleia regional da Crimeia, que organizou o referendo e apoia a anexação à Rússia.

Um líder nacionalista ucraniano do Congresso em Kiev disse que a assembleia da Crimeia precisa ser punida para impedir que haja mais movimentos separatistas no leste ucraniano, que tem o russo como idioma majoritário.

Aksyonov e Moscou não reconhecem que tropas russas tomaram o controle da Crimeia, e afirmam que milhares de homens armados não identificados e visíveis na península pertencem a grupos de "autodefesa", criados para assegurar a estabilidade.

Mas os militares russos praticamente não esconderam a chegada de milhares de soldados, caminhões, veículos blindados e artilharia à Crimeia.

Homens mascarados que cercam as instalações militares ucranianas na Crimeia se identificaram como soldados russos.

Moscou paga para Kiev pelo uso do porto da cidade de Sebastopol, que serve como base para sua frota no Mar Negro. O acordo permite que a Rússia tenha até 25 mil soldados no local, mas não em território ucraniano.

O referendo ocorre após a queda do presidente pró-Moscou da Ucrânia, Viktor Yanukovich, no dia 22 de fevereiro, em meio a manifestações sobre a sua decisão de descartar um acordo com a Europa em prol de laços econômicos com a Rússia.

A maioria do eleitorado da Crimeia, formado por 1,5 milhão de pessoas, deve escolher se juntar à Rússia no referendo, refletindo a maioria étnica russa. Para muitos moradores, a escolha é tanto econômica quanto política.

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