Moscou pressiona Otan sobre aumento de contingente no Leste Europeu

Aliados resolveram elevar o nível de defesa na Europa em meio à crise russo-ucraniana. Representante permanente da Federação Russa junto à Otan qualifica iniciativa como “contraproducente”.


Iúri Paniev, especial para Gazeta Russa

O Kremlin enviou uma solicitação à Otan em relação aos planos da Aliança de aumentar o contingente de suas tropas nos Estados do Leste Europeu. “Esperamos da Otan não apenas uma resposta, mas uma resposta plenamente fundamentada no respeito das regras acordadas”, declarou o chanceler russo, Serguêi Lavrov, na quinta-feira passada (3).

Dois dias antes, os ministros das Relações Exteriores dos 28 países da Otan, reunidos em Bruxelas, decidiram “elevar o nível de defesa dos aliados no Leste Europeu em meio à crise russo-ucraniana”. O Comandante Supremo das Forças Armadas conjuntas da Otan, general Philip Breedlove, confirmou que a organização está trabalhando em um plano para fortalecer a defesa desses países até o próximo dia 15.

O representante permanente da Federação Russa junto à Otan, Aleksandr Gruchko, adiantou que o país não poderá deixar de tomar medidas de segurança em resposta ao fortalecimento do flanco oriental da Otan. “Do nosso lado serão tomadas todas as medidas políticas e técnico-militares necessárias para garantir a nossa segurança”, disse.

A assimilação militar dos territórios dos países-membros da Otan adjacentes à Rússia está, segundo Gruchko, concluída. Em 2002, os países bálticos e a Polônia foram totalmente integrados nos planos de defesa da Otan e, no ano passado, foram realizados exercícios que treinaram ações de restabelecimento da integridade territorial em caso de agressão externa. Além disso, foram criadas bases militares na Bulgária, Romênia e Polônia, e estão sendo implantados objetos de defesa antimíssil na Polônia e na Romênia, bem como o patrulhamento aéreo nos bálticos passou a ser permanente.

O representante russo garante, entretanto, que as preocupações expressas pelos países da Aliança em torno da Ucrânia são infundadas. O reforço das capacidades militares vem sendo realizado em uma região adjacente à região de Kaliningrado, onde a Rússia reduziu substancialmente o nível de armamento nos últimos anos.

Aliança dividida

A decisão de expandir a Aliança rumo ao Oriente pode ser tomada na próxima cúpula da Otan, marcada para o início de setembro, em Gales. “Mas esse processo enfraquece a segurança, não apaga as linhas divisórias e instiga a psicologia dos Estados da linha de frente”, aponta Gruchko. “Esse não é um avanço na direção da arquitetura moderna, mas na direção da época da confrontos.”

O diplomata está convencido de que os países-membros da Otan mantêm pontos de vista diferentes em relação à possibilidade de confronto. “Existem visões extremas, expressas pelos países bálticos e pela Polônia, são precisamente eles que mais falam do déficit de segurança e da necessidade de medidas adicionais para protegê-los. Mas há outros que entendem que um retorno à era do confronto é contraproducente e irá desviar recursos materiais de tarefas mais urgentes”, explica.

Prova disso é a recente declaração do ministro das Relações Exteriores da Noruega, Børge Brende, para quem o estabelecimento de bases da Otan no território dos Estados Bálticos pode levar a uma nova escalada da crise ao redor da Ucrânia.

Afeganistão em risco

Gruchko também lamenta o fato de a Otan ter decidido suspender a cooperação com a Rússia no Afeganistão assim que os programas existentes chegarem ao fim. Entre as áreas afetadas estão o fornecimento de helicópteros de transporte e peças de reposição para o exército afegão e a formação conjunta com a Otan de oficiais afegãos em quatro centros localizados no território russo.

“Essa decisão da Otan vai ser principalmente prejudicial para os afegãos”, diz Gruchko. Apesar da notícia, Moscou decidiu que irá prestar auxílio na preparação de quadros governamentais afegãos dos serviços de combate às drogas por meio de canais bilaterais de interação.

Quanto ao chamado “pacote de helicóptero”, os Mi-17 e Mi-35 permanecem sendo a base da Força Aérea afegã e, sem o seu componente aéreo-militar, o Exército afegão não conseguirá garantir a estabilidade no país, acredita o especialista. “Na base de treinamento em Novosibirsk estamos preparando mais um grupo afegão de técnicos de apoio terrestres para garantir apoio a esses helicópteros. Estamos convencidos de que o projeto tem demanda.”



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