Brasileiros resistem no fogo cruzado

Ao menos 35 vivem na Faixa de Gaza; outros 15 mil estão na área de alcance dos foguetes do Hamas


Daniela Kresch | O Globo

TEL AVIV — Eles estão dos dois lados do conflito. Brasileiros que vivem na Faixa de Gaza e em Israel sofrem na pele as consequências do violento embate que começou no dia 8 de julho e não parece ter horizonte de término. Na quarta-feira, o Itamaraty retirou nove brasileiros de Gaza, oito deles de uma só família, através da fronteira com o Egito. A operação foi complicada porque os funcionários da representação do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, que presta serviços a brasileiros nos territórios palestinos, não estão presentes em Gaza por questões de segurança. O comboio com os brasileiros teve que se dirigir sozinho até a fronteira.

Cerca de 35 a 40 brasileiros ainda continuam dentro da Faixa de Gaza. Um deles é o comerciante Omar El Jamal, de 62 anos. Ele chegou a pensar em deixar Gaza com a esposa e dois filhos pequenos, de 1 e 3 anos. Mas a esperança de um cessar-fogo levou Omar a desistir de abandonar a casa onde mora há sete anos. A trégua, no entanto, não deu certo e a violência continua, assim como as dificuldades do cotidiano numa região onde falta tudo.

— Se as coisas continuarem como estão, acho que vou realmente voltar ao Brasil — disse Omar ao GLOBO. —Ontem os bombardeios foram muito fortes, e as crianças não conseguiram dormir por causa do barulho das explosões. Há quatro dias não temos água em casa, só há eletricidade oito horas por dia e começa a faltar comida nos supermercados.

Nascido na Cidade de Gaza, Omar foi morar no Rio de Janeiro aos 21 anos. Ficou em Copacabana por 33 anos, onde se casou com uma brasileira e teve uma filha, hoje com 18 anos. Com a separação da primeira mulher, no entanto, voltou para Gaza há sete anos. Hoje, não sabe mais se fez a melhor opção.

Do lado israelense, nenhum brasileiro pediu para sair do país. Mas alguns dos mais de 15 mil brasileiros em Israel estão na linha de tiro do Hamas. Se alguém está próximo a Gaza é a pernambucana Gisela Berenstein Ajzman, de 45 anos. Ela mora há um ano e meio no Kibutz Zikim, que fica na divisa entre Israel e o território palestino. Foi lá que mergulhadores palestinos tentaram invadir Israel, antes de serem mortos pela Marinha israelense. Nesse dia, Gisela estava em casa sozinha com os quatro filhos.

— Ficamos com muito medo. Apagamos as luzes da casa, trancamos as portas e fechamos as janelas — conta Gisela. — Convivemos diariamente com alertas de queda de foguetes. Só temos 15 segundos para nos proteger. Não tomamos banhos longos, não deixamos as crianças brincarem no quintal, estamos sempre de prontidão e nervosos.

Outro morador do Sul do país é o brasileiro Jacques Klapp, de 29 anos, que teve a casa, na cidade de Ashdod, danificada por um míssil Grad, de fabricação russa. O cachorro, que estava em casa, foi ferido por um estilhaço e equipamentos como computador e televisão foram destruídos.

A 70 km da fronteira, na cosmopolita Tel Aviv, a rotina dos brasileiros em Israel também é de nervosismo. Na terça-feira, Yael Kehat, filha de brasileiros de 44 anos, estava almoçando num restaurante quando tocou a sirene alertando para o lançamento de um míssil. Um estilhaço caiu a dez metros de onde Yael estava.

— Escutei um "bim" fortíssimo de metal caindo no chão. Nunca escutei algo assim. O estilhaço quase caiu na cabeça de um menino, chegou a tocar no cabelo dele - conta Yael, ainda aflita.



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