'País não podia permitir que Crimeia fosse tomada por Otan'

Encontro bianual de presidente russo com diplomatas em Moscou teve como foco a crise ucraniana. Pútin falou também sobre o fortalecimento de parcerias na Ásia e na América Latina.


Iúri Paniev, especial para Gazeta Russa

Entre os dias 30 de junho e 3 de julho, Moscou recebeu o 7o Encontro de Embaixadores e Representantes Permanentes da Federação Russa. O evento principal do fórum foi o discurso do presidente Vladímir Pútin, que, de acordo com a Constituição, é responsável pela definição da política externa do país.

Seguindo o tema principal do evento, “Proteção dos interesses nacionais e reforço das bases de cooperação internacional”, Pútin falou sobre política global em meio a antigos e novos conflitos, como no caso da Ucrânia.

“Qual a reação que os nossos parceiros esperavam de nós perante o desenrolar dos fatos na Ucrânia?”, questionou o presidente. Na sequência, ele mesmo respondeu: “A Rússia não podia deixar os cidadãos da Crimeia e de Sevastopol entregues à vontade dos militantes nacionalistas e radicais. O país não podia permitir que lhe fosse limitado o acesso ao mar Negro, e que a Crimeia e Sevastopol, cobertas pela glória de combate de soldados e marinheiros russos, se enchessem de tropas da Otan”.

Tal argumento foi usado pelo presidente para anunciar que a Rússia continuará defendendo vigorosamente os direitos dos russos e dos seus compatriotas no exterior. Segundo Pútin, a situação na Ucrânia é resultado da “notória política de contenção” conduzida pelos países ocidentais.

Às vésperas da reunião, Pútin propôs, em uma conversa telefônica com os líderes da Alemanha, França e Ucrânia, que o uso de força militar fosse interrompida e que as negociações com as milícias no sudeste do país vizinho fossem perpetuadas.

O presidente ucraniano recém-eleito, Petrô Porochenko, ordenou, contudo, a retomada das hostilidades em grande escala. “Até então, Porochenko não tinha qualquer relação direta com as ordens dadas para início da ação militar. Agora ele assumiu essa responsabilidade na íntegra. Não só em nível militar, mas também político”, disse Pútin.

Multipolarização

Os conflitos no Oriente Médio, África e Europa são, segundo o presidente russo, uma evidência dos crescentes protestos contra a imposição de um modelo de mundo unipolar. Pútin defendeu que direitos iguais e respeito mútuo sejam a base das relações entre os Estados.

Para mostrar que o país pretender reforçar a cooperação mutuamente benéfica com outros países, o líder russo citou a criação da União Econômica da Eurásia, com a Bielorrússia e o Cazaquistão. Apesar da oposição política, Moscou também pretende continuar a desenvolver as relações comerciais com a União Europeia, especialmente no setor de energia, que implica o desenvolvimento da infraestrutura de gás e do projeto South Stream para fornecimento de gás natural através do mar Negro.

O diálogo construtivo com os Estados Unidos também está na mira do Kremlin, mesmo que “volta e meia sejam lançadas em nossa direção observações abertamente em tom de ultimato e repreensão”, acrescentou o presidente.

Enquanto as relações com o Ocidente permanecem tensas, a Rússia está se empenhando para fortalecer a cooperação com a Ásia e América Latina. “É necessário fazer de tudo para reforçar a abrangente parceria e cooperação estratégica com a China”, afirmou o presidente. “Essa forte ligação diplomática russo-chinesa (...) é um exemplo de interação igualitária, respeitosa e produtiva do século 21.”

A reunião acontece a cada dois anos na capital. A tradição foi retomada em 2002, depois de uma interrupção de 16 anos.



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