Planos militares nipônicos preocupam China

As possíveis consequências da decisão do gabinete de Shinzo Abe sobre o direito do Japão à autodefesa coletiva continuam a ser analisadas nos países da Região Asiática do Pacífico (RAP), e antes de tudo na China.

Andrei Karneev | Voz da Rússia


Os peritos chineses consideram que a principal causa da revogação pelo Japão da proibição da autodefesa coletiva é o agravamento das contradições sino-japonesas.

Semelhante ponto de vista, por exemplo, foi expresso por Yuan Yang, funcionário do Setor de Estudos Estrangeiros da Academia de Ciências Militares da China. Ele sublinhou que o Japão considera ser necessáro conter a China e um dos objetivos da revogação da proibição da autodefesa coletiva consiste nisso. Mais, os analíticos chineses veem na última decisão do gabinete nipónico, como eles escrevem, forte influência do “fator de uma terceira parte”. Claro que aqui se tem em vista que Tóquio, na sua política de defesa, se orienta para os interesses do seu principal aliado político-militar: os EUA. Embora a não autonomia da política japonesa na China tenha sido sempre exagerada um tanto ou quanto, há uma parte de verdade nessas conclusões.

Na base da estratégia do regresso americano à Ásia estão motivos de contenção do desenvolvimento da China, para que uma potência regional e ascensão não possa, durante o maior período de tempo possível, ameaçar a superioridade político-militar dos EUA na RAP.

Segundo Yuan Yang, “os EUA não querem estar na linha da frente, esperam utilizar as contradições e os atritos entre a China e o Japão para criar dificuldades ao desenvolvmento da primeira. Nisso consiste o mais importante interesse estratégico da América do Norte”.

Por isso, a China está cada vez mais preocupada com a possível transformação das forças nipônicas de autodefesa, depois das limitações à sua ativiade serem levantadas.

Liu Jiangyun, vice-diretor do Instituto de Estudo de Relações Interacionais Modernas da Universidade Tsinghua de Pequim, sublinhou que a tentativa de ações conjuntas com outros países ou blocos é o seguinte passo muito perigoso depois da revogação pelo Japão da proibição da autodefesa coletiva.

Também numerosos peritos russos estão de acordo que o desenvolvimento do potencial militar do Japão é um sério desafio para a China. Não foi por acaso que o governo de Abe anunciou agora a possibilidade de levantar a longa proibição da autodefesa coletiva, declarou à Voz da Rússia Dmitry Evstafiev, analista político russo, professor da Escola Superior de Economia. Do ponto de vista do resultado dos conflitos com a China e a Coreia do Sul, o Japão é, na região, uma espécie de pária e não tem muitas possibilidades de continuar a ser uma força significativa, ou, pelo menos, de demonstrar isso.

"Sem dúvida que a decisão do Japão é um desafio para a China. Um desafio que foi lançado não no momento mais favorável para a China, quando esta tem necessidade de diálogo constante com os EUA sobre questões económicas. Hoje, Pequim está, de fato, privado de possibilidade e quaisquer ações duras em relação aos vizinhos, porque não quer e não está pronto para o confronto direto com a máquina militar dos EUA".

Deve assinalar-se que as autoridades da China reagiram de uma forma muito mais suave à decisão do governo japonês do que os peritos chineses. “Pedimos ao Japão que não atente contra a soberania da China e os seus interesses na esfera da segurança”, declarou Hong Lei, representante do MNE da China. O diplomata acrescentou que Pequim fez, por mais de uma vez, chegar a Tóquio a sua preocupação devido à alteração da atitude do Japão em relação à sua defesa.

Pelos vistos, não se trata apenas da China não desejar agudizar ainda mais a já “quente” situação no mar da China Oriental. Claro que a direção chinesa sabe que, no próprio Japão, a decisão do governo não foi acolhida, suavemente falado, de forma unânime. Nos últimos dias, a popularidade do governo do Japão, pela primeira vez depois da formação do gabinete de Abe em dezembro de 2012, caiu até aos 47,8%. Segundo estudos sociológicos, cerca de 54% dos inquiridos manifestaram-se contra o reconhecimento do direito de emprego da autodefesa coletiva, o que, no futuro, permitirá utilizar as forças armadas do país no estrangeiro.

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