Washington como pai do escudo antimíssil norte-coreano

Num polígono norte-coreano perto do mar Amarelo termina a preparação para o lançamento de um míssil de longo alcance. Se ele tiver êxito, será o mais importante passo para a transformação da Coreia do Norte numa verdadeira potência com mísseis nucleares.


Andrei Lankov | Voz da Rússia

E deve-se “agradecer” aos Estados Unidos por isso.

Desde o fim de 1990 que a Coreia do Norte realizou uma série de lançamentos experimentais de mísseis de longo alcance. A maioria fracassou. Porém, em dezembro de 2012, semelhante foguete fez, pela primeira vez, um voo bem sucedido e transportou para o espaço um satélite artificial.

Pyongyang sublinha que se trata de um programa de investigação científica, mas as publicações na imprensa local e as declarações de dirigentes militares não deixam dúvidas de que esse programa tem, principalmente, objetivos militares. Não foi por acaso que Hwang Pyong-so, dirigente da Direção Política do Exército Coreano, declarou que a Coreia do Norte tem meios para atacar o território dos EUA.

O mais provável é que a Coreia do Norte não tenha tais meios por enquanto, mas o país trabalha ativamente para que eles apareçam o mais depressa possível.

A transformação da Coreia do Norte numa verdadeira potência com mísseis nucleares provoca fortes preocupações no mundo. Mas a via da solução desse problema esbarra na posição dura e sem compromisso dos EUA.

Há vários anos que Washington realiza a chamada “política de paciência estratégica”. Segundo ela, os americanos declaram que as conversações com Pyongyang só serão possíveis se a Coreia do Norte começar a pôr fim ao seu programa de mísseis nucleares.

Estas exigências não são realistas. A Coreia do Norte não renunciará de forma alguma às armas nucleares. Disso são prova também as declarações dos diplomatas norte-coreanos e toda a lógica do comportamento da Coreia do Norte. Não têm fundamento as esperanças em que Pyongyang decida sacrificar as armas nucleares em prol do melhoramento da situação econômica.

Primeiro, a economia do país melhorou consideravelmente. Segundo, mesmo que ela fosse a mesma de 10-15 anos atrás, o principal fardo dos problemas econômicos seria suportado pelo povo, que não tem a menor possibilidade de influir na política do governo.

Não obstante, há possibilidade de chegar a acordo. Os representantes norte-americanos deram várias vezes a entender que estão prontos a congelar o programa nuclear, bem como a suspender a fabricação de mísseis balísticos intercontinentais, se a Coreia do Norte receber uma farta recompensa dos parceiros de conversações e, em primeiro lugar, dos EUA. Não há nada de surpreendente nessa abordagem: na comunidade internacional há pouco quem faça hoje gratuitamente e os diplomatas norte-coreanos souberam sempre como arrancar dinheiro dos parceiros.

Porém, muitos nos EUA ficam irritados com a própria ideia de que se tem de pagar à Coreia do Norte pelo congelamento do seu programa nuclear. É preciso dizer que nessas considerações há um parte de verdade. Porém, não se pode esquecer que a política real raramente é uma opção entre o bom o e o melhor, tratando-se mais frequentemente da opção entre o mau e o muito mau.

A continuação das tentativas de ignorar a Coreia do Norte significará que os cientistas locais continuarão a trabalhar no aperfeiçoamento de armas nucleares e de meios de seu transporte. Mais tarde ou mais cedo, eles conseguirão realizar o sonho da direção e criar mísseis balísticos intercontinentais, capazes de atingir alvos nos EUA e em muitos outros estados. É impossível fazer o processo andar para trás. Ele pode ser apenas atrasado ou suspenso.



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