Exército ucraniano usa trégua para reforçar poderio militar

O presidente da Ucrânia Piotr Poroshenko admitiu que tem de resolver o conflito em Donbass por paz. Mas apesar dos apelos da ONU e da OSCE a não usar o regime de cessar-fogo para obter vantagem militar, o exército ucraniano está realizando ativamente um processo de rearmamento e fortalecendo suas posições no leste da Ucrânia.


Natalia Kovalenko | Voz da Rússia

As autoridades de Kiev reconheceram que o plano de paz não lhes agrada, mas elas não têm outra escolha. “Não há ilusões: nós não conseguiremos entrar com alguns batalhões de militares em Lugansk e Donetsk e resolver a situação. Simplesmente não nos deixarão fazê-lo”, disse o presidente Piotr Poroshenko em entrevista a emissoras de televisão locais.

E isso não é apenas uma tentativa de apaziguar o público beligerante antes das eleições parlamentares agendadas para 26 de outubro, acredita o analista político Viktor Kuvaldin:

“O presidente Poroshenko disse a verdade. Obviamente, as elites de Kiev, incluindo ele próprio, gostariam de acabar com o conflito no Sudeste pela força, derrotar as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk. Mas eles simplesmente não estão em condições de fazê-lo. O Exército ucraniano não foi capaz de conseguir uma vitória militar neste conflito.

Foi isso que admitiu Poroshenko. A OSCE, a ONU e todas as outras organizações internacionais sociais e de direitos humanos devem tomar em conta esta declaração muito importante. Ela mostra que Kiev por enquanto não está disposto a resolver o conflito na Ucrânia voluntariamente por meios políticos, pacíficos, que ele, em essência, está se preparando para uma nova rodada de confronto militar”.

O fato de que o exército ucraniano está se armando ativamente, não é segredo para ninguém. Na semana passada, o presidente Poroshenko fez mesmo uma turnê transatlântica: visitou o Canadá e os Estados Unidos pedindo equipamentos militares pesados e outras armas. No entanto, ele teve que se satisfazer com ajuda financeira para reformatar o sistema de segurança e com um lote de capacetes.

Mas Kiev não está renunciando a suas ideias. As fábricas militares locais estão operando a plena capacidade. Os blindados acabados de construir são imediatamente enviados para o leste do país. Lá está decorrendo um reagrupamento em larga escala das forças armadas da Ucrânia, como se não houvesse nenhum acordo de paz.

Em geral, parece que as autoridades de Kiev estão vivendo em dois mundos paralelos. No sábado, em Minsk (capital da Bielorrússia), ocorreram novas consultações entre a Ucrânia e as repúblicas autoproclamados de Donbass mediadas pela OSCE. O resultado foi um memorando detalhando os acordos alcançados em 5 de setembro sobre o cessar-fogo no leste da Ucrânia. O primeiro parágrafo do documento reafirma que o cessar-fogo deve ser mútuo.

Além disso, o Exército ucraniano e os militantes das repúblicas autoproclamadas devem permanecer dentro dos territórios que ocupavam em 19 de setembro. As partes devem recuar da fronteira resultante a artilharia a uma distância de 15 km, e os meios de fogo de maior alcance devem ser recuados ainda mais.

Assim é criada uma zona de segurança de 30 quilômetros. Sobre esta zona são proibidos todos os voos, até mesmo de aparelhos não tripulados, exceto aqueles que pertencem à missão de observação da OSCE. Os lados devem eliminar os campos minados existentes e não criar novos.

O memorando foi assinado por funcionários autorizados. O documento foi aprovado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. O secretário-geral da OSCE Lamberto Zannier salientou que as partes em conflito no leste da Ucrânia não devem usar o cessar-fogo para obter vantagem militar. Mas Kiev tem sua visão dos acontecimentos.

No domingo, o presidente do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia Andrei Lysenko disse que o primeiro parágrafo do memorando é impossível de cumprir, e por isso não vale a pena prestar atenção aos restantes. E as tropas ucranianas, segundo ele, continuarão a se reagrupar de acordo com os atuais planos táticos e estratégicos do país.



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