Kremlin prevê 33% de aumento para verba de Defesa em 2015

Valor destinado ao setor militar vai corresponder a um quinto do orçamento federal. Responsáveis pela pasta garantiram, contudo, crescimento do setor no primeiro semestre deste ano e anunciaram a hipótese de privatizar uma parte das usinas militares modernizadas. Diante de subinvestimento em áreas sociais, observadores questionaram o aumento de verba para fins militares.


Aleksêi Lossan | Gazeta Russa

De acordo com os documentos que acompanham o projeto de lei sobre o orçamento federal de 2015 a 2017, entregue pelo governo à Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento da Rússia), O aumento de 33% nos gastos com Defesa chegará a US$ 82,7 bilhões, e fará com que a participação dessa despesa no orçamento do país cresça de 17,75% para 21,2%.

“As despesas com a Defesa estão aumentando constantemente. Se em 2011 correspondiam a 2,8% do PIB, em 2016 aumentarão para 3,8%”, frisa Aleksandr Deriuguin, diretor do Centro das Pesquisas das Reformas Regionais, junto da Academia Russa da Economia Nacional e Função Pública. A título de comparação, o gasto com Defesa nos EUA corresponde a 4,4% do PIB; e na Grã-Bretanha, a 2,5%.

“Em valores absolutos, os Estados Unidos são líderes absolutos: cerca de US$ 600 mil milhões foram direcionados para a Defesa apenas em 2013, o que é superior ao programa russo de modernização militar de 10 anos. Sendo assim, podemos dizer que a Rússia está dentro dos limites das tendências globais”, defende Anton Soroko, analista da holding de investimentos Finam.

O presidente russo, Vladímir Pútin, comunicou também, em discurso no Fórum Anual de Investimentos “Russia Calling”, que cerca de US$ 75,5 mil milhões serão destinados à modernização das usinas de indústria militar, sujeitas a privatização no futuro. “Algumas empresas de Defesa ou uma parte de ativos das mesmas poderão ser vendidas no mercado, criando condições favoráveis para o desenvolvimento”, declarou.

O chefe do Estado acrescentou que, hoje em dia, 25% da produção das unidades industriais militares constituem produtos de uso civil. “Hoje em dia, a produção civil é de 25% de todo o volume de produção”, acrescentou Pútin. Exemplo disso é a empresa Aviões Civis Sukhôi, que faz parte da holding Sukhôi, e fabrica os modelos Superjet 100, com capacidade de voo entre 2.500 e 6000 km.

O aumento de despesas russas com a Defesa ocorre no âmbito de um amplo programa de modernização militar, que prevê o investimento de US$ 503 bilhões. O valor exorbitante provocou, inclusive, a saída do ex-ministro das Finanças, Aleksêi Kudrin, em 2011, por concordar com o montante destinado à Defesa.

Escolhas questionáveis

Os especialistas militares veem o aumento das despesas relacionadas com a Defesa de maneiras diferentes. “Por causa do aumento brusco de gastos, existe atualmente um déficit orçamental. Em nível regional, outros investimentos acabam sendo reduzidos”, avalia Deriuguin. Segundo ele, pesquisas que tinham como objetivo determinar a influência dessas despesas sobre o PIB constataram a ausência de resultados positivos para a economia.

“A longo prazo, é necessário investir em Educação e Saúde Pública”, ressalta Anton Soroko. “O aumento de gastos com o complexo militar industrial está levando à redução dos investimentos orçamentais nas áreas sociais”, acrescenta o analista. Mas o governo federal mantém uma opinião diferente.

Segundo dados do Ministério da Indústria, a encomenda estatal no ramo da Defesa proporcionou a alta dos índices industriais no primeiro semestre de 2014. De janeiro a agosto, “a fabricação de embarcações, aeronaves e naves espaciais, bem como de outros meios de transporte aumentou em 26,9%”.

O mesmo segmento industrial se estenderia à produção de trens, aviões, helicópteros, submarinos, etc., ou seja, uma parte considerável dos meios de transporte adquiridos pelo governo e pelas empresas estatais, incluindo meios técnicos militares.

Nesse contexto, o crescimento da produção industrial no primeiro semestre foi de 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o aumento do PIB foi quase duas vezes menor, na faixa de 0,8%.



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