Estados Unidos empurram China para confronto com Japão

Washington provoca Pequim a um confronto com Tóquio, para aumentar a presença militar estadunidense na Ásia, usando o pretexto de proteger os interesses dos seus aliados.


Natalya Kasho | Sputnik

Foi justamente assim que especialistas russos comentaram a notícia de os EUA terem proposto ao Japão patrulhar conjuntamente as rotas de comércio no mar da China Meridional. Através dessas rotas, a China recebe a maior parte do petróleo procedente do Oriente Médio e da África. Uma forte reação chinesa à declaração dos EUA será inevitável, estimam os especialistas.

Navios japoneses
© AFP 2015/ KAZUHIRO NOGI / AFP
Segundo o Ministro da Defesa japonês, Gen Nakatani, o comando militar do país vai estudar a proposta norte-americana. No entanto, ele admitiu que uma resposta favorável de Tóquio poderia desagradar a Pequim.

Seja como for, ao propor a Tóquio o patrulhamento conjunto, Washington está perseguindo seus próprios objetivos. É que na prática não só a China, mas também o Japão, recebem os principais fluxos de petróleo importado através do mar da China Meridional. Essa é a opinião compartilhada pelo diretor adjunto do Instituto dos EUA e Canadá, Pavel Zolotaryov:

"Os norte-americanos têm inventado uma boa desculpa para ampliar sua presença militar na região. Eles nem tentam esconder que a sua principal preocupação tem a ver, sobretudo, com a China. É o que prima em todos os documentos deles. Inclusive o sistema de defesa antimísseis regional, se os lermos atentamente, é articulado por eles para neutralizar o potencial de mísseis chineses. Isto é claro e evidente, apesar de os estadunidenses associarem a sua DAM asiática principalmente com a Coreia do Norte".

"Se soube que o chefe da inteligência dos EUA, antes de ter renunciado a seu cargo, chamou a atenção para a crescente atuação chinesa na Ásia, incluindo na resposta às forças da Guarda Costeira japonesa nas zonas de litígio".

O governo de Shinzo Abe se propõe aprovar parlamentarmente uma decisão que conceda às forças armadas do Japão o direito de efetuar operações conjuntas com os EUA muito para além do arquipélago japonês.

De acordo com a Constituição Pacifista, neste momento o Japão não tem esse direito. A proposta estadunidense de policiamento conjunto das vias militares e comerciais no mar da China Meridional empurra, pura e simplesmente, o Japão para a revisão de sua Constituição. Com isso se calcula envolver o Japão para fazer frente ao aumento da influência chinesa na região, acredita o diretor do Centro de Estudos Japoneses, Valery Kistanov:

"Os EUA enfrentam na região da Ásia-Pacífico só um problema, e esta dor de cabeça tem origem no crescimento do poderio militar e econômico da China. É um desafio para o poder norte-americano, a sua dominação na região. Portanto, tal proposta, se os norte-americanos a fazem, tem a ver, antes de tudo, com a dissuasão da China, isso não suscita dúvidas.

É uma proposta provocativa, e não só por excitar mas também por conter provocação. Ela persegue o objetivo de provocar um confronto direto entre o Japão e a China, munindo os EUA de um novo pretexto para reforçar a sua presença na região a fim de, alegadamente, proteger seu aliado. A China irá se opor duramente a esse curso dos acontecimentos. Pequim, com certeza, vai se lembrar em seguida da agressão japonesa, dos desastres e danos que essa trouxe a países asiáticos. Tanto mais que este é o ano do 70º aniversário do fim da II Guerra Mundial. Na China, esta gesta é vista sob a óptica da vitória na guerra contra o Japão militarista".

A presença da Marinha dos EUA no mar da China Meridional será uma perturbação forte no relacionamento entre os dois países. Pequim não descarta que, em caso de agravamento das relações bilaterais, Washington tente exercer pressão militar sobre a China precisamente nesta área. Em particular, com recurso ao bloqueio das vias marítimas usadas para transportar petróleo para a China.

Entretanto, o aparecimento de navios de guerra japoneses junto a belonaves da 7ª Frota dos EUA será capaz de colocar a China em uma situação complicada. E se os acontecimentos evoluírem dessa forma, a reação dos militares chineses poderá levar a sérias consequências.


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