Russos apoiam bombardeios contra o Estado Islâmico

Aprovação em pesquisa do Centro Levada ocorre menos de um mês depois de russos reprovarem ataques aéreos em estudo do mesmo instituto privado de opinião pública.


MARIA AZÁLINA | GAZETA RUSSA

Apenas dois dias após encontro com seu homólogo norte-americano na Assembleia Geral da ONU, o presidente russo Vladímir Pútin recebeu permissão do Conselho da Federação (Senado russo) e iniciou, no próprio dia 30 de setembro, ataques aéreos contra posições do EI (Estado Islâmico) na Síria.


Rússia iniciou ataques contra o EI no país em 30 de setembro. Foto:Dmitry Vinogradov / RIA Nóvosti

Desde então, Estados Unidos e União Europeia vêm afirmando que Moscou está atacando posições da oposição síria não afiliada ao EI, mas sem apresentar provas. Apesar das acusações, o discurso de Pútin ganha apoio entre os russos.

Dias antes do início das operações, a opinião dos cidadãos, de acordo com o maior instituto privado de pesquisas da Rússia, o Centro Levada, era contraditória: a maior parte era contra as incursões na Síria, mas não queria que a Rússia recebesse refugiados, e concordava que Moscou apoiasse o regime de Bashar al-Assad. Já em pesquisa do mesmo instituto entre 2 e 5 de outubro, os respondentes passaram a ver no EI uma ameaça que justifica ataques aéreos, tanto pela Rússia (72%), como pela França (63%). A porção dos russos contrária à participação do país no conflito caiu para 14%, enquanto outros 14% não souberam responder. A pesquisa foi realizada com 1.600 russos, maiores de idade, em 46 unidades federativas do país.

“Novo Afeganistão”

Ainda contraditoriamente, apenas 47% disseram que a Rússia deveria apoiar Bashar al-Assad na luta contra o EI e a oposição, enquanto 46% dos respondentes diziam que o conflito resultaria em um “novo Afeganistão” na Síria.

“O Afeganistão vive uma guerra civil até hoje, e foi o movimento dos talibãs que abasteceu o planeta de radicais islâmicos, fundamentalistas e terroristas internacionais. Al Qaeda, Bin Laden, combatentes do Cáucaso do Norte: todos têm raiz afegã”, escreveu em um jornal russo o articulista Evguêni Kisseliov, que foi tradutor militar no país persa.

O Kremlin, porém, afirma que a campanha é necessária justamente para fundamentar a resolução política da crise. “O caminho da resolução política é o objetivo final das ações da Rússia. Da mesma maneira, esse é o objetivo final e único de toda a comunidade internacional, e aqui há unanimidade absoluta”, anunciou o porta-voz do presidente, Dmítri Peskov.

“Nossos parceiros europeus e norte-americanos dizem estar lutando contra o terrorismo, mas não vemos resultados concretos. Além disso, foi encerrado nos EUA o programa de preparação do chamado Exército Livre da Síria. O plano inicial era preparar 12 mil homens. Depois disseram que preparariam 6.000. No final, acabaram treinando um total de 60 combatentes, dos quais apenas quatro ou cinco lutam realmente contra o EI”, disse ainda o presidente Pútin durante entrevista ao canal estatal Rossiya-1 no domingo (11).

Recursos americanos

O governo russo também tem rebatido as acusações dos EUA de que seu Exército está mirando a oposição moderada.

Mas, em meio às declarações, alguns grupos de rebeldes pediram recursos de defesa antiaérea ao governo-norte americano, como mísseis terra-ar, de acordo com o jornal “Washington Post”.

Na segunda-feira (12), o canal CNN afirmou ainda que o país já teria enviado 12 toneladas de munições aos rebeldes da Coalizão Síria-Árabe, na província de Al-Hasakah, no norte do país.

“Mas eles não irão entregar [mísseis terra-ar] Stinger à oposição moderada porque, nesse caso, Assad receberia [armamentos correspondentes] S-300”, acredita o cientista político Andrêi Suchentsov.

Para ele, os EUA e seus aliados não fornecerão sistemas de defesa aérea portáteis (Manpads, na sigla em inglês) nem outros meios de defesa aérea aos adversários do presidente Bashar al-Assad porque a Síria possui um papel secundário nos planos dos norte-americanos.

Além disso, Suchentsov relembra que, após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, as autoridades norte-americanas tiveram que desembolsar consideráveis somas de dinheiro para comprar de volta os armamentos concedidos aos mujahidin, porque temiam seu uso contra o próprio país.

Apesar de os analistas rejeitarem a ideia de fornecimento norte-americano, eles ressaltam que a Arábia Saudita e a Turquia já enviaram Manpads aos opositores sírios e que alguns desses sistemas podem também ter sido tomados na Líbia e no Iraque.

“Porém, eles são ineficazes contra os modernos aviões de ataque, como o Su-34”, diz o professor da Escola Superior de Economia de Moscou Dmítri Ofitsêrki-Bélski.


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