O maior atentado da história da Somália

País africano, que há décadas convive com guerra e caos, descreve situação como "desastre nacional" após ataque matar ao menos 300 e ferir outras centenas. Com hospitais lotados, vítimas são enviadas para o exterior.


Deutsch Welle


O número de mortos na explosão de um caminhão-bomba na capital da Somália, Mogadíscio, no último sábado (14/10), aumentou para ao menos 300 nesta segunda-feira (16/10).


Civis evacuam a rua KM4 em Mogadíscio após caminhão-bomba explodir e deixar 300 mortos
Caminhão explodiu na rua KM4 no distrito de Hodan, em Mogadíscio, causando a morte de 300 pessoas

O ataque, atribuído à milícia extremista Al Shabaab, aliada da Al Qaeda, é o maior da história do país africano e o mais mortal ocorrido no mundo em anos.

De acordo com o médico Abdulkadir Adam, do serviço Aamin de Ambulância, mais pessoas teriam morrido em decorrência de seus ferimentos nas últimas horas. Números oficiais do governo confirmam 276 mortes e mais de 300 feridos.

O caminhão, carregado com centenas de quilos de explosivos, atingiu um cruzamento movimentado em Mogadíscio no último sábado. O local fica frequentemente apinhado com carros, ônibus e táxis e é sede de edifícios do governo, lojas e restaurantes.

Há suspeitas de que o Hotel Safari, próximo ao local da explosão, era um dos possíveis alvos do atentado, já que oferece acomodações a somalis que retornaram do exterior, bem como a funcionários do governo e jornalistas.

Antes de detonar a bomba do caminhão, o autor do atentado teria dirigido em alta velocidade numa rua da capital somali, atropelando motocicletas e carros e desviando de alguns veículos presos no trânsito. Forças de segurança chegaram abrir fogo contra o caminhão, mas não conseguiram atingir o motorista.

O Al Shabaab, que em 2012 se filiou à rede internacional da Al Qaeda, controla parte do território no centro e no sul do país e tenta instaurar um Estado islâmico wahabista na Somália.

O país vive em estado de guerra e caos desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado, o que deixou o país sem um governo efetivo e em mãos de milícias radicais islâmicas e senhores da guerra que respondem aos interesses de clãs.

Desastre nacional

Também nesta segunda-feira, começaram a ser realizados os funerais das vítimas do ataque, e as autoridades esperam que o número de mortes aumente ainda mais. Segundo uma declaração oficial do governo, pelo menos 111 corpos que ficaram irreconhecíveis após queimaduras causadas pela explosão já foram enterrados.

O governo da Somália culpa o grupo extremista islâmico Al Shabaab pelo ataque, cuja responsabilidade não foi reivindicada. O Al Shabaab, que controla áreas no sul da Somália e quer estabelecer um estado rigorosamente islâmico no país, não comentou as declarações.

Porém, o grupo frequentemente ataca áreas de alto nível em Mogadíscio. No início deste ano, o Al Shabaab prometeu aumentar os atentados depois que o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o recém-eleito líder da Somália, Mohamed Abdullahi Mohamed, anunciaram novos esforços conjuntos contra o grupo.

Mohamed declarou três dias de luto e se juntou a milhares de pessoas que responderam a um desesperado pedido dos hospitais para doação de sangue às vítimas.

Também nesta segunda-feira, autoridades afirmaram que, enquanto começa a chegar ajuda internacional às vítimas, mais de 70 pessoas feridas estavam sendo transportadas de avião para a Turquia.

O ministro da Informação somali, Abdirahman Osman, disse que outros países, incluindo o Quênia e a Etiópia, já ofereceram enviar ajuda médica em resposta ao que o governo em Mogadíscio chamou de "desastre nacional".

Hospitais sobrecarregados

Sobrecarregados, os hospitais em Mogadíscio lutam para atender outras vítimas gravemente feridas, muitas delas com queimaduras que as deixaram irreconhecíveis.

No hospital Medina, médicos exaustos lutavam para manter os olhos abertos, enquanto os gritos das vítimas e das famílias recém-enlutadas ecoavam nos corredores.

O ataque foi um dos piores do mundo nos últimos anos, tratando-se de um dos atentados mais mortíferos na África Subsaariana, superando o ataque à universidade de Garissa, no Quênia, em 2015, e as explosões no Quênia e na Tanzânia em 1998.

Mogadíscio, uma cidade que se acostumou com explosões mortíferas pela milícia Al-Shabaab, se surpreendeu com a força do atentado. A explosão do caminhão acabou com as esperanças de recuperação de um país empobrecido e fragilizado por décadas de conflito, reacendendo dúvidas sobre a habilidade do governo de garantir a segurança na cidade litorânea de mais de dois milhões de habitantes.

Os Estados Unidos condenaram a explosão, dizendo que "ataques covardes como este revigoram" o compromisso americano "de apoiar os os parceiros somalis e da União Africana para combater o flagelo do terrorismo".

O governo dos EUA ainda divulgou uma foto de seu encarregado de negócios na Somália doando sangue.

Neste ano, o Exército americano aumentou o número de ataques com drones e outros esforços contra o Al Shabaab, que também combate os militares somalis e mais de 20 mil tropas da União Africana (UA) na Somália.

A explosão aconteceu dois dias depois que o líder do Comando dos EUA para a África esteve em Mogadíscio para um encontro com o presidente somali, e dois dias depois que o ministro da Defesa somali, assim como o chefe das Forças Armadas, se demitiram por razões não divulgadas.


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