Macri torpedeia chance de sua indústria construir OPVs para a Armada Argentina

Em seu mais recente gesto em desfavor das Forças Armadas, o governo Mauricio Macri acaba de comunicar ao Congresso Argentino que desistiu de encomendar à indústria naval argentina a construção de navios-patrulha oceânicos.


Por Roberto Lopes | Poder Naval

O plano constava da proposta da companhia francesa Naval Group (antiga DCNS) de oferecer quatro patrulheiros oceânicos Tipo L’Adroit, de 87 m de comprimento e 1.450 toneladas de deslocamento, aos argentinos: o primeiro fabricado na França e os demais em algum estaleiro da área de Buenos Aires.


OPV L’Adroit visto por bombordo | DCNS

A notícia do comunicado da Casa Rosada (sede do Executivo Argentino) pegou de surpresa os chefes navais locais, mas fez inteiro sentido com o silêncio constrangedor de Macri diante da oferta do governo da Coreia do Sul, apresentada um ano atrás, de financiar a construção de um navio de assalto anfíbio classe Makassar no Astillero Río Santiago, sediado na periferia da capital argentina.

Entre o fim deste ano e o início de 2019 Macri presidirá a entrega à Marinha de duas lanchas de Instrução para Cadetes (LICA), de 250 toneladas, mas esses barcos não representam iniciativa sua. Eles foram contratados no último ano da Era Cristina Fernández de Kirchner…

Os franceses pediram cerca de 300 milhões de dólares pelos quatro patrulheiros classe L’Adroit fabricados em conjunto pelas indústrias navais da França e da Argentina. Na argumentação encaminhada aos parlamentares pelo Jefe de Gabinete de Ministros de la Nación Argentina, Marcos Peña – um cientista político de 41 anos –, esse custo é esmiuçado e considerado alto demais.

Peña historia o tormentoso caminho da indústria e dos militares para obter navios-patrulha de alto mar, e dá a visão atual da Casa Rosada sobre o assunto:

El proyecto se inició en el año 1994, explorando todas las alternativas de provisión local plausibles, sin éxito. Las tecnologías involucradas, la alta cantidad de elementos constitutivos que – por razones de escala – es impracticable producir localmente, hacen que la eventual ventaja de incluir trabajo argentino sea balanceada negativamente por los costos logísticos, por la complejidad de articular el traslado y nacionalización de gran cantidad de materiales, herramental específico y, finalmente, el desarrollo de capacidades cuya empleo continuado es poco probable. Tanto en el corto, como en el mediano plazo, la compra en el exterior es más favorable para el estado nacional.

(“O projeto começou em 1994, explorando todas as alternativas plausíveis de provisão local, sem sucesso. As tecnologias envolvidas, o elevado número de elementos constituintes que – por razões de escala – é impraticável para produzir localmente, tornam a eventual vantagem de incluir o trabalho argentino negativamente equilibrada pelos custos logísticos, pela complexidade de articular a transferência e a nacionalização de grandes quantidade de materiais, ferramentas específicas e, finalmente, desenvolvimento de capacidades cujo emprego continuado é improvável. Tanto no curto quanto no médio prazo, a compra no exterior [dos navios] é mais favorável para o estado nacional”.)

Alternativa 

Mês passado, a empresa Naval Group, diante da inação de Macri, já havia aberto para a Armada Argentina uma outra opção: (1) repassar aos sul-americanos o navio L’Adroit (construído entre maio de 2010 e junho de 2011), como forma de responder de imediato à carência dos argentinos por plataformas de vigilância em seu mar territorial, e (2) construir os outros três navios em território francês, admitindo sua quitação em um prazo generoso, de oito anos.

De acordo com informações extraoficiais que circulam na Câmara dos Deputados argentina, essa alternativa poderia gerar uma economia de aproximadamente 50 milhões de dólares (talvez um pouco mais) na compra dos navios L’Adroit.

Representantes da indústria naval espanhola Navantia em Buenos Aires já estão em pé de guerra.

Tendo ofertado o seu OPV classe Avante aos chefes navais argentinos, eles criticam não apenas a hipótese de o governo Macri ficar com o L’Adroit – um patrulheiro que já incorpora o desgaste de vir operando desde 2012. Os espanhóis também observam que os franceses convenceram os argentinos a abdicar de um canhão de proa de boa efetividade nos seus patrulheiros – como a peça de calibre 76 mm –, em troca de uma artilharia muito mais leve e limitada – de 20 mm ou 37 mm –, que só serve mesmo para intimidar saqueadores de navios mercantes (piratas de litoral) e barcos desarmados, engajados em pesca predatória.

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