EXCLUSIVO: A história da venda de 2 submarinos IKL brasileiros à Armada Argentina

O trágico desaparecimento do submarino argentino ARA San Juan nas águas gélidas do Atlântico Sul, na manhã de 15 de novembro de 2017 – com a inestimável perda de 44 vidas –, interrompeu bem mais do que as atividades rotineiras do Comando da Força de Submarinos, sediada na Base Naval de Mar del Plata, 410 km ao sul da capital Buenos Aires.


Por Roberto Lopes | Poder Naval

Foram freadas, também, diversas outras ações em desenvolvimento pelos almirantes argentinos, de forma a modernizar sua Força e preservar-lhe o grau de operacionalidade.

Submarino Tupi, tipo IKL 209
Submarino Tupi, tipo IKL 209

Um desses procedimentos sustados, administrados até ali sob uma capa de confidencialidade, foi o da negociação – em início de reta final – da venda de dois submarinos IKL-209/1400 brasileiros à Armada Argentina.

O assunto já recebera o sinal verde do Almirantado do Brasil e estava sob os cuidados do diretor-geral de Material da Marinha, almirante de esquadra Luiz Henrique Caroli.

O plano estudado em conjunto com os argentinos era simples: vender os navios da Força de Submarinos (ForSub) da Esquadra aos argentinos – cada um deles por algo em torno dos 60-70 milhões de dólares – e usar essa receita para providenciar a modernização de, pelo menos, dois outros IKL da flotilha brasileira restante.

Em 2016 a ForSub investigara a exequibilidade do plano de mandar dois de seus navios à Kiel, no Norte da Alemanha, para que eles fossem atualizados pela ThyssenKrupp Marine Systems (sucessora da Howaldtswerke-Deutsche Werft, ou HDW, fabricante dos submarinos), mas a ideia revelou-se, por seus custos, proibitiva: os alemães pediram 52 milhões de dólares para fazer o overhaul de cada um dos submersíveis do Brasil.

Do lado argentino a linha de ação adotada ano passado era a seguinte:
  • comprar os dois submarinos brasileiros, 15 ou 20 anos mais modernos que os IKL-209/1100 argentinos – o Salta, ainda na ativa, e o San Luis mantido na reserva no estaleiro Domecq Garcia (desfalcado de muitos componentes já transferidos ao Salta);
  • pagar uns 100 milhões de dólares para que eles fossem revitalizados na Alemanha; e
  • usar essas embarcações (1) para reativar um mínimo de capacidade de defesa submarina costeira e (2) proporcionar condições de melhor qualificação e adestramento aos militares interessados em se tornar submarinistas.
Antiguidade 

Os dois submarinos brasileiros que seriam transferidos aos argentinos nunca foram definidos formalmente, apesar de a Diretoria-Geral do Material da Marinha (DGMM) do Brasil ter estudado o assunto.

De acordo com a fonte do Ministério da Defesa que revelou o assunto ao Poder Naval, a seleção desses navios possivelmente recairia sobre as unidades mais antigas, Tupi e Tamoio.

A título de ilustração: o Tupi (S 30) foi comissionado pela ForSub em maio de 1989, enquanto o ARA Salta (S 31) foi incorporado pela Esquadra Argentina em Fevereiro de 1973 – mais de 16 anos antes…

Construído no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (e primeiro submarino construído no Brasil), o Tamoio (S 31) foi comissionado em julho de 1995, enquanto o San Luis (S 32) começou a operar em maio de 1974, mais de 20 antes…

O almirante Caroli chegou a planejar uma viagem à capital argentina, para tratar do assunto com os colegas argentinos, mas justamente nesse ponto sobreveio a tragédia com o San Juan, que pôs fim à negociação.

O planejamento entre as duas marinhas nunca foi retomado porque, depois da perda do San Juan, os militares argentinos consideraram impossível tratar da aquisição de submarinos usados.

Semana passada, o Comandante da Área Naval Atlântica e da Base Naval de Mar del Plata, capitán de navio Gabriel Attis, revelou que o atual chefe da Força de Submarinos de sua Armada, capitán de navio Ciro Oscar Repetto, se encontrava na cidade holandesa de Amsterdam em preparativos para viajar a Kiel, na Alemanha, onde iria conhecer (a) os últimos avanços do atual submarino classe IKL-209/1400 e (b) seus diferentes custos de fabricação.

De acordo com o que o Poder Naval pôde apurar, um 1400 sem grandes sofisticações pode ser adquirido por 400 milhões de dólares, ou até menos. Pacote – Como a Esquadra argentina tem quatro fragatas Meko-360H2 e seis corvetas tipo Meko-140A16 – todas de tecnologia alemã –, é bastante possível que, no futuro, os militares argentinos negociem com a TKMS a aquisição dos submarinos em um pacote comercial que inclua a revitalização dos navios de superfície.

Em Kiel, os executivos da TKMS têm esperança de que o caso argentino se resolva dessa forma.

Mas eles também sabem que não há, no momento, a menor perspectiva de que se possa lidar com esse assunto este ano – em função dos cortes orçamentários ditados pela cooperação do governo Mauricio Macri com o Fundo Monetário Internacional (Buenos Aires pediu, recentemente, um empréstimo de 30 bilhões de dólares ao Fundo).

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