'Não há aqui nenhuma paz': EUA armam Kosovo

Na quarta-feira (18), em Bruxelas, começou a nova rodada de negociações entre o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, e o líder da autoproclamada República do Kosovo, Hashim Thaci, com o propósito de resolver a questão do Kosovo.


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Entretanto, a imprensa sérvia informou que, em 17 de junho, o primeiro-ministro do Kosovo, Ramush Haradinaj, na presença do embaixador dos EUA em Pristina, Greg Delawie, assinou um contrato com a empresa norte-americana АМ General para a compra de 24 veículos militares HMMWV.

Parabéns pela assinatura do contrato de fornecimento de Humvees da AM General à Força de Segurança do Kosovo. Estamos entusiasmados por fazer parte desta próxima era da KSF!

Além disso, foi divulgado que o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos EUA irão conceder à Força de Segurança do Kosovo (KSF, sigla em inglês) US$ 10 milhões (R$ 38,2 milhões) a fim de combater o terrorismo e o crime organizado, assim como uma oferta de 27 HMMWV, meios de comunicação e disponibilização de treinamento.

Em resposta às generosas ofertas de Washington, Ramush Haradinaj disse que a transformação da KSF no Exército do Kosovo será realizada em estreita colaboração com seus "aliados". Por sua vez, Greg Delawie expressou satisfação com o fato de os EUA virem a fazer parte de "uma nova era da KSF".

Ljuban Karan, analista militar e tenente-coronel aposentado que serviu na contraespionagem na Iugoslávia, acredita que esta é uma provocação norte-americana, e diz que "não há aqui nenhuma paz".

"Eu acho que é mais um exemplo de pressão militar sobre a Sérvia. Estamos lidando com ações concretas em relação ao armamento, formação e instrução dos nossos potenciais adversários", explicou à Sputnik Sérvia.

Ele enfatiza que, segundo a sua própria experiência, ninguém faz declarações sobre ações militares com antecedência. É preciso adivinhar o verdadeiro propósito dos EUA, oculto por trás de sua generosidade em relação a Pristina.

"Este gesto também pode ser considerado como uma tentativa de forçar a Sérvia a desistir da política de neutralidade militar. Ou talvez seja parte de um plano de longo prazo para o estabelecimento das Forças Armadas do Kosovo e sua preparação para um possível ataque contra os enclaves sérvios no norte do Kosovo", sugere Karan.

O analista militar está convencido de que o objetivo final é o desejo da OTAN de reunir tantos países quanto possível para lidar com a influência russa em determinados territórios.

O analista político Aleksandar Pavic acredita que a Sérvia deve expressar um forte protesto contra os EUA e a OTAN relativamente ao apoio de Washington ao projeto do Exército do Kosovo.

"Esta iniciativa não contribui para a paz de modo algum, pelo contrário, reduz as chances de sua preservação e também pode afetar o resultado das negociações sobre o destino do Kosovo e Metohija. Os representantes da OTAN falam repetidamente de seu respeito pela Resolução 1244, segundo a qual a Força do Kosovo é a única formação armada legítima no território do Kosovo. A tarefa da diplomacia sérvia é expressar categoricamente o seu protesto e precisa dizer que não faz sentido continuar as negociações quando se está armando simultaneamente uma organização paramilitar ilegal no Kosovo. Belgrado deveria ter feito barulho com esta história e usar isso como uma ferramenta diplomática", disse Pavic.

Ele ressalta que a União Europeia, que assumiu o papel de mediadora nas negociações sobre o Kosovo, deveria ter reagido à situação, para que os EUA entendam que essa interferência prejudica o processo de negociação. Mas a experiência mostra que Bruxelas geralmente não se apressa em condenar esses procedimentos.

Ramush Haradinaj declarou que, até o final do ano, haverá um exército bem armado no Kosovo. Atualmente, a Força de Segurança do Kosovo possui cerca de 8.000 efetivos.

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