Corveta Barroso: Marinha ainda tem dúvidas sobre modernização

O Comando da Marinha do Brasil (MB) fixou como meta: os escoltas que ela vier a adquirir na década de 2020 devem poder operar tanto o helicóptero AH-11B Super Lynx, do 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque, quanto o SH-16 (Sikorsky S-70B Seahawk), do 1º Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino da Força Aeronaval.


Por Roberto Lopes | Poder Naval

“Isso aumenta a flexibilidade e o leque de missões”, informou por e-mail ao Poder Naval um oficial da ativa que trabalha no assunto da renovação da Força de Superfície da Esquadra. “Desta forma, dependendo da ameaça/missão, será embarcado o Seahawk ou o Super Lynx. Essa opção não é utilizada hoje em dia, pois nossos atuais escoltas só podem receber o Lynx. Os futuros poderão receber os dois”.

Corveta Barroso - V34
Corveta Barroso – V34

Mas a verdade é que o tema dos novos escoltas vai além de programas hoje prioritários, como o da obtenção de quatro navios da Classe Tamandaré – para o qual foi aberto concorrência internacional, disputada por nove consórcios liderados por estaleiros da Europa e da Índia.

Há muita expectativa, por exemplo, acerca da modernização que se imagina factível na corveta Barroso.

A remodelação do navio integra, conforme se sabe, o rol de offsets exigido ao consórcio vencedor do Programa Tamandaré, mas o detalhamento dessa compensação – seus itens técnicos, prazos e valores envolvidos – permanecem virtualmente em aberto. Dependentes, claro, das possibilidades do consórcio que vier a ficar com os navios Tamandaré, mas não apenas disso, também do grau de exigências da Marinha.

A questão das modificações na corveta está sob o crivo de especialistas da Diretoria de Gestão de Programas da Marinha (DGePM), da Diretoria de Engenharia Naval (DEN) e da Diretoria-Geral do Material da Marinha (DGMM).

Parte desses militares entende que, se a Marinha não aportar recurso algum à modernização da Barroso, o navio terá, apenas, no âmbito do compromisso de offset, uma substituição de sistemas e armamentos, o que já seria muito – e caro – mas não representaria a mudança que esses oficiais julgam necessária para uma unidade que ainda vai atravessar os desafios dos próximos 20 anos, operando em áreas marítimas afastadas da costa, e potencialmente inóspitas.

Popa 

Nos estudos que vêm sendo feitos na Marinha ainda não há definição sobre a possibilidade de 

(a) se aumentar o convoo da Barroso até o espelho de popa, e 

(b) – tão importante quanto isso – fechar o convés abaixo do convoo.

Tais obras poderiam, efetivamente, reduzir a assinatura radar da corveta – tanto a lateral, quanto a traseira –, mas para alguns oficiais esses ganhos não seriam significativos. Ou, em outras palavras: a relação custo/benefício dessas modificações precisaria ser mais bem avaliada.

O aumento no convoo tem a ver, diretamente, com a possibilidade de pouso seguro a bordo para os SH-16, um aparelho bimotor de 10,4 toneladas (preparado para cumprir missões antissubmarino) que mede 19,75 m de comprimento, 5,2 m de altura e tem um diâmetro do rotor da ordem de 16,35 m.

Apenas como dado de comparação: o AH-11B Super Lynx de menos de 6 toneladas (totalmente pronto para operar) tem pouco mais de 15 m de comprimento e 3,8 m de altura; o diâmetro do rotor principal não ultrapassa os 12,8 m.

A questão é que, para receber um helicóptero com as dimensões do SH-16, o hangar da corveta precisaria ser objeto de mudanças significativas.

O simples aumento do convoo representará uma melhoria pela metade: o Seahawk desce no navio mas não será guardado no hangar – o que, na opinião de alguns chefes navais, parece um desperdício de dinheiro.

Por outro lado, a decisão de ampliar o hangar exigirá mudança de grande porte, como a feita pela Marinha do Chile para que suas fragatas multifunção da Classe Karel Doorman (também conhecidas como Classe M), adquiridas à Holanda, pudessem operar os grandes helicópteros AS332F1 Super Puma, de 8 toneladas (carregado), 14,48 m de comprimento e 4,92 m de altura.

No caso de o Comando da Marinha do Brasil optar pela alternativa mais completa e dispendiosa – substituição de sistemas, sensores e de armamentos, bem como modificações no convoo, no hangar da aeronave e no convés abaixo do deck de operações aéreas– os serviços na Barroso deverão consumir ao menos dois anos.

E de acordo com um dos oficiais consultados pelo PN, o trabalho será mais complexo que o realizado pela Real Marinha Australiana em suas fragatas Meko 200 ANZ, pois nesses navios o convoo já se estendia até o espelho de popa. Foi necessário, apenas, fechar o convés abaixo.

Classe Inhaúma 

Ao lado das interrogações que cercam a reforma da Barroso, persistem, igualmente, algumas incertezas relativas à capacidade de as corvetas Júlio de Noronha e Jaceguai – Classe Inhaúma –, de 2.000 toneladas, se reintegrarem à rotina do setor operativo da Marinha.

Especialmente para as comissões mais exigentes, de patrulhamento oceânico no Atlântico Sul e exercícios navais ao lado de navios de outras Marinhas.

Após um demorado período de revitalização e reparos, as Inhaúmas – construídas no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro entre o fim dos anos de 1980 e o início da década seguinte – parecem, finalmente, aptas a navegar (a Júlio de Noronha esteve na Parada Naval de recepção ao PHM Atlântico, sábado passado), mas a sua propulsão, que foi inspecionada e revitalizada, carece de avaliações mais completas.

Outro problema é o da defasagem tecnológica dos seus sistemas, sensores e armamentos.

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