Bastidores: Era Bolsonaro é a maior chance da Marinha do Brasil desde o evento Lula/Pré-Sal

Há tempos – anos – que as perspectivas não eram tão boas.


Por Roberto Lopes | Poder Naval

O último impulso que a Marinha do Brasil (MB) recebeu de parte da Presidência da República aconteceu em 2007, quando, em sua rusticidade, o então Presidente Luís Inácio Lula da Silva se convenceu da necessidade (mais do que isso: da urgência) de prover a Marinha dos meios necessários à proteção das reservas petrolíferas do Pré-Sal – área de 800 km de extensão, enterrada no leito submarino defronte ao litoral sudeste do país.


Fragata Defensora
Fragata Defensora passando por uma plataforma de petróleo

A solução, nesse caso, seriam os submarinos, o que gerou duas iniciativas: um programa de construção nacional de quatro embarcações de tecnologia francesa, e um reforço de tecnologias e recursos humanos para manter a continuidade do programa de desenvolvimento do primeiro submarino de propulsão nuclear.

Ambas as ações conheceram dificuldades crescentes nos últimos quatro anos.

No primeiro semestre de 2015 foi necessário que o então ministro da Defesa, Jaques Wagner, viajasse às pressas para Paris, a fim de renegociar os termos do acordo bilateral Brasil-França que sustenta o chamado Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB).

Mas, nas últimas semanas, os indicadores de restrições e sofrimento orçamentário deram lugar a indícios de que a MB terá, de novo, uma chance de crescimento.

Clube Militar 

Permaneceu em sigilo, por exemplo, o fato de que, ainda em setembro, o ex-ministro da Marinha – e decano dos submarinistas brasileiros –, almirante Alfredo Karam, foi convidado para uma reunião sigilosa com militares bolsonaristas.

O encontro, à noite, na sede campestre do Clube Militar, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, foi presidido pelo general da reserva Hamilton Mourão, então candidato a vice-presidente da República na chapa liderada pelo deputado Jair Messias Bolsonaro.

Participaram da conversa outros três militares – generais da reserva com atuação no Clube Militar – e um único civil: o presidente da Academia Brasileira de Filosofia, João Ricardo Moderno, de 66 anos, que viria a falecer, a 6 de novembro passado, vítima de uma parada cardiorrespiratória.

Na reunião com os oficiais da Força Terrestre, todos muito mais modernos do que ele, Karam, de 93 anos, foi tratado com atenção e deferência.

Perguntado sobre a situação material da Marinha e as prioridades da Força (na visão do veterano oficial, obviamente), Karam discorreu, sem subterfúgios, sobre o estrangulamento financeiro da corporação, em decorrência de compromissos assumidos para a renovação da Arma Submarina.

A favorecer o ex-ministro havia o fato de seu íntimo relacionamento com o atual Comandante da MB, almirante de esquadra Eduardo Leal Ferreira, a quem gosta de definir como seu “sobrinho”.

Além disso, Karam é vizinho de Leal Ferreira no bairro da Barra da Tijuca. Não raro, o ex-ministro chega às solenidades militares para as quais é convidado no carro oficial do Comandante da Marinha.

Aos generais o ex-ministro falou, portanto, com propriedade, sobre a prioridade absoluta que a Força confere à obtenção dos navios Classe Tamandaré, o notório envelhecimento da frota de superfície, e as responsabilidades enormes, assustadoras mesmo, de uma Instituição que precisa estar presente em águas jurisdicionais brasileiras – na rede hidrográfica, junto ao litoral e em mares bem mais distantes, de outro hemisfério.

1º Distrito 

Com Bolsonaro eleito surgiram novos indicativos de que a Marinha vem, em alguma medida, tendo as suas necessidades levadas em consideração: 

(1) a visita do novo presidente ao gabinete de Leal Ferreira (que, em determinado momento chamou todos os quatro estrelas presentes em Brasília para que eles pudessem conhecer pessoalmente e cumprimentar o futuro chefe do Governo); 

(2) a história, desencontrada e até hoje mal contada, de que o chefe da Força Naval foi nome cotado para a Pasta da Defesa (aparentemente mais uma inconfidência desastrada do general Mourão), mas pediu dispensa da indicação por motivos pessoais; e, finalmente, 

(3) o curioso e, até agora, não explicado, encontro de Bolsonaro com Leal Ferreira em uma dependência do 1º Distrito Naval, na manhã da sexta-feira, 16 de novembro – acerca do qual, tudo o que se sabe com certeza é que a conversa foi pedida pelo deputado eleito para governar o país.

Há relatos, também, de que Jair Bolsonaro apreciou, sinceramente, a postura de Leal Ferreira: um oficial afável e ponderado, que não deu mostras de ter ficado magoado com a notícia, não-confirmada, de sua indicação para o ministério.

Mas o indício mais recente de que há uma chance real de melhores dias para a Marinha veio nesta sexta-feira, 30, com o anúncio de que o diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior – um submarinista (considerado, no fim da década de 1990, como o melhor comandante que o submarino Tupi já teve) – será o futuro ministro de Minas e Energia.

Bento é amigo pessoal de Leal Ferreira e de Karam.

No grupo dos ministros de Bolsonaro, o almirante terá, agora, a oportunidade de, mesmo informalmente, defender o prosseguimento do programa do submarino nuclear da Marinha – que muitos altos executivos da Base Industrial de Defesa consideram um desperdício de dinheiro (conforme disseram, dois anos atrás, numa reunião em São Paulo, ao então ministro da Defesa Raul Jungmann).

BNDES 

O que se espera de Jair Bolsonaro em relação à Marinha é, antes de tudo, o fim da insensibilidade de órgãos públicos com as necessidades da Força.

Situação que pode ser resumida na frustração do ex-Comandante da MB, almirante de esquadra Moura Neto, quando tentou que o BNDES financiasse a construção de 20 patrulheiros Classe Macaé (Vigilante francesa) pelo regime de leasing.


NPa Macaé
NPa Macaé

O Banco negou ajuda aos almirantes, sob o argumento (entre outros) de que não havia como realizar um seguro para o aporte dos recursos demandados pelo programa.

Na Era Petista, o BNDES examinava com generosidade investimentos em Reais em países tão “parceiros” quanto Angola, Cuba e Venezuela.

Para a Marinha do Brasil, nada.

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