Venezuela rechaça na ONU o ultimato da UE: “Oito dias de quê?”

Estados Unidos e Rússia se enfrentam em uma tensa sessão extraordinária do Conselho de Segurança para tratar da crise no país caribenho


Sandro Pozzi | El País


Estados Unidos e Rússia encenaram neste sábado, dia 24, diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas, um duro enfrentamento diante da crise da Venezuela. O chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, acusou Moscou de apoiar e proteger o “Estado mafioso ilegítimo” de Nicolás Maduro, e pediu que se reconheça Juan Guaidó como líder para avançar rumo à democracia. O representante russo na ONU, Vassily Nebenzia, por sua vez, respondeu denunciando Washington por “orquestrar uma tentativa de golpe de Estado”. E no meio da intensa queda de braço, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela rechaçou o prazo europeu para a realização de eleições, atacando novamente o presidente espanhol, Pedro Sánchez.


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Mike Pompeo, este sábado na sessão do Conselho de Segurança da ONU. JOHANNES EISELE AFP

Pompeu assegurou que chegou a hora de os países “escolherem de que lado” estão, se com “as forças de liberdade” ou com “a liga de Maduro e seu caos”. Nesse sentido, afirmou que os “EUA e seus pares são os verdadeiros amigos do povo venezuelano”. Rússia, China, Síria, Irã e Cuba, acrescentou, respaldam um regime que viola os direitos humanos de seu próprio povo. “Nenhum apoia a democracia”, advertiu, “e usam este microfone para condenar a ingerência externa.”

Pompeo também instou a todos os países a colocar um fim em suas transações financeiras com o Governo de Maduro. “Esperamos também que cada uma dessas nações se assegurem de desconectar seus sistemas financeiros do regime de Maduro e permitam que os ativos que pertencem ao povo venezuelano sigam para os legítimos governantes desse Estado”, afirmou.

Os EUA tentaram incluir a Venezuela no programa de trabalho do Conselho de Segurança quando ocuparam a presidência em setembro. Nikki Haley era então a embaixadora de Washington na ONU. Rússia e China protestaram, ao considerar que a crise deveria ser abordada na região, pois não representava um risco para a paz e a segurança mundial. Em maio de 2017 foi realizada uma primeira reunião devido à repressão durante os protestos, de caráter informal.

A Rússia forçou no sábado um voto para tentar bloquear a sessão, ao considerar que a iniciativa dos EUA representava um abuso de seu poder como país permanente. Nebenzia qualificou a ação de “lamentável” e “delicada”. “É jogo sujo”, reforçou. E também considerou que o que deveria haver é uma discussão sobre “a ameaça externa à Venezuela” e como os EUA tenta “desestabilizar” a região latino-americana impondo “sua vontade a outros povos”. Também qualificou de “provocação” que os países europeus imponham um prazo para a realização de eleições.

“Oito dias de quê?”, perguntou-se o ministro venezuelano das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, desafiando o ultimato. “Por que o presidente Pedro Sánchez não convoca eleições?”. Pediu assim à Europa que “cuide da própria vida”. “De onde saiu essa ação de ingerência, para não dizer infantil?”, acrescentou e também denunciou que essas manobras da Administração de Donald Trump pretendem estimular a ação de grupos violentos e forçar uma intervenção estrangeira no país. “Os EUA estão à frente do golpe de Estado”, afirmou o chanceler, “dá para ver todas as costuras.”

A mudança de regime, reiterou o embaixador russo durante o debate, “é o jogo preferido dos EUA”. Moscou, assim como Pequim, tem poder de veto. Washington, no entanto, tenta há dois anos utilizar o órgão mais poderoso da ONU como porta-voz para que a comunidade internacional pressione para que se restaure o processo democrático no país. “Agora temos um novo líder”, reforçou o secretário de Estado, “deve haver eleições livres o quanto antes na Venezuela.”

Rússia e China, com o apoio da África do Sul e da Guiné Equatorial, conseguiram bloquear a adoção de uma declaração de apoio à Assembleia Nacional venezuelana como a única instituição eleita democraticamente. A manobra dos EUA, justificou o representante sul-africano, colocaria o país no epicentro de um perigoso duelo geopolítico. “Impediram que se fale com uma única voz”, lamentou Pompeo, que espera que seus diplomatas “continuem recebendo as proteções do Protocolo de Viena”. “Não coloquem à prova nossa determinação de proteger nossas pessoas”, advertiu.

Reino Unido não considera Maduro presidente legítimo

O Reino Unido, representado por seu vice-ministro das Relações Exteriores, reiterou que a Venezuela vive uma situação de colapso total e que o único responsável por essa situação de penúria é Nicolás Maduro. “O mundo o vê e conclui que já não é o presidente legítimo da Venezuela. Sua corrupção, sua fraude nas eleições, já não são aceitáveis”, declarou em sua intervenção, “todos juntos podemos dizer com clareza o que deve acontecer agora”.

A França também denunciou que as últimas eleições não foram nem legítimas nem críveis, e reclamou uma nova convocatória eleitoral. Se não se responder a essa chamada, advertiu, serão tomadas medidas para que se reconheça Guaidó em seu papel constitucional. Em resposta à Rússia, seu representante deixou claro que “não se trata de uma questão interna”, já que a crise provocou três milhões de refugiados. Alemanha, Bélgica, Polônia, República Dominicana e Peru se expressaram nos mesmos termos.

Rosemary Di Carlo, responsável pelo escritório de Assuntos Políticos da ONU, disse que o principal temor neste momento é que a situação saia do controle e tenha consequências catastróficas. “É um momento crucial”, advertiu, ao mesmo tempo em que pediu “moderação” para evitar a escalada de violência. O norte, concluiu, deve ser a conquista de uma solução pacífica para que os cidadãos gozem de paz, prosperidade e que seus direitos humanos sejam respeitados.

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