Marinha do Brasil quer remotorizar submarinos classe Tupi para permitir travessia da década de 2020

Para além do Programa das Corvetas Classe Tamandaré – cujo desfecho, reduzido a uma guerra de offsets entre os quatro estaleiros interessados, tornou-se completamente imprevisível – a Alta Administração Naval (Comandante da Marinha mais Almirantado) precisará encaminhar já este ano, entre outras demandas urgentes, as providências que permitirão ao Comando da Força de Submarinos (ForSub) libertar-se do estado de letargia em que se encontra.


Por Roberto Lopes | Poder Naval

Força de Submarinos! Marinheiros até debaixo d’água!
Glória à Flotilha!
Viva a Marinha!

Providências que não requerem apenas recursos; também exigem determinação para a tomada de decisões.


Submarino Tapajó – S33

Neste momento a Marinha do Brasil (MB) não possui nenhum submarino em condições operacionais. Lançado ao mar há pouco mais de dois meses, o moderno Riachuelo, primeiro da Classe Scorpène, não estará disponível para a Esquadra antes do final do ano que vem.

Na Base de Submarinos da Ilha de Mocanguê (RJ), todos os cinco submarinos de desenho alemão estão parados. O Tupi, mais antigo do grupo e único que até pouco tempo navegava, foi docado para manutenção preventiva.

O Tamoio – um IKL-209 – e o Tikuna – um 209 de projeto modificado (no Brasil), ligeiramente mais comprido e de propulsão mais potente – só vão concluir o seu PMG (Período de Manutenção Geral) no ano que vem.

O Timbira e o Tapajó (embarcações iguais ao Tupi e ao Tamoio), que há meses alimentam a expectativa de serem submetidos a um PMG, hoje aguardam bem mais do que o timingda reforma: esperam as ordens que poderão melhorar a sua propulsão e geração de energia – e, dessa forma, garantir o seu aproveitamento na ativa.

Durabilidade 

Na verdade, tais diretivas apontarão o caminho a seguir para que os quatro IKL-209 e mais o Tikuna cruzem, de forma segura e eficiente, os anos de 2020.

Eles não são submarinos novos, mas, bem conservados, poderão se revelar (já estão se revelando) extremamente duráveis.

Há várias circunstâncias que contribuem para isso.

Por falta de dinheiro (para combustível e sobressalentes) os navios da ForSub não passam muito tempo no mar. Além disso, os protocolos de preservação desses navios são bem rigorosos – precaução que ganhou relevância ainda maior depois do desaparecimento do submarino argentino ARA San Juan, em novembro de 2017, no Atlântico Sul.

Na MB, um IKL-209 é docado para manutenção preventiva a cada 4 meses mais ou menos, que é o que acontece agora com o Tupi. Aliás, esse submarino já tem data marcada para ser submetido a um novo PMG: 2022.

Entre todas as dezenas de submarinos 209 já fabricados pela indústria naval germânica, apenas dois – o Glavkos grego e o Salta argentino – não podem mais ser considerados operacionais (apesar de muitos jovens submarinistas da Armada Argentina ainda continuarem a ter aulas de formação teórica no interior do Salta, que é mantido na lista de unidades ativas da corporação).

A ideia da Marinha do Brasil é de que os seus submersíveis de tecnologia alemã vejam o alvorecer da década de 2030, e ainda naveguem bastante neste período.

MTU 396 

De acordo com uma fonte do Ministério da Defesa, em Brasília, o plano elaborado pelo Comando da Força de Submarinos, no Rio de Janeiro, consiste em remotorizar o Timbira e o Tapajó, para deixar a propulsão deles no nível da do Tikuna.
MTU 396
Motor MTU 396

Todos os quatro IKL-209 brasileiros – Tupi, Tamoio, Timbira e Tapajó – são impulsionados, cada um, por quatro motores MTU 493. A modificação do projeto do Tikuna, engendrada por engenheiros navais brasileiros, optou (corretamente) por apenas dois motores MTU 396 – maiores, mais modernos e, por conta disso, 40% mais potentes que o 493, sem que a mudança demande sobrecarga de manutenção.

A ideia da ForSub é remover os oito motores 439 dos navios Timbira e Tapajó, guarda-los no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), e instalar no lugar deles dois propulsores MTU Série 396.

Os motores mantidos em estoque serviriam como reservas para os motores 493 do Tupi e do Tamoio.

Mas a substituição dos MTU 493 pelos modelos 396 não é simples, nem barata.

Para acomodar os dois 396, a praça de máquinas do IKL-209 precisa ser reconfigurada, com atenção para o adequado equilíbrio dos pesos, disposição de tanques e de outros equipamentos. Serviço que a engenharia alemã não fará por menos de 60 milhões de dólares.

Outro detalhe que o Poder Naval pôde apurar: os dois MTU 396 que seriam colocados no Timbira e no Tapajó não seriam iguais aos do Tikuna, mas ainda mais potentes.

A maioria dos submarinos convencionais utiliza motores MTU, inclusive os da classe francesa Scorpène.

O MTU Série 396 é especialmente desenhado para a utilização em submersíveis e, justamente por isso, “personalizado” para essa aplicação.

A propaganda da MTU relaciona, entre os “benefícios” da Série 396:

  • Amplitude de potência de 500 a 1200 KW em operação submarina e até 1350 kW para operação em superfície; e
  • Relação peso/potência favorável e baixo consumo específico de combustível devido a turbo alimentação
Tripulações 

Ocorre que, por falta de recursos, o projeto de remotorização do Timbira e do Tapajó nunca saiu do papel.

Mas há outras variáveis que aguardam a análise da Alta Administração Naval.

Por exemplo: para alcançar a aurora dos anos de 2030 com uma flotilha de nove submarinos convencionais (propulsão diesel-elétrica) de ataque – e, dessa maneira, cumprir planos de patrulhamento costeiros e oceânicos eficazes –, de quantos tripulantes a MB precisaria para os seus submarinos? Seiscentos, 700?

A Força tem condições de ser bem sucedida em um eventual projeto de ampliação do recrutamento e da formação de submarinistas? Ou a atual “peneira” de seleção do pessoal que se candidata a servir em submarinos não autoriza tal otimismo?

Lembrar que, ao contrário do que acontece nas Marinhas do Peru, Venezuela e Argentina (Estados Unidos, Reino Unido e várias outras mundo afora), no Brasil mulheres não são admitidas como candidatas a submarinistas.

A questão do pessoal pode parecer de menor relevância, mas é de importância crucial.

Dias atrás, o portal de notícias argentino Infobae noticiou: atualmente, devido ao seu estado de degradação financeira e material, a Armada Argentina não teria condições de prover tripulações para mais do que três submarinos.

ICN 

Mas o gabinete do Comandante da Marinha, almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior, guarda também pendências relativas aos submarinos da classe Riachuelo.

O primeiro Scorpène brasileiro será formalmente entregue à Esquadra no fim do ano que vem, e a Marinha ainda não assinou o contrato de manutenção para o 1º ciclo de vida útil (seis ou oito anos) da sua nova série de submarinos.

Em 2017, a Itaguaí Construções Navais (ICN) – joint venture da empresa francesa Naval Group e do grupo brasileiro Odebrecht –, fabricante dos submarinos classe Riachuelo, disputou e venceu o contrato de manutenção dos dois Scorpènes da Marinha Real da Malaísia (Tunku Abdul Rahman e Tun Abdul Razak): 250 milhões de dólares.

É praticamente impossível, portanto, que a MB deixe de atribuir à ICN a manutenção dos seus novos submarinos (para escolher, por exemplo, um estaleiro sul-coreano).

Nas próximas semanas o almirante Ilques também deve sacramentar a nomeação do vice-almirante (EN) Sidney dos Santos Neves para a direção da Coordenadoria–Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear (COGESN) – indicação que conta com largo apoio entre os militares envolvidos na consolidação da Força de Submarinos brasileira.

O almirante engenheiro passa para a reserva em março, e já no mês seguinte deve assumir seu novo cargo.

Engenheiro Naval pela Escola Politécnica da USP, e ex-diretor, por quase dois anos, do Centro Tecnológico da Marinha (abril de 2017 a janeiro de 2019), Sidney dos Santos Neves trabalha há mais de 30 anos no campo da construção de submarinos, e prestou um importante serviço na qualificação do AMRJ para a produção dos navios classe IKL-209.

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