Mourão fala em invasão da Amazônia para criar 'inimigo externo', diz analista

A tese aventada pelo vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), de que a Amazônia corre o risco de invasão é "muito remota" e serve para o governo "cerrar suas fileiras", afirma analista ouvido pela Sputnik Brasil.


Sputnik

"A possível invasão à Amazônia não é uma fantasia. 20% da água doce do mundo está aqui", afirmou Mourão em entrevista ao SBT, segundo trecho antecipado pelo UOL.


Hamilton Mourão durante visita à China
Hamilton Mourão (PRTB) © AP Photo / Florence

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) também já ecoou preocupação semelhante a de Mourão e afirmou que territórios indígenas da Amazônia supostamente planejam buscar a independência do Brasil.

Para o doutor em relações internacionais pela Universidade de Oxford e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vinícius Rodrigues Vieira, o recente comentário de Mourão é uma tentativa de cativar o eleitorado já que a popularidade do governo está em queda. 

"Para um governo de direita populista, como é este governo que o vice-presidente [Mourão] integra, é sempre útil criar um inimigo externo, é uma tática clássica não só da direita populista, mas eu diria de governos autoritários em geral, governos como esse", diz Vieira à Sputnik Brasil.

O professor da FGV ressalta que há "cobiça" pela Amazônia por conta de sua riqueza ambiental, mas que uma invasão militar é um cenário "muito remoto". Um quadro mais atual, avalia Vieira, é uma imposição de regras ambientais mais rígidas aos países amazônicos, algo que o Brasil experimentou recentemente com as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre o compromisso ambiental de Bolsonaro.

"Há países que podem não ter força militar, mas têm aquilo que chamamos nas relações internacionais de poder normativo, um poder mais difuso, de chamar atenção para grandes causas da humanidade, como a preservação ambiental. É o que, ao meu ver, a União Europeia e alguns dos seus líderes acabam por fazer, se preocupam muito com a questão ambiental e por meio desse discurso podem justificar uma estratégia de compartilhamento de soberania, como alguns já chegaram a aventar", diz Vieira. "A Europa não usa armas, ela usa aquilo que o Macron fez, usa seu poder normativo."

As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik


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