'Não cabe aos EUA decidir': presidente do Afeganistão rejeita liberação de prisioneiros do Talibã

O presidente afegão, Ashraf Ghani, rejeitou a demanda do Talibã, incluída no acordo firmado entre o grupo e os EUA, da liberação de 5.000 membros do grupo mantidos como prisioneiros.


Sputnik

Neste domingo (1º), o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, negou que o governo de Cabul reconhecesse o compromisso, de liberar 5.000 prisioneiros, assumido pelos EUA durante as negociações de paz com o Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e demais países).


Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, durante conferência de imprensa em Cabul, em 1º de março de 2020
Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, durante conferência de imprensa em Cabul, em 1º de março de 2020 © REUTERS / OMAR SOBHANI

"O governo do Afeganistão não se comprometeu a liberar 5.000 prisioneiros do Talibã", disse Ghani a repórteres em Cabul, um dia após os EUA e o Talibã assinarem o acordo político no Qatar.

As declarações do presidente afegão confirmam as especulações de diplomatas ocidentais, que previram que os EUA teriam dificuldades em convencer o governo de Cabul a acatar o acordo assinado com o grupo terrorista, reportou a Reuters.

O acordo estipula que os Estados Unidos e o Talibã se comprometeriam a trabalhar pela liberação, tanto de prisioneiros de guerra, como de presos políticos, como uma medida para fortalecer a confiança entre as partes.

O documento prevê a troca de até 5.000 prisioneiros ligados ao Talibã por cerca de 1.000 presos ligados ao governo de Cabul. As liberações deveriam ocorrer até o dia 10 de março.

No entanto, para o presidente afegão a questão dos prisioneiros "não é da competência dos Estados Unidos decidir, eles são apenas um facilitador".

O acordo firmado no Qatar neste sábado (29) foi assinado pelo enviado especial dos EUA, Zalmay Khalilzad, e pelo chefe político do Talibã, mulá Abdul Ghani Baradar, e testemunhado pelo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.

Após a cerimônia, Baradar teria se reunido com os ministros das Relações Exteriores da Noruega, Turquia e Uzbequistão em Doha, assim como com diplomatas da Rússia, Indonésia e nações vizinhas, em uma medida que sinalizou a determinação do Talibã em garantir sua legitimidade internacional, informou o grupo.

"Os dignitários que se reuniram com o mulá Baradar expressaram seu compromisso em relação à reconstrução e ao desenvolvimento do Afeganistão [...] o acordo firmado entre os EUA e o Talibã é histórico", disse o porta-voz do grupo, Zabiullah Mujahid.

O presidente dos EUA, Donald Trump, rejeitou as críticas em relação ao acordo e declarou estar disposto a se reunir com líderes do Talibã em um futuro próximo.

Os assessores de Ghani, por sua vez, disseram que a decisão de Trump de se encontrar com o Talibã pode representar um desafio para o governo no momento em que a retirada de tropas dos EUA se torna iminente.

Retirada de tropas

O acordo também estipula que Washington reduza sua presença militar no Afeganistão de 13.000 tropas para 8.600 dentro de 135 dias após a sua assinatura.

Washington também se comprometeu a trabalhar com seus aliados para reduzir o número de tropas da coalizão estacionadas no Afeganistão durante o mesmo período, caso o Talibã cumpra suas obrigações e garanta a imposição de um cessar-fogo.

A retirada total de todas as forças dos EUA e da coalizão ocorrerá dentro de 14 meses, diz o comunicado conjunto.

A guerra no Afeganistão se estende por mais de 18 anos, desde que os EUA invadirem o país como retaliação pela realização dos ataques de 11 de setembro. O conflito encontra-se em uma situação de impasse, na qual o Talibã retoma controle de diversos territórios, mas não consegue capturar e manter os grandes centros urbanos.


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