Exportações para América Latina ganham força

Marcos de Moura e Souza - Valor Online


Depois de amargar anos difíceis, a indústria bélica brasileira está reatando os laços com o comércio mundial. As exportações de algumas das maiores empresas dos setor cresceram nos últimos anos, principalmente para América Latina e Ásia. Com preços competitivos e disponibilidade tecnológica, o Brasil tenta se posicionar como fornecedor alternativo aos grandes conglomerados do setor de defesa dos EUA e Europa. Em alguns casos, a demanda externa é a salvação para fábricas brasileiras - já que as compras pelas Forças Armadas andam em ritmo lento.

"Fazia tempo que não tínhamos tanta demanda da América do Sul. O momento é de aquecimento", avalia Ubirajara D'Ambrósio, o diretor comercial da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), empresa do Exército Brasileiro. A expansão para a região, segundo ele, coincidiu com a posição mais ativa da empresa em promoção de seus produtos em feiras especializadas no Brasil e no exterior. "Não sei se há também uma onda de reaparelhamento das forças ou de obsolescência. O fato que há tempos não se tinha essa procura."

A indústria bélica nacional é a mais avançada da América Latina. Nos anos 80 chegou a ser a oitava maior exportadora com um faturamento de US$ 1,5 bilhão. Hoje, exporta um quinto desse valor, algo em torno de US$ 300 milhões.

D'Ambrósio diz que os negócios com os países vizinhos retomaram fôlego em 2005. Atualmente a empresa está participando de uma licitação para venda de fuzis ao Uruguai, discute com a Bolívia projetos de manutenção de veículos militares e a venda de computadores robustecidos e está concretizando a exportação de mísseis ar-terra Sbat 70 para a Venezuela.

Outra empresa militar brasileira, a Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), da Marinha, também atravessa uma fase de internacionalização. A partir do início da década, a Marinha passou a estimular a empresa a se voltar mais para o exterior.

Com um faturamento girando em torno dos US$ 60 milhões - 35% dos quais provenientes de exportações, projetos para Petrobras e para o Exército - a Emgepron ainda é uma anã ao lado de mega-corporações mundiais do setor que têm se fortalecido ainda mais por meio de fusões. "Mesmo assim há espaço e tem crescido a procura por nossos produtos e serviços, porque os compradores buscam fornecedores alternativos, que oferecem uma tecnologia mais compatível com a dos países e preços mais baixos", disse o contra-almirante Robério da Cunha Coutinho, diretor técnico comercial da empresa. Segundo Coutinho, que preferiu não revelar números, as exportações "saíram da casa dos milhares de dólares e agora são milhões de dólares".

As exportações ganham fôlego num momento em que alguns países latino-americanos tratam de renovar ou ampliar seu poderio bélico. A Venezuela aumentou a compra de armas leves e negocia a instalação de uma fábrica de fuzis Kalashnikov no país. Venezuela e Bolívia assinaram recentemente um acordo para a construção de dois quartéis bolivianos próximos à fronteira com Brasil. E a Argentina enviou recentemente sua ministra da Defesa para discutir na Europa a compra e navios militares.

Segundo o especialista Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, a indústria está passando por um processo de renascimento desde o início da década devido a maior demanda externa, especialmente na América do Sul. "O aumento da procura por material bélico está dando condições para uma lenta recuperação."

Entre os produtos exportados pelo Brasil estão fuzis, mísseis, munição de artilharia, munição para canhão de navios, sistemas de informação e computação robustecida. Entre os clientes estão Uruguai, Colômbia, Chile, Venezuela, Peru, Indonésia, Paquistão, Bangladesh e Malásia e Oriente Médio.

"Se dependêssemos do mercado interno, teríamos fechado as portas. O mercado interno é ínfimo", afirma o presidente da Avibras, João Verdi Carvalho Leite. A empresa também tem negócios com a América Latina, assim como com países do Golfo, África e Ásia.

1 Comentários

  1. O BNDES precisa atribuir linhas de crédito especificas para as exportações da indústria bélica brasileira. Afinal, sem credito de longo prazo não se negocia com os mercados do terceiro mundo.

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