Projeto do novo submarino envolve siderúrgica no Rio

Claudia Safatle - Valor Online

A Marinha pretende assinar ainda neste ano o contrato de construção e modernização de submarinos, que terá financiamento externo no valor de 882,4 milhões de euros com a siderúrgica alemã ThyssenKrupp, através de sua subsidiária ThyssenKrupp Marine Systems. O projeto em negociação com o grupo alemão envolve também a instalação de uma siderúrgica no Rio de Janeiro, sede do Arsenal da Marinha, e prevê a entrega do submarino em um prazo de sete anos após a assinatura do contrato.

O investimento total será de 1,08 bilhão de euros- soma considerável de recursos se comparada aos R$ 200 milhões de investimento público nessa área este ano - sendo a parcela restante contrapartida do governo brasileiro. O Brasil, assim, se candidata a ser plataforma de construção e reparo de submarinos de água rasa, podendo exportar para países da América do Sul, África e mesmo para as nações desenvolvidas que se especializaram em submarinos de águas profundas, segundo José Carlos Miranda, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, que trabalhou no projeto.

Os submarinos convencionais são usados, em geral, para patrulhamento da costa brasileira e das plataformas de petróleo. Uma das características da nova tecnologia que será repassada à Marinha é ter um mínimo de ruído, o que dificulta a detecção do submarino por sonar.

A expectativa é de que assinado o contrato (com financiamento virá do banco ABN AMRO, os trabalhos de construção de um novo submarino (classe 214), de 1.500 toneladas de deslocamento, e de modernização dos cinco existentes, comecem já no início de 2007. O contrato pressupõe acordo de transferência de tecnologia para o governo brasileiro e, de posse desta, o país estará credenciado para construir, exportar e modernizar submarinos de outros países.

A obra será totalmente segurada pela Hermes, companhia de seguro do governo alemão, e terá assessoria de outra subsidiária Thyssen, a HDW, que é a sigla em alemão para Howaldtswerke Deutsche Werft AG, o estaleiro que construiu o primeiro submarino do mundo (1850). Foi do consórcio HDW-MFI que a Marinha adquiriu, na década de 80, os cinco submarinos de que dispõe. O primeiro, Tupi (modelo IKL 209-1400), foi construído na própria Alemanha, e os demais - Tamoyo, Timbira, Tapajó e Tikuna - já o foram no arsenal do Rio.

Segundo informações do diretor de Comunicação da Marinha, capitão-de-mar-e-guerra Paulo Maurício Farias Alves, sem considerar esses recursos, o orçamento de investimentos da Marinha para 2007, conforme proposta enviada ao Congresso, é de R$ 330 milhões, que serão usados prioritariamente no seguintes projetos: continuidade da construção da Corveta "Barroso" no Arsenal de Marinha no Rio, com conclusão prevista para o final 2008; na complementação da modernização das seis Fragatas da classe "Niterói" (construídas na década de 70); na construção, no país, de um navio-patrulha de 500 toneladas e de lanchas-patrulha; e na aquisição e modernização de diversos sistemas de armas e sensores, entre outros.

O projeto do submarino convencional (não há qualquer previsão para o de propulsão nuclear) representa um primeiro passo na retomada dos investimentos para modernização das Forças Armadas no país. No caso específico da Marinha, conforme Farias Alves, o sistemático corte de recursos orçamentários desde 1999 tem provocado um "processo de desativação" dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais e uma perda de capacidade de projetar e construir seus equipamentos.

Diante desse quadro, a Marinha propôs um programa de reaparelhamento que constitui uma nova oportunidade "de retomada da qualificação do pessoal das bases e estaleiros, em especial do Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro", evitando, assim, que seja uma força totalmente dependente de importações.

Miranda informou que o projeto dos submarinos estima gerar 4 mil novos empregos na base do Rio, além de incentivar a criação de uma indústria de fornecedores de componentes para o complexo.

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