O Maior Exército do Mundo

Alexandre Reis Rodrigues - Jornal Defesa e Relações Internacionais

Continua a chamar-se Exército Popular de Libertação (PLA) mas já não é apenas um exército, como era no início da sua criação em 1922 (então conhecido por Red Army). É o conjunto das Forças Armadas chineses, incluindo a Marinha, a Força Aérea e a componente de mísseis estratégicos, conhecida por 2º Corpo de Artilharia.

No final da década de 40, tinha 5 milhões de efectivos! Hoje continua a ser a maior força armada do mundo mas “apenas” com 2,3 milhões (1600000 no Exército, 225000 na Marinha, 400000 na Força Aérea e 100000 no 2º Corpo de Artilharia.

Estabelecido inicialmente como o braço armado do Partido Comunista Chinês tem passado progressivamente para o controlo do Estado, numa espécie de dupla dependência que, no entanto, é mais teórica do que prática dada a interpenetração que continua a existir entre o Estado e o Partido. Esta situação está personalizada em Hu Jintao que acumula os três mais importantes cargos no país: líder do Partido, Presidente do país e Chefe da influente Comissão Central das Forças Armadas (o topo da hierarquia militar).

Embora limitadas por uma ainda grande atraso tecnológico em relação aos EUA (estimado por alguns observadores em cerca de 20 anos) as Forças Armadas chinesas têm vindo a empreender reformas importantes que, a prazo, reduzirão a diferença de capacidades presentemente existente. Resta saber se estas mudanças visam igualmente uma alteração de estratégia, passando da tradicional postura defensiva para uma estratégia de afirmação regional.

O assunto tem sido matéria de debate, com as opiniões muito divididas entre dois campos extremos: de um lado, o dos que pensam que a China move-se sobretudo por um objectivo de desenvolvimento económico (para o que precisa dos EUA) e de afirmação como grande potência mundial (Brzezinski e Thomas Barnett, por exemplo) enquanto o outro lado assume os desenvolvimentos em curso como de procura de uma posição de hegemonia regional, tentando afastar os EUA (posição do Pentágono e Mearsheimeir, entre outros).

Embora sem intenções beligerantes e sem qualquer intenção de disputar a actual hegemonia americana – pensam outros observadores - a China pode estar a apostar em garantir apenas um papel, ao lado de outras grandes potências, num mundo multipolar para o qual o actual, mais tarde ou mais cedo, não deixará de evoluir.

Dentro da preocupação geral de modernização incluindo a troca de quantidade por qualidade, como é aliás a tendência mundial, um dos aspectos mais salientes das mudanças passa pela substituição da anterior prioridade num dispositivo terrestre maciço para conter uma eventual invasão pela antiga União Soviética por uma componente mais ágil e móvel capaz de ser empregue em intervenções no exterior.

Esta vertente, que é precisamente o aspecto que mais tem preocupado o Pentágono, poderá incluir uma nova capacidade de presença naval nas rotas oceânicas por onde passa o principal fluxo de abastecimento de petróleo e a configuração da esquadra em função duma hipótese de declaração de independência por parte da Formosa, receio central na actual estratégia de defesa chinesa, como aliás bem transpareceu do Livro Branco de Defesa publicado em 2004.

Desta orientação espera-se o aparecimento de uma nova Marinha com capacidade oceânica, incluindo uma força de submarinos nucleares (85 submarinos em 2010, o que numericamente ultrapassará o conjunto de todos os outros a operar na área, incluindo os americanos) e uma importante componente anfíbia (actualmente ao nível de uma divisão, 12000 efectivos) que se presume expressamente pensada para a Formosa (bloqueio e invasão) e o reforço da componente aérea, já com uma dimensão bem maior do que a da Marinha. É neste campo que entra a polémica sobre a possível intenção de aquisição de um porta-aviões; o último desenvolvimento respeita a recentes suspeitas de que estejam a modernizar o antigo porta-aviões russo Almirante Kuznetsov (que a Rússia não chegou a conseguir pôr operacional) e que foi adquirido, em 2002, alegadamente para ser utilizado como um casino flutuante em Macau (!) O previsto fornecimento de 50 aviões Sukhoi SU-33 pela Rússia, incluirá – segundo fontes russas – dois preparados para testes a partir de uma plataforma naval; o ex-Kuznetsov poderá operar até 18 destes aviões.

A modernização das estruturas da Defesa tem além desta vertente operacional também uma vertente política; inclui, como referido acima, o retirar ao Partido a exclusividade do controlo militar passando essa responsabilidade a pertencer também às estruturas do Estado, através da Comissão Central Militar criada pela Constituição de 1982, e o afastamento das Forças Armadas de qualquer tipo de actividade comercial, como foi prática normal até 1998. Esta decisão, da responsabilidade do anterior Presidente Jiang Zemin, ainda não totalmente concretizada, está a retirar aos militares o controlo que então detinham sobre cerca de 15000 empresas comerciais e cujos lucros financiaram, por algum tempo, a satisfação de algumas necessidades básicas das Forças Armadas. Só que, paralelamente, geraram-se graves problemas de corrupção que depois se alargaram a outras áreas e que ainda hoje não se encontram totalmente resolvidos; o último escândalo envolveu o Vice Chefe da Marinha afastado do cargo em resultado de uma acusação de aceitação de um suborno de 15 milhões de dólares.

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