Aventura e salários levam militares a Cabul



Fossem civis e a bagagem era estranhamente escassa para quem se prepara para estar seis meses fora de casa e num país tão longínquo como o Afeganistão. Mas os 50 militares portugueses que ontem partiram de Figo Maduro sabem que vão encontrar uma missão difícil e com riscos e que não precisam de levar roupas civis, pois os poucos momentos de lazer serão passados no interior do aquartelamento.

O primeiro grupo vai demorar dois dias no ruidoso e desconfortável C-130 que os levará até Cabul, capital afegã de onde chegam notícias quase diárias de combates entre os rebeldes talibãs e as forças de segurança. O tenente-coronel pára-quedista David Correia, que vai comandar os militares que nos próximos seis meses cumprem missão no Afeganistão, explicou que os primeiros 15 dias serão de `integração com o contingente que está lá`.

A rendição está prevista ainda para Agosto e o primeiro grupo que ontem partiu permitirá que `todo o conteúdo, contactos e toda a experiência acumulada da força que está lá nos seja transmitida para que possamos, aquando da chegada do grosso do grupo, a 28 deste mês, dar uma continuidade a nível das tarefas sem haver uma quebra significativa`, refere o comandante.

Os militares portugueses - um total de 150 do Exército e sete da Força Aérea - vão integrar a Quick Reaction Force da ISAF. Trata-se de uma missão integrada na Força de Reacção Rápida da Força Internacional de Assistência e Segurança no Afeganistão. Portugal assegura ainda cinco militares no Estado-Maior do Quartel-General da ISAF.

Todos estes militares portugueses partem voluntários para esta missão e os rostos sorridentes no adeus aos familiares e amigos afastam-nos decididamente da imagem do soldado `obrigado` a ir combater.

As motivações individuais de cada um serão sempre difíceis de avaliar, mas David Correia pressente nos seus homens um gosto pela `aventura`, em seu entender explicável para quem `tem um treino duro mas muito eficaz que os prepara para este tipo de missões`. Outra das razões para não faltarem voluntários prende-se como o facto de os militares conseguirem ver o seu ordenado multiplicado por quatro ou cinco vezes o seu valor durante o tempo da missão, o que para um soldado que ganha cerca de 700 euros é particularmente significativo.

No discurso de despedida, o general Hernandez Jerónimo não escondeu os perigos e lembrou que `nos momentos difíceis é preciso costas com costas lutar`. Desejou felicidades e boa sorte. E numa voz militar que soa sempre a ordem foi claro: `Quero voltar a cumprimentar-vos daqui a seis meses.`

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