Após três anos de reparos, porta-aviões volta a navegar



SÃO PAULO - O porta-aviões A-12 São Paulo, capitânia da Força Naval brasileira, voltará a navegar em abril, prestes a completar três anos sob reparos, depois de sofrer um incêndio no sistema dos dutos de vapor em maio de 2005. A previsão inicial era de que a recuperação seria executada em 90 dias.

A primeira missão do A-12 está definida: um exercício conjunto com pilotos navais franceses, efeito de curto prazo do acordo assinado recentemente em Paris pelos ministros da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, e da França, Hervé Morin. Morreram três tripulantes no acidente que imobilizou o navio de 32.780 toneladas. Outros 10 ficaram feridos.

Veterano da guerra da Bósnia e dos conflitos do Oriente Médio - quando ainda era o Foch, e liderava a esquadra francesa -, ele deveria passar por uma reforma de 90 dias, ao custo de R$ 4,5 milhões. O valor foi superado, admite o Ministério da Defesa. E a falta de recursos "adiou muito além do previsto" o prazo de entrega, segundo o almirante Júlio Moura Neto, comandante da Marinha.

Os cortes orçamentários para 2008, em estudo por causa do fim da CPMF, ameaçam a revitalização de 12 dos 23 jatos AF-1/A1 do Grupo Aéreo do São Paulo. Ao custo de US$ 66 milhões, a modernização do lote completo vai demorar quatro anos. O escalonamento do trabalho prevê que haja permanentemente ao menos 6 caças prontos para vôos de combate.

Em condições ideais, o porta-aviões, que tem autonomia de 13.890 quilômetros, lança até 15 jatos, cada um armado com 4,5 toneladas de bombas, torpedos ou mísseis. Garante, também, o controle do mar com largos helicópteros caçadores de submarinos, recheados de sensores eletrônicos e bem armados.

Essa rotina nunca foi regular no porta-aviões brasileiro, grande como dois campos e meio de futebol - o convés de vôo mede 265 metros. Comprado na França em 2000 por US$ 12 milhões, preço de amigo, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, o A-12 pegou fogo durante a noite, na Baía da Guanabara.

Mangueiras condutoras de vapor explodiram no convés inferior, enquanto a padaria de bordo preparava o pão e o bolo para o café da manhã de cerca de 800 dos quase 2 mil tripulantes que estavam a bordo. A temperatura subiu até bem mais de 400 graus. O laudo interno revela cenário de horror – os peritos recolheram pedaços de pele humana misturados ao revestimento derretido do passadiço.

O São Paulo deveria voltar às operações em agosto. Continua fora de ação. Se tudo correr bem, fará sua reapresentação bem a tempo de receber caças bombardeiro Super-Etendard e seus pilotos franceses. Sem navio há quase três anos, os brasileiros treinam em terra, simulando as condições de pouso e decolagem na pista de asfalto de São Pedro da Aldeia, no litoral do Rio.

Moderno

O porta-aviões revitalizado será um navio melhor. Em uso desde 1963, ele passou por uma só revisão quando navegava sob bandeira francesa. No Arsenal da Ilha das Cobras, no Rio, pelo menos 20 diferentes obras foram desenvolvidas, desde a revisão dos motores até a instalação do sistema Mage, de medidas de apoio à guerra eletrônica, um centro digital que permite detectar de forma furtiva os sinais emitidos por um radar inimigo - esteja ele em outro navio, na cabeça de um míssil ou dentro de um avião.

O programa não incluiu a remoção do amianto, agente cancerígeno, usado no isolamento térmico de 86 dos 1.868 compartimentos internos do navio. Os 23 AF-1/1A Skyhawk A4Ku, comprados pelo Brasil do Kuwait por US$ 70 milhões em 1997, são os mais novos desses jatos entre os fabricados nos anos 70 pela McDonnell-Douglas, extinta pouco tempo depois.

Voam a 1.100 km/hora e têm alcance de 3.220 km. A linha era formada por 36 unidades. Na Guerra do Golfo, cumpriram 1.236 missões contra o Iraque, agregados à aeronáutica militar da Arábia Saudita. O São Paulo leva até 15 jatos AF-1/1A e 6 helicópteros Sea King. Até agora, jamais conseguiu empregar essa configuração plena.

Os pilotos não decolam exatamente do porta-aviões: com a turbina no limite máximo do empuxo de quase 5 toneladas, são lançados por uma catapulta a vapor que acelera da imobilidade até além de 260 km/h em pouco mais de 200 metros do convés de vôo. No retorno, o problema é maior. É preciso encontrar no meio do oceano uma pista, iniciar a descida por referências virtuais e sinais luminosos.

Ao tocar a prancha, a mais de 250 km/h, o piloto baixa um gancho que deve se engatar em um cabo de aço, a linha de parada. Se perder o ponto da pegada, a ponte de comando ordena uma arremetida e novo procedimento.

Cardápio

Em missão de paz, a cozinha do São Paulo produz 1.400 quilos de comida todos os dias. Bifes grossos e frango grelhado são os preferidos, acompanhados de saladas, legumes, arroz, feijão e farofa. Eventualmente, é servida feijoada. Esse cardápio costuma ceder vez a omeletes de presunto como prato principal. É sinal de corte no orçamento.

Poucas mulheres, não mais de 5, atuam a bordo, na área de saúde. A enfermaria com 20 leitos tem UTI e capacidade para cirurgias complexas. A energia consumida pelo navio atenderia a uma cidade de 60 mil habitantes.

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