Brasil enfrenta resistência de russos na área de Defesa

Visita de Jobim e Mangabeira para negociar troca de tecnologia esbarra em falta de interesse de empresas



Vivian Oswald

O governo brasileiro ainda vai ter que convencer os russos: a missão liderada pelos ministros da Defesa, Nelson Jobim, e de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, não é uma viagem de compras. O país só vai adquirir novos equipamentos se no pacote vierem junto troca de tecnologia, investimentos em projetos binacionais ou joint-ventures que signifiquem o desenvolvimento do parque tecnológico brasileiro. Pelo menos no primeiro contato com as empresas estatais russas neste fim de semana, em São Petersburgo, segunda maior cidade do país, isso não parecia ser exatamente a expectativa da Rússia.

As duas estatais que receberam a comitiva brasileira agiram como se estivessem vendendo seus equipamentos e não demonstraram flexibilidade para atender as demandas do país. Mas devem consultar o governo nos próximos dias. Para Jobim, ainda não existe uma decisão política por parte dos russos, como aconteceu com os franceses na semana passada.

- O presidente Sarkozy falou com as companhias que os programas envolvessem parcerias com troca de todas as tecnologias, disse.

Ontem, a missão brasileira foi recebida pela fabricante de helicópteros estatal Spark, onde assistiu a simulações com o modelo de transporte Mi-171, para 36 pessoas.

- A conversa foi conduzida como se estivéssemos comprando. Isso não é uma viagem de compras, mas para criar parcerias. Queremos a transferência de tecnologia. Não vamos comprar algo para dar manutenção em outro lugar depois. Estamos pensando no desenvolvimento do país, do nosso parque tecnológico, disse Jobim, lembrando que a empresa russa tem um centro de manutenção em Vera Cruz, no México.

Durante a visita à fabricante de submarinos Rubin, conhecida pelo nome Escritório Central de Engenharia Marítima, o governo deixou claro que só queria a transferência de tecnologia para casco e partes não-nucleares, uma vez que já dispões de tecnologia do ciclo de combustível nuclear. Embora a fábrica russa produza submarinos de ataque (com armas nucleares), o Brasil está interessado num modelo de defesa, ou seja, sem este tipo de armamento. Neste primeiro contato, a resposta foi que os russos pretendem vender o modelo completo e não estão interessados em parceria.

Jobim espera mudança após conversa com ministros

Apesar das negativas dos primeiros dias de visitas à Rússia, o ministro ainda está otimista. Segundo ele, tudo pode mudar após as conversas de alto nível que terá nesta segunda-feira com o ministro de Assuntos Estratégicos russo, general Makarov (Vice-Ministro Chefe de Armamentos), e com o Vice-Ministro, general Eskim. Na terça-feira, a missão brasileira será recebida pelo Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, pelo Ministro da Defesa, Anatoly Serdyukov, e pelo Vice-Primeiro-Ministro do governo, Serguei Ivanov, um dos homens fortes de Vladimir Putin e possível candidato à pasta da Defesa após o fim do mandato do Presidente, ainda este ano.

A agenda de Jobim ainda inclui as tratativas com a estatal Rosobonorexport, que estuda a abertura de uma fábrica de veículos militares no sul do Brasil. Discute-se o projeto de criação de uma joint-venture para a construção de veículos blindados, algo próximo do Urutu.

Brasil e Rússia devem assinar em breve três acordos inéditos de cooperação técnica e militar. Os documentos, que devem servir de arcabouço jurídico para futuros projetos conjuntos, estão sendo elaborados entre as equipes dos dois países em Moscou. Eles prevêem o intercâmbio de militares em academias, projetos comuns e solução de controvérsias; troca de informações confidenciais; e propriedade intelectual para a proteção de patentes.

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