A FEB e o Brasil atual


Marcos Coimbra

Os jornais noticiaram que a Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (Anvfeb) iria encerrar suas atividades no final da semana passada, em virtude de falta de recursos e de apoio. Seu presidente, o honrado coronel Hélio Mendes, espera somente uma resposta final das autoridades ao seu apelo derradeiro de ajuda.

Em todo o mundo, os veteranos de guerra são cultuados e apoiados de todas as formas. Aqui, no Brasil de hoje, onde nossos heróis são vilipendiados por infâmias e calúnias proferidas por apátridas que se dizem brasileiros, não é de estranhar esta vergonha.

Existem recursos vastos de inúmeras fontes, principalmente públicas, com destaque para estatais, que doam a custo zero vultosos recursos, sob a desculpa de "apoio cultural", para ações sem qualquer valor cultural, muitas sequer concretizadas, como vários filmes, com o objetivo de transferir recursos escassos para meia dúzia de apaniguados pertencentes à "esquerda escocesa".

E o Brasil está sendo entregue a alienígenas, em especial a Amazônia, sem a devida reação da sociedade brasileira. A demarcação de "áreas indígenas", tal como está sendo feita, representa um atentado grave aos Objetivos Nacionais Permanentes do Brasil, configurando um verdadeiro crime de lesa pátria. O que nossos heróis da FEB pensam a respeito?

Aproveitamos este espaço para divulgar um breve extrato do importante pronunciamento feito pelo coronel Amerino Raposo Filho, de 86 anos, vice-presidente do Cebres, no dia 25 de abril passado, em Barueri, em cerimônia que ocorre todos os anos, homenageando nossos heróis de guerra, no tocante ao feito inesquecível, único em toda a Campanha da Artilharia Divisionária da FEB, em particular do 3º GO105.

"Após as operações iniciais vitoriosas da Artilharia no Vale do Arno e na Campanha do Reno, ocorre a exemplar atuação da Artilharia centralizada (4 Grupos), com crédito de 100 mil granadas, na ofensiva contra as posições defensivas alemães, nos Apeninos. E aí estão, fulgurantes, em sucessivos e violentos ataques, todos vitoriosos, Monte Castello, La Serra, Castelnuovo e Montese, de 21 Fev a 18 Abr 45; isolando-se Monte Castello e Montese como os mais sangrentos, com pesadas perdas. A partir de Montese, a FEB inicia o aproveitamento do êxito (Zocca e Parano); descentraliza-se a Artilharia para melhor apoiar a Infantaria.

"Nosso grupo ultimara deslocamento de uma jornada, atingindo a Cidade de Bibiano ao anoitecer de 27 Abr; acantonando e cedendo viaturas para a Infantaria. E quando tudo parecia findar, nossa Bateria recebe missão excepcional, para atuar descentralizada do Grupo e apoiar o 2º Btl/6º-RI, que iria reduzir, segundo informes, 200 alemães, desarmados, num bosque.

"Em 28 Abr, iniciamos o deslocamento noturno, de 70 milhas, rebocados por tratores do Grupo 155, com apenas 136 granadas e uma Carta Rv 1:100.000, ignorando a localização das tropas alemãs, valor, possibilidades operacionais. Atingimos Collechio, apenas com a LF.

"Durante a manhã, evolui a situação; informes indicam a presença de 1.200 Infantes, com armamento individual. Enviado ultimato para rendição, os alemães recusam e o Comandante do 6º RI ordena localizar e atacar o inimigo, sob forte temporal em toda a área.

"Situação dramática: nossa LF, inicialmente com pouca munição; tudo absolutamente improvisado; sem prancheta, nenhum tiro observado, ajustado, chuva torrencial; munição adicional trazida, às pressas, de Bibiano.

"Alemães contra-atacavam com patrulhas envolvendo uma Companhia, com trajetórias traçantes, de metralhadoras, que atingiam o bosque junto à nossa posição. Nenhuma idéia sobre a LC, das tropas alemães e das Companhias do Batalhão. Única referência: a Trajetória das Metralhadoras. Enfim, tudo improvisado, o comandante da LF determinando que cada peça atirasse num alvo fixo, formando um quadrilátero.

"Recrudesce o combate. Risco de as patrulhas abordarem nossa posição. Surpresa para todos nós. Ao final de uma jornada de intenso, duro combate, com muitas baixas, de oficiais e praças, os alemães se rendem, propondo evacuação imediata de mais de 800 feridos, a maioria grave, sem recursos médicos.

"Surpresa mais impressionante: éramos uns 500 homens; dos 200 soldados alemães desarmados, aos 1.200 com armamento individual, rendem-se duas divisões reduzidas (148 PzGr e 95 Bersaq. Itália), três generais, copioso armamento e equipamento; 16.452 homens.

Não sabíamos que eles eram tantos; nem eles, que éramos tão poucos! E vencemos o melhor soldado do mundo! Esse o cenário apoteótico do final da Guerra na Itália! Encerrado com brilho excepcional, a notável participação da 2ª BO.

"Qual o significado plural desta solenidade? Relembrar os feitos notáveis do Grupo Souza Carvalho; sobretudo, a Última Missão de Tiro da Artilharia, na Campanha da Itália; incorporá-los à História e às glórias da unidade; inspirar, indicar um futuro auspicioso para o Exército de Caxias.

"Como os Bandeirantes, que deste Planalto Paulista se lançaram para triplicar o espaço do Brasil Colonial, os "Novos Bandeirantes" desta região igualmente saíram em 1944, para Lutar e Vencer; e, se necessário, Morrer pelo Brasil!

"E, como eles, vós estareis - jovens integrantes do 20º GAC Leve - sempre prontos, como as Forças Armadas, à Defesa da Pátria, da Honra, da Soberania Nacional - impedindo e repelindo qualquer tentativa de relativização; mantendo intocáveis e substantivos os conceitos.

"Reafirmando, neste simbolismo, os mesmos propósitos, os mesmos ideais, o mesmo juramento; agora integrando, juntamente com o Heróico Batalhão de Caçapava, a Brigada Aero-Móvel, como Força de Ação Rápida, prontos para defender, como já vêm fazendo em inúmeras operações, a Amazônia Brasileira, principal Teatro de Operações para a Defesa Nacional.

"Sempre inspirados nos exemplos de Pedro Teixeira, Raposo Tavares, Rondon. Sempre lembrados das advertências históricas: "Esta terra tem dono! Vamos defendê-la!" (Raposo Tavares - 1617).

"Estareis sempre prontos, como as Forças Armadas, para fulminar tentativas de balcanização da Soberania e do espaço territorial da Amazônia. Eis, enfim, a saga heróica, dignificante, desta bateria, deste grupo e da nossa Artilharia. Esta a nossa glória, dignos, bravos integrantes do Grupo Bandeirante!

"Glória que fica, honra, eleva e consola! Glória de dever cumprido! Ontem, na Campanha da FEB na Itália; hoje, principalmente, vigilante na defesa da Amazônia. Sempre verticalizada, indicando o destino em Grande do Brasil!".

Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres), professor aposentado de Economia na Uerj e conselheiro da ESG.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem