Rússia deixa base da Geórgia e diz que Ossétia do Sul não está em risco

Tropas da Rússia entram em porto da Geórgia, acusa premiê georgiano; autoridade russa nega


Das agências internacionais

O primeiro-ministro da Geórgia, Lado Gurgenidze, acusou, nesta segunda-feira, que tropas russas entraram no porto georgiano de Poti, no mar Negro, um centro de transporte de petróleo e cargas. O conflito entre Geórgia e Rússia teve início na última quinta-feira (7), quando a Geórgia bombardeou a Ossétia do Sul, região separatista.

"De acordo com nossas informações, tropas russas entraram em Poti e estão também em Senaki e Zugdidi", disse Gurgenidze em uma mensagem televisionada, se referindo a duas outras cidades no oeste da Geórgia.

A informação, no entanto, é negada pelo Ministério da Defesa da Rússia, informou a agência de notícias Interfax nesta segunda-feira. "As tropas nunca receberam esta ordem", disse um representante do ministério.

Recuo russo

As tropas russas se retiraram da cidade georgiana de Senaki nesta segunda, segundo o ministério russo de Defesa, informaram as agências Ria-Novosti e Interfax. Os russos deixaram a base militar pois concluíram que não há mais risco de que a separatista Ossétia do Sul seja novamente atacada pelas tropas georgianas, que já haviam deixado o local.

A cidade fica a 150 km de Ossétia do Sul e a cerca de 50 km de Abjasia, outro território separatista da Geórgia. "As forças russas ocuparam a base militar de Senaki que havia sido abandonada e onde apenas estavam alguns soldados", disse o porta-voz do Ministerio do Interior georgiano, Chota Utiashvili.

Apesar disso, as forças russas ocupam "a maior parte" do território georgiano, segundo afirmou o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili. "A maior parte do território da Geórgia está ocupada", declarou o chefe de Estado em discurso transmitido pela televisão.

Segundo Saakashvili, a Rússia quer destruir a Geórgia, após admitir que as tropas russas cortaram a comunicação entre o leste e o oeste do país. "Cortaram (a ligação entre) leste e oeste. É a ocupação da Geórgia, a destruição da Geórgia", disse.

Segundo o presidente georgiano, as tropas russas "bloquearam as vias principais da Geórgia", o país "está bloqueado por terra, mar e ar" e "parte do território foi invadido". Saakashvili ressaltou que "a principal missão do inimigo é que a Geórgia deixe de existir como país livre e próspero, que deixe de existir em geral".

O presidente da Geórgia, que esta manhã assinou em presença internacional o compromisso escrito de cessar-fogo unilateral, lamentou que a comunidade mundial se limite ao "apoio moral" e às "palavras". "Queremos que a bárbara agressão seja detida", ressaltou Saakashvili.

As tropas russas entraram nesta segunda-feira pela primeira vez no território georgiano, fora das regiões separatistas pró-russas da Ossétia do Sul e da Abkházia. Com isso, a Geórgia anunciou que retirou suas tropas da cidade de Gori para reagrupá-las e defender a capital, Tbilisi, enquanto a Rússia negou planos de tomar a cidade. Segundo o governo da Geórgia, as tropas russas, que passaram o dia atacando Gori, onde nasceu Stalin, ainda não tomaram a cidade, informação confirmada pelo ministério da Defesa russo.

Limpeza étnica

O vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa russo, Serguei Ivanov, descartou hoje que haja um acordo de cessar-fogo com a Geórgia, um país que acusou de realizar uma "limpeza étnica" na Ossétia do Sul.

"Acuso os líderes georgianos de limpeza étnica, porque sua meta política era eliminar a população, uma ínfima população da Ossétia do Sul, porque sem ela é impossível reintegrar a Ossétia do Sul à Geórgia", afirmou Ivanov em entrevista à rede de TV americana "CNN". "Como resultado do que ocorreu, agora estou totalmente seguro que uma negociação política entre Geórgia e Ossétia do Sul jamais será uma realidade nas próximas décadas", acrescentou.

Perguntado sobre se a Rússia assinaria o pacto de fim de hostilidades assinado pelo presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, Ivanov disse que "não é um acordo de cessar-fogo". "Um cessar-fogo é assinado por ambas as partes quando se reúnem", ressaltou.

EUA x Rússia

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pediu que a Rússia acabe com sua ação militar na Geórgia, classificando a operação militar russa como uma inaceitável invasão de um Estado soberano.

"A Rússia invadiu um Estado soberano vizinho e ameaça um governo democrático eleito pelo povo. Tal ação é inaceitável no século 21", disse Bush.

"Há evidência de que as forças russas podem em breve começar a bombardear o aeroporto civil da capital do país. Se as informações forem precisas, essas ações russas representam uma escalada dramática e brutal do conflito na Geórgia", disse Bush a jornalistas na Casa Branca depois de retornar da China.

ONU

A Geórgia solicitou hoje uma quinta reunião de urgência do Conselho de Segurança das Nações Unidas para informar sobre a gravidade da situação no país devido à intensificação da ofensiva militar russa contra território georgiano.

Após vários países-membros negociarem uma minuta de resolução, o conselho deu início à quinta reunião de emergência. Fontes diplomáticas disseram que, depois de uma série de consultas, os membros do CS, a pedido da Geórgia, decidiram que a reunião aconteceria a portas fechadas.

Conflito

A Geórgia lançou um cerco à Ossétia do Sul na última quinta-feira (7), enviando tanques para a região separatista, em tentativa de retomar o controle do local. Na sexta-feira (8), tropas georgianas bombardearam a região, considerada um enclave pró-Rússia, em uma ampliação de um conflito que já perdura desde o início dos anos 90. Em resposta, a Rússia tem bombardeado a Geórgia. O confronto já deixou cerca de 40 mil refugiados, de acordo com a Cruz Vermelha.

Com 3.900 km², a Ossétia do Sul, região separatista da Geórgia, localizada no leste europeu, está em conflito com o governo georgiano desde o fim de 1990. A disputa começou quando a região se autoproclamou "república soviética", mas o parlamento da Geórgia, que estava se separando da URSS, decretou a dissolução da região autônoma. Desde então, sucessivos conflitos e tentativas de acordo marcam a disputa pela região.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, viaja amanhã à capital russa, onde deve abordar a situação com o chefe de Estado russo, Dmitri Medvedev.

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