FAB seleciona novos caças e exclui avião russo

Fabricantes dos EUA, França e Suécia vão concorrer à encomenda inicial de 36 jatos de combate
Daniel Rittner
, de Brasília
A Força Aérea Brasileira (FAB) eliminou metade das propostas e selecionou três fornecedores para a última fase do projeto F-X2, que resultará numa encomenda inicial de 36 caças de múltiplo emprego, com entregas a partir de 2014. Passaram à seleção final as aeronaves F-18 E/F Super Hornet (da americana Boeing), Rafale (da francesa Dassault) e Gripen New Generation (da sueca Saab). Em postura rara, os americanos enviaram cartas à FAB em que acenam com transferência de tecnologia e abertura de código-fonte de componentes dos aviões. Na correspondência com a Aeronáutica, mencionaram o excelente entendimento político com o governo brasileiro e manifestaram intenção de tratar o país como parceiro privilegiado na América do Sul. Ficaram de fora da lista o caça russo Sukhoi Su-35, bem como o americano F-16 (da Lockheed Martin) e o Eurofighter Typhoon (fabricado por um consórcio europeu). A ausência da Sukhoi surpreendeu especialistas em segurança e oficiais da reserva que acompanharam o projeto F-X original, cancelado em janeiro de 2005, pois a aeronave russa era apontada como uma das favoritas na ocasião e tinha a preferência do então ministro José Viegas, da Defesa. A eliminação da Sukhoi também frustrou a diplomacia russa, que vinha costurando uma aproximação com o Brasil na área militar e tinha o lobby dos caças como principal item da agenda comercial da provável visita ao país do presidente Dmitri Medvedev, prevista para fins de novembro. E enfraquece os planos do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, que participou da elaboração do Plano Estratégico de Defesa, de fechar parceria com a Rússia para o desenvolvimento conjunto de um caça de nova geração. Com a exclusão da Sukhoi, diminuem as chances de tirar do papel essa parceria, que chegou a constar de memorando de entendimento assinado por Mangabeira. Coincidentemente, no início desta semana Rússia e Índia anunciaram avanços em um projeto bilateral de desenvolvimento desse caça, cuja produção em série deve ser iniciada em 2015. De acordo com o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer), as informações dos fornecedores foram recebidas em resposta aos pedidos - RFI (sigla em inglês para "Request for Information") - enviados em junho. O processo de análise envolveu cinco áreas: operacional, logística, técnica, compensação comercial e transferência de tecnologia para a indústria nacional de defesa. O Cecomsaer afirmou que não houve interferência política na seleção. O Valor apurou que a fase seguinte de negociações deve começar no fim de outubro, com o envio de novas cartas aos fornecedores - "Request for Proposal" (RFP) - em que serão pedidos detalhes das propostas. A intenção da FAB é concluir todo o processo de análise em 2009, a fim de evitar que a discussão se estenda a 2010. Os militares temem que, em ano eleitoral e às vésperas da escolha de um novo presidente, a compra seja adiada mais uma vez por pressão política. A aquisição dos 36 caças deverá custar de US$ 2 bilhões a US$ 2,5 bilhões, financiados ao longo de vários anos. O valor final depende da configuração das aeronaves e a própria FAB diz que há "potencial" para a encomenda de 120 caças no total. A Aeronáutica terá pela frente, na próxima década e meia, o desafio de renovar boa parte da frota. Os Mirage 2000C, comprados de segunda-mão da França há três anos, começam a ser desativados em 2015. A partir de 2021, será a vez dos F-5M, que recentemente passaram por modernização pela Embraer. Em 2023 tem início a aposentadoria dos AMX. Cada fornecedor encaminhou à FAB de três a quatro mil páginas com as características dos caças e as propostas iniciais ao governo brasileiro. Na avaliação da Aeronáutica, o Sukhoi foi descrito como um "pesadelo logístico": a autonomia de vôo decepcionou, o peso do caça carregado com armamentos chega a 30 toneladas (contra, por exemplo, 24,5 toneladas do Rafale) e a troca de turbinas requer muito mais horas de trabalho do que a do F-18 americano. Na evolução das negociações, segundo apurou o Valor, a FAB tentará garantir a abertura do código-fonte, sem restrições, do sistema de integração de armamentos e do data-link (a troca de dados entre os caças em vôo, bem como entre eles e as bases terrestres). Quanto à performance dos caças pré-selecionados, a FAB avaliará, em especial, duas características: superioridade aérea (missões de combate e escolta, que demanda mísseis) e interdição (missões ataque em solo, que privilegiam bombas). O Rafale agrada a muitos militares, mas tem no alto custo uma das desvantagens. Nesse quesito, o Gripen NG é considerado imbatível, por ser o único monomotor entre os finalistas. O problema é que até agora só existe um protótipo da aeronave, lançada em abril. O F-18 tem maior economia de escala por já ter sido vendido a vários países.

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