General insurgente pede negociação direta com Congo



GOMA (Congo) - O general insurgente que cercou a cidade de Goma, no leste da República Democrática do Congo (antigo Zaire), disse ontem que quer conversações diretas com o governo central do país para finalizar os combates na região. Ele também quer discutir as objeções que faz a um acordo de US$ 5 bilhões, fechado entre o governo e a China, que dá acesso aos chineses às vastas reservas minerais congolesas, em troca da construção de uma ferrovia e de uma auto-estrada.

O insurgente Laurent Nkunda disse que pede o urgente desarmamento da milícia ruandesa dos hutus, à qual ele acusa de atacar o seu povo, a minoria tutsi. Ele afirma que o governo congolês não protegeu a minoria tutsi, que tem sido vítima da milícia ruandesa hutu, que escapou de Ruanda para o Congo após 1994, quando os hutus mataram meio milhão de tutsis em um genocídio.

Nkunda diz que as tropas regulares do Congo estão colaborando com os hutus ruandeses, uma acusação que o governo do Congo nega. "Não é aceitável que soldados do governo estejam lutando ao lado de genocidas", disse Nkunda. "Nós queremos a paz para as pessoas na região", afirmou.

Nkunda ameaça tomar a cidade de Goma, que é um local na fronteira com Ruanda, apesar dos alertas do Conselho de Segurança das Nações Unidas para que respeite o cessar-fogo firmado em janeiro deste ano. A rebelião de Nkunda ameaça recomeçar as guerras que devastaram o Congo entre 1996 e 2002, envolvendo vários países africanos vizinhos.

A força de paz da ONU, com 17 mil soldados, tenta proteger a população e frear a rebelião.

Ontem, a força da ONU fez um apelo por mais tropas e disse que a situação é dramática. Nkunda lutou ao lado dos tutsi ruandeses, que pararam com o genocídio e depois tomaram o poder em Ruanda.

Os tutsi ruandeses depois ajudaram os rebeldes do Congo a derrubarem o ditador Mobutu Sese Seko em 1997. Nkunda, no entanto, deixou o exército congolês em 2005, quando o governo expediu uma ordem de prisão contra o general e acusou-o de vários crimes de guerra.

A Human Rights Watch, entidade de defesa dos direitos humanos com sede em Nova York, afirma ter documentadas várias execuções sumárias, torturas e estupros cometidos por soldados sob as ordens de Nkunda, entre 2002 e 2004. Em entrevista à Associated Press, Nkunda nunca usou a palavra tutsi e disse que sua missão é proteger o povo congolês. Os hutus formam o maior grupo tribal no leste do Congo, perfazendo mais de 40% da população. Os tutsi são apenas 3%.

Nkunda recomeçou a rebelião em 28 de agosto, quando afirmou que o governo havia quebrado o cessar-fogo. A luta já provocou que mais de 200 mil pessoas virassem refugiadas, informaram as Nações Unidas. Nkunda tomou vastas extensões de território do Exército do Congo.

Uma investigação da ONU em 2001 sobre a exploração ilegal dos recursos naturais do Congo descobriu que o conflito no país virou, em grande parte, uma guerra para obter "o acesso, o controle e o comércio" dos cinco recursos minerais mais importantes do Congo: diamantes, cobre, cobalto, ouro e nióbio.

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