Sob pressão, Israel afasta possibilidade de acordo de cessar-fogo; ao menos 540 pessoas já morreram nos combates



Os Estados Unidos e a União Europeia aumentaram a pressão por um cessar-fogo no conflito entre israelenses e palestinos do Hamas, na faixa de Gaza, nesta segunda-feira. A ministra israelense das Relações Exteriores, Tzipi Livni, afastou qualquer possibilidade de acordo.

Em Israel, representantes da União Europeia se reuniram com Tzipi Livni. O ministro tcheco das Relações Exteriores, Karel Schwarzenberg, pediu por um cessar-fogo "o mais rápido possível" e frisou que os ataques a Israel também devem terminar.

"A União Europeia não trouxe nenhum proposta de trégua, pois o cessar-fogo deve ser feito pelas partes envolvidas", disse Schwarzenberg.

A ministra Tzipi Livni afirmou que a operação faz parte de uma mudança de regras no combate contra o Hamas após sete anos de ataques com foguetes à cidades israelenses. "Quando Israel vira alvo, Israel vai retaliar", apontou.

Livni também rechaçou a presença de observadores internacionais em Gaza e falou que Israel necessita de mais tempo para completar a operação, ao negar qualquer tipo de acordo com os palestinos. "Não firmamos tratos com terroristas. Nós lutamos contra eles", disse.

Os Estados Unidos também aumentaram a pressão por um acordo. Segundo o Departamento de Estado norte-americano, o cessar-fogo incluiria as exigências de Israel.

Do lado palestino, uma delegação de alto nível do movimento islâmico palestino Hamas chegou ao Cairo para discutir na terça-feira com responsáveis egípcios como colocar fim aos ataques israelenses na Faixa de Gaza, informou a agência oficial "Mena".

A delegação é liderada pelos dois dirigentes do Hamas, Imad al-Alami e Mohammed Nasr, segundo a fonte, que não deu outros detalhes sobre a agenda de reuniões com as autoridades egípcias.

Não foi anunciado oficialmente quem presidirá a delegação egípcia que conversará com a missão do Hamas, mas, no passado, o encarregado destes contatos foi o chefe dos serviços de informação do Egito, general Omar Suleiman.

A agência explicou que o Governo egípcio tinha informado Abbas dos contatos com o Hamas e de sua reunião com o grupo amanhã para estudar as medidas necessárias para obter um cessar-fogo em Gaza.

O ministro de Assuntos Exteriores egípcio, Ahmed Aboul Gheit, afirmou que a visita da delegação do Hamas tem o objetivo inicial de conversar para conseguir um cessar-fogo na Faixa de Gaza, atacada pelas Forças Armadas israelenses desde 27 de dezembro.

"Pedimos o envio de uma delegação do Hamas capaz de adotar decisões sobre como se pode conseguir um cessar-fogo, ajudar os palestinos a sair desta situação e conseguir uma reconciliação", disse Gheit ao canal de televisão saudita "Al Arabiya".

Décimo dia de combate

No décimo dia da ofensiva israelense na faixa de Gaza, os soldados do Exército travaram os primeiros confrontos diretos com militantes do Hamas nesta segunda-feira na Cidade de Gaza. De acordo com o jornal britânico Guardian, tropas israelenses revistaram casas em busca de militantes do grupo islâmico, e o conflito armado terminou com a morte de ao menos 14 crianças palestinas.

No terceiro dia da invasão terrestre, que consistiu na busca e destruição da infra-estrutura terrorista no território palestino, o Exército israelense dividiu a faixa de Gaza em três. Segundo um oficial de segurança, as tropas posicionadas ao norte já completaram a missão e as Forças de Defesa se posicionam para possíveis invasões a áreas urbanas mais populosas da faixa de Gaza.

De acordo com fontes médicas locais, ao menos 540 pessoas já morreram desde o início dos ataques de Israel em 27 de dezembro, e cerca de 200 civis estão entre as vítimas. O Ministério da Saúde palestino estima que ao menos 90 pessoas foram mortas desde que soldados israelenses entraram por terra em Gaza, no sábado. A maioria das vítimas seriam civis que tentavam se proteger em suas próprias casas. O número de feridos já passa de 2.300.

Hamas anuncia ataques e "vitória"

No entanto, o líder mais influente do Hamas em Gaza, Mahmud al-Zahar, prometeu nesta segunda-feira a "vitória" do movimento radical islâmico palestino contra Israel, enquanto o ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, afirmou que a cidade de Gaza está parcialmente cercada, no terceiro dia da ofensiva terrestre israelense.

"A vitória está chegando, com a graça de Deus", falou Zahar em um discurso lido no canal de televisão do Hamas, Al-Aqsa, o primeiro dele desde o início da ofensiva em larga escala de Israel em Gaza, no dia 27 de dezembro. O braço militar do Hamas, as Brigadas Ezzedine al-Qassam, "deram os mais belos exemplos de confronto com um exército que o mundo acredita ser invencível. Vamos vencer com a graça de Deus", insistiu em um discurso transmitido pela televisão do Hamas, a Al-Aqsa.

A aviação de Israel atacou mais de 30 objetivos na faixa de Gaza na madrugada desta segunda-feira, informou uma porta-voz militar em Tel-Aviv. "Especialmente uma mesquita em Jabaliyah, onde armas eram escondidas, assim como casas onde também eram armazenadas armas, veículos que transportavam lança-foguetes e homens armados", disse a porta-voz.

"As forças terrestres continuaram seu avanço, apoiadas pelos bombardeios de navios da Marinha", acrescentou. O Exército israelense iniciou no sábado à noite uma ofensiva terrestre, entrando na faixa de Gaza controlada pelo movimento radical Hamas. Desde o início da ação, um soldado israelense morreu e 45 ficaram feridos, três deles em estado grave

Segundo testemunhas, os navios israelenses também bombardearam as principais avenidas do território palestino. Os militares hebreus dividiram em três a cidade de Gaza. As tropas israelenses assumiram posições na antiga colônia de Netzarim pela primeira vez desde a retirada de Israel da faixa de Gaza em 2005. Na região norte, as tropas israelenses avançaram até o campo de Jabaliyah.

Ehud Barak, ministro da Defesa de Israel, declarou na comissão de Relações Exteriores e Defesa do Parlamento israelense, que excepcionalmente não se reuniu a portas fechadas, que Gaza está parcialmente cercada.

As declarações do ministro da Defesa confirmam as descrições de testemunhas, segundo as quais os carros blindados israelenses se encontram no sul, norte e leste da cidade de Gaza.

"Atingimos duramente o Hamas, mas ainda não alcançamos todos os objetivos que fixamos e a operação continua", acrescentou. "Fazemos tudo que um Estado deve fazer para defender seus cidadãos. Queremos que os ataques contra nossos cidadãos e nossos soldados parem", afirmou ainda, precisando que o reabastecimento de armas do movimento islamita deve cessar.

Situação dramática em Gaza

A operação de Israel já matou pelo menos 517 palestinos na faixa de Gaza, onde os tanques israelenses assumiram no domingo o controle de vários eixos estratégicos, enfrentando em alguns pontos os combatentes do Hamas.

A guerra provocou uma importante degradação da situação humanitária, por si só já precária, na região de 362 km2, onde vivem 1,5 milhão de pessoas.

A energia elétrica foi cortada na maior parte e se agrava a carência de combustível. A maioria das lojas está fechada e falta comida nos poucos estabelecimentos ainda abertos.

Um comboio de ajuda humanitária internacional entrou na manhã desta segunda-feira na faixa de Gaza a partir de Israel, segundo o porta-voz do coordenador de atividades israelenses nos territórios palestinos, Peter Lerner.

A ajuda - medicamentos e produtos básicos - procede da Grécia, Jordânia, Egito, de empresas privadas e de organizações humanitárias internacionais, em particular a Agência das Nações Unidas de Ajuda aos Refugiados Palestinos (UNRWA), diz ele.

O porta-voz acrescentou que o terminal de Nahal Oz foi aberto para permitir o envio de 200.000 litros de combustível, destinado principalmente a uma central de energia elétrica de Gaza, assim como 120 toneladas diárias de gás doméstico.

Lerner disse ainda que 200 palestinos com outras nacionalidades - noruegueses, alemães, filipinos, poloneses, romenos, austríacos, espanhóis, franceses e canadenses - serão autorizados a sair da faixa de Gaza pela passagem de Erez.

Por fim, o diretor do serviço de inteligência militar israelense, Amos Yadlin, advertiu para a possibilidade de um ataque do Hezbollah xiita libanês na fronteira Israel-Líbano, informou a rádio militar nesta segunda-feira.

De acordo com Yadlin, citado pela emissora, a milícia xiita libanesa poderia utilizar como pretexto a ofensiva militar israelense iniciada em 27 de dezembro contra o Hamas na faixa de Gaza para abrir "uma segunda frente".

Israel decidiu mobilizar dezenas de milhares de reservistas e os oficiais podem, em parte, ser deslocados para a defesa da fronteira norte do país no caso de ataque do Hezbollah.

Ainda de acordo com a rádio, autoridades militares israelenses descartaram a possibilidade de uma provocação direta do Hezbollah, mas consideram que organizações armadas palestinas presentes no Líbano podem entrar em ação.

Com agências internacionais

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