França e Emirados: um roteiro para o F-X2?



Nelson During
com Informações TTU France

Se o aumento das relações entre a França e Emirados Árabes Unidos é incontestável, os participantes franceses à IDEX observaram que permanece ainda um longo caminho a percorrer antes que a relação ganhe corpo (diplomático, militar, econômico, comercial e cultural).

A próxima visita do presidente Nicolas Sarkozy, prevista para Maio próximo, tem por conseguinte uma importância específica. Poderia marcar um momento decisivo entre os dois países, se certos fatores forem tomados em conta.

Primeiro, o Presidente inaugurará as instalações militares francesas nos Emirados, o que sinalizaria compromisso francês em relação ao acordo de defesa comum assinado entre os dois países. Esperando a chegada das primeiras unidades de soldados de infantaria na base francesa local, os três Mirage do Armée de l´Air continuam as suas missões diárias com as Forças Aéreas dos Emirados a partir da base de Al Dhafara, que protege também elementos americanos e italianos.

Os Emirados desejam que os Franceses substituam os Mirages estacionados no país pelo Rafale. Durante a IDEX foi confirmado que os Emirados estão prontos para anunciar as escolhas das empresas que devem realizar diversos programas de grande porte tanto nas áreas civil como militar (central de tipo RPE, aviões de combate de quinta geração…). Empresas francesas estão competindo para ganhar estes contratos. O que necessitam é uma presença permanente e de contactos ampliados com os Emirados. Porém os Emirados Árabes Unidos foram surpreendidos pelas ausências de diversos CEOs francese (Thales, Safran, Dassault, EADS)

É verdadeiro que a crise econômica e a baixa do preço do petróleo ameaçam diversos programas, mas a situação dos Emirados é melhor, tendo em conta suas reservas financeiras (primeira no mundo árabe e quarta no mundo). Além disso, apostar somente nas relações entre Abu Dhabi e Paris não é suficiente para ganhar contratos: os outros países fazem também esforços. A Itália consegue, pela primeira vez, superar a França no comércio com os Emirados em 2008.

Os Emirados pedem também compromissos detalhados quando da assinatura dos contratos (referentes às especificações e padrões). Os Emirados emitiram uma declaração das intenções da aquisição do Rafale. O que foi confirmado na IDEX.

Mas há condições:

Primeiro - O desenvolvimento de um motor mais potente. (Em 2006 a DGA e a SNECMA anunciaram o programa de demonstração M88 ECO, com uma previsão de 10 a 15% no empuxo, passando de 17.500 para 19.800 libras de empuxo. Os objetivos são de aumento de performance (empuxo) e redução do custo operacional (combustível e manutenção). Porém a preferência tem sido dada ao último como a versão M88-2E1 que está em operação nos Rafales, que obteve 2 a 4 % e menos de consumo com redução das atividades de manutenção).

Segundo - Integrar ao Rafale as armas atualmente em uso nos Mirage 2000-9 (O míssil de cruzeiro Black Shahine derivado do Storm Shadow-Apache da MBDA, em uso no Mirage 2000-9, foi proibido de ser integrado ao F-16 E/F pelo Departamento de Estado americano. Durante a IDEX a Raytheon confirmou um acordo entre os governos dos Emirados e Estados Unidos para a venda de 224 mísseis BVR AIM-120C7 AMRAAM, para equipara os F-16E/F)

Terceiro - Adquirir as mais avançadas tecnologias (não as defasadas ou ultrapassadas) e nomeadamente o míssil BVR Ar-Ar Meteor.

Quarto - Reforçar as trocas comerciais. O que passa por um papel mais ativo das PME (Pequenas e Médias Empresas), como fazem os Alemães e Italianos (não se concentram somente nos grandes programas).

Quinto - A devolução dos 60 Mirage 2000-9 de modo que a Força Aérea compre 60 Rafales (30 Mirage 2000-9 adquiridos em 1998 e 33 Mirage 2000 SAD8 modernizados ao padrão 9)

Convirá também evitar as querelas franco-francesas consolidando o gerenciamento dos programas em um único interlocutor (nota Editor – O Programa Rafale tem três grandes partners que são a Dassault Aviation, Thales e SNECMA/SAFRAN).

Por último, os Emirados decidirão as prioridades do projeto, que Paris deverá ter em conta. A criação da nova entidade “Critical National Infrastructures Authorities” é uma prova. Colocada sob a autoridade do Príncipe herdeiro e chefe de Estado-Maior, o Sheik Mohammed, e dirigida pelo general Sheik Akhmed Ben Tahnoun, antigo comandante de regimento de carros de combate Leclerc, agrupa as guardas de fronteira, a guarda-costeira e as unidades de proteção das instalações sensíveis. Isso demonstra que as atividades de Defesa Territorial (Homeland Security) tornam-se prioritárias.

Como Afirmou Guy Teissier, presidente da Comissão Defesa da “Assemblée Nationale” , que chefiou a delegação parlamentar francesa à IDEX, a França tem posições sólidas nos Emirados. Existe uma vontade política dos Emirados Árabes Unidos de reforçar as relações com a França, de ser “o aliado escolhido” (allié choisi), contrariamente aos Americanos, “o aliado obrigado” (allié obligé).

Os Emirados Árabes Unidos possuam talvez o conhecimento único no mundo da introdução de novas tecnologias aéreas além dos EUA, Rússia, França e Inglaterra. Foram os Emirados os lançadores da versão mais avançada do F-16 E/F Desert Falcon (Block 60) que introduziu uma série de novidades, como o radar AESA e a turbina General Electric F110-GE-132 com 32.500 libras de empuxo). Antes tinham sido da melhor versão da família Mirage o Mirage 2000-9. A versão -9 é similar em muitos aspectos ao Mirage 2000BR oferecido no extinto Projeto F-X.

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