“O teste empurrará as tensões até o limite”

“Um conflito militar na Península Coreana imediatamente resultaria na perda de centenas de milhares, senão de milhões de vida”



Rodrigo Craveiro

Ele já serviu na Coreia do Sul, Europa, América Central e Golfo Pérsico. Viveu os bastidores do Pentágono e, entre 1999 e 2001, atuou como líder da Equipe de Ação em Crise do Comando Central dos Fuzileiros Navais. Sua missão nesse cargo era monitorar o que ocorria dentro do território norte-coreano.

Também participou, por quatro vezes, do Ulchi-Freedom Guardian, um treinamento militar conjunto dos Estados Unidos e da Coreia do Sul. Em entrevista ao Correio, por e-mail, o norte-americano Andy Harp — coronel aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e autor do livro O trovão do Norte (Bancroft Press, 2007) — fez uma previsão aterradora para o caso de um possível confronto militar na Península Coreana.

Como o senhor vê o aumento de tensões no Leste da Ásia?

As Forças Armadas norte-coreanas têm o quarto maior exército do mundo. A artilharia nortecoreana está posicionada a 60km de Seul, capital de 12 milhões de habitantes. Tóquio está a menos de 960km da costa norte-coreana. A Coreia do Norte se prepara para lançar um míssil intercontinental que tem o potencial de atingir o oeste dos EUA. A tecnologia militar norte-coreana nunca foi uma ameaça como agora. Se funcionar, o míssil Taepodong 2 poderá alcançar mais de 3.200km e levar uma ogiva de 390kg a 997kg. Há poucos confrontos no mundo com uma magnitude dessas. Além disso, a Coreia do Norte terá a capacidade de alcançar vários satélites em órbita. O principal risco é de que as tensões aumentem instantaneamente. O teste com o míssil empurrará as tensões ao limite.

No caso de um conflito, qual seria o impacto para a região do Extremo Oriente?

Um conflito militar na Península Coreana imediatamente resultaria na perda de centenas de milhares, senão milhões de vidas, e o deslocamento de milhões de pessoas. Um sexto da economia mundial seria devastado pela guerra. A Coreia do Norte está armada até os dentes. Ela tem mais de 8.200 bunkers, milhares de peças de artilharia, mísseis de curto alcance e 35 submarinos. Acredita-se que ela tenha processado 30,8kg de plutônio, suficientes para fabricar de quatro a seis bombas nucleares.

Mas Pyongyang teria condições de provocar baixas significativas ao Japão e à Coreia do Sul?

A Coreia do Norte certamente tem a capacidade de infligir danos catastróficos à Coreia do Sul e, em certo grau, ao Japão. A nação de 23 milhões de habitantes gastou nas últimas décadas cerca de 24% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em arsenal. Ainda que os Estados Unidos se sentissem na obrigação de defender a Coreia do Sul, o conflito poderia escalar tão rapidamente que as perdas excederiam ainda no primeiro dia as ocorridas no Iraque e no Afeganistão. A única esperança é que a liderança da Coreia do Norte saiba que isso seria um evento de destruição mútua.

Por que a Coreia tem agravado tanto sua retórica?

A Coreia do Norte sustenta que o teste com o míssil é um esforço legítimo para lançar seu próprio sistema de satélites e que nenhuma nação deve se privar desse direito. A maior parte dos analistas é cética sobre isso. Em primeiro lugar, a Coreia do Norte tem sido um dos maiores fornecedores de armas do mundo. O sistema de mísseis iraniano é similar ao Taepodong e os dois países têm cooperado no desenvolvimento de armas. A Coreia do Norte precisa de dinheiro e a venda de suas armas é uma das melhores maneiras de se obtê-lo. Um teste de míssil bem-sucedido de Pyongyang a ajudaria a vender seu foguete a outros países. Em segundo lugar, a Coreia do Norte sabe que os EUA estão envolvidos em duas guerras e que o mundo enfrenta uma profunda recessão.

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