Médico contabiliza ao menos 378 mortos após conflito no Sri Lanka


em Colombo

Conflitos na zona de guerra do Sri Lanka mataram aos menos 378 civis, feriram mais de 1.100 pessoas e fizeram com que milhares buscassem refúgio em abrigos próximos à praia, informou o médico V. Shanmugarajah neste domingo.

Os confrontos ocorrem no norte da ilha, perto da região de Mullivaaykaal. Uma barreira com artilharia originou o dia mais sangrento em meses de luta entre os rebeldes da etnia tâmil e as Forças Armadas do Sri Lanka. Os dois lados responsabilizam um ao outro pelas perdas civis.

Shanmugarajah afirmou que muitos outros foram mortos na barreira, mas que foram enterrados no local. O médico trabalha em um hospital do governo na área de conflito. Ele descreveu a situação como "sobrecarregada" em relação ao trabalho na instituição de saúde. "Nada está sob o nosso controle", ele afirmou.

A maioria dos médicos e enfermeiros fugiram há muito tempo e até mesmo os voluntários para cavar covas são poucos.

Um site afiliado aos rebeldes, o Tamilnet, acusou o governo de matar ou ferir cerca de 2.000 civis. Os militares do Sri Lanka negam que tenham atirado nos civis e acusaram os rebeldes de lançar morteiros em uma área densamente povoada.

"Os rebeldes estão tentando usar estas pessoas como sua última arma para mostrar ao mundo que o Exército está atirando indiscriminadamente", Udaya Nanayakkara, porta-voz militar, afirmou.

Relatos da batalha são difíceis de verificar porque o governo barra jornalistas e trabalhadores de ajuda humanitária da região de conflito.

A força rebelde, que há 25 anos luta para uma pátria para a minoria tâmil, está concentrada em uma parte pequena do território na costa nordeste da ilha.

O governo se comprometeu há duas semanas a cessar o uso de armas pesadas no combate para evitar a morte de civis. No entanto, médicos na área relataram que bombardeios aéreos e ataques de artilharia continuaram mesmo com a presença de cerca de 50 mil civis tâmil na zona de conflito.

O governo enviou suprimentos médicos para a área de guerra nos últimos dias, mas a falta de pessoal dificulta o tratamento, segundo Shanmugarajah.

"Nós estamos fazendo os primeiros socorros e algumas cirurgias o mais rápido que podemos. Estamos fazendo o que é possível", disse o médico.

Crimes de guerra

A ONG Human Rights Watch acusou neste sábado os militares de repetidamente atingirem hospitais na zona de guerra e de ataques aéreos que mataram muitas pessoas. A ONG também pediu que os comandantes envolvidos em tais ações sejam processados por crimes de guerra.

Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) indicam que no último mês cerca de 6.500 civis foram mortos neste ano como consequência da renovação dos esforços do governo na guerra. Nos últimos meses, as forças do governo empurraram os rebeldes para uma pequena porção do território.

O governo ignorou pedidos de cessar-fogo devido às questões humanitárias com o argumento de que qualquer pausa dará aos rebeldes a oportunidade de se reagruparem.

Os rebeldes

Os rebeldes lutam desde 1983 por um Estado separado para a minoria tâmil, que sofre há décadas de uma marginalização com o governo controlado pela maioria cingalesa.

O governo acusa os rebeldes de usar os civis no norte como escudos humanos e Nanayakkara acusou os insurgentes de atirar em famílias que tentavam fugir da zona de guerra ontem, matando ao menos nove pessoas.

Deportação

No entanto, a pressão de relatos críticos às ações do governo vem aumentando. Hoje, o Sri Lanka deportou três jornalistas do canal britânico Channel 4. Os profissionais de imprensa foram presos ontem acusados de manchar a imagem das forças de segurança após uma reportagem sobre as condições dos deslocados de guerra e de abuso sexual nos campos, algo que o governo nega.

Lakshman Hulugalle, líder do Centro de Informação de Segurança do Governo, disse que os jornalistas admitiram ter feito algo errado e que não podem voltar ao Sri Lanka. No entanto, Nick Paton-Walsh, correspondente do canal na Ásia, negou ter feito uma declaração do gênero à polícia.

"Isto é uma completa asneira", disse Paton-Walsh de Cingapura, após sua deportação.

Segundo a Anistia Internacional, ao menos 14 jornalistas foram assassinados no exercício da profissão no Sri Lanka desde o início de 2006. Outros foram presos, torturados ou desapareceram. Ao menos 20 fugiram do país devido a ameaças de morte.

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