Brasil não aceita versão dos EUA sobre bases

Explicação de assessor de Obama é rejeitada; Lula espera recuo de Uribe

Denise Chrispim Marin, BRASÍLIA

O governo brasileiro não aceitou a versão dos EUA sobre as bases militares que o país quer usar na Colômbia. O general Jim Jones, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, ouviu ontem no Palácio do Planalto que o acordo EUA-Colômbia sobre as bases "parece resquício da Guerra Fria". A declaração engrossa a lista de divergências entre Brasília e Washington e pode pôr em risco a expectativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de construir uma relação bilateral mais profunda com o governo de Barack Obama.

A expectativa brasileira é que a reação dos países da América do Sul leve a Colômbia a desistir do acordo.

"Afirmei que o presidente Lula manteve muito boas relações com o ex-presidente (George W.) Bush e alimenta uma expectativa ainda maior com Obama. Portanto, esperávamos que essa expectativa não viesse a ser frustrada", afirmou o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. O general leva para os EUA um recado: "Não desperdicem essa opinião favorável que existe no continente sobre Obama", contou Garcia.

O assessor relatou que, na conversa com Jones, enfatizou que a posição brasileira não era "idiossincrática" nem "ideológica", mas o ponto de vista de um governo que se relaciona muito bem com Colômbia e EUA. Para ele, a presença americana nas bases próximas à fronteira com a Amazônia brasileira também pode significar risco à soberania nacional. Isso porque ainda não há detalhes sobre os objetivos dessas bases.

O general americano não dirimiu as dúvidas de Garcia. Apenas repetiu que o efetivo dos EUA na Colômbia não deve aumentar e afirmou que as bases estariam voltadas a ações humanitárias e no combate ao tráfico.

"Cachorro mordido por cobra tem medo até de linguiça", resumiu Garcia, ao explicitar o temor de que as bases venham a abarcar objetivos que possam ferir a soberania nacional. "O fato de as bases existirem na região não nos parece um fator que contribua para a distensão."

CUSTO-BENEFÍCIO

A expectativa do governo brasileiro é a de que essa polêmica seja extinta com um recuo da Colômbia. A ocasião para tratar do assunto se dará amanhã, quando o presidente colombiano, Álvaro Uribe, desembarcará em Brasília para uma audiência com Lula. "Uribe avaliará o custo-benefício disso", declarou Garcia. Ele adiantou também que Lula insistirá para que Uribe participe da reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), no dia 10, em Quito, Equador.

Tanto no Palácio do Planalto quanto no Ministério da Defesa, a atual crise em torno das bases teve como ponto de partida a falta de consultas prévias aos países vizinhos e a repetição, de um modo confuso, de uma medida militar americana com impacto no Hemisfério Sul, como ocorreu com a reativação da 4ª Frota Naval americana, no ano passado.

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