Para ministro francês, "avião não tem a ver com acidente"

Segundo a Marinha, falha humana é hipótese mais provável para explicar queda dos Rafale Nelson Jobim afirma que acidente não "interfere em absolutamente nada" no processo de compra de caças entre a Dassault e o Brasil

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

O ministro francês da Defesa, Hervé Morin, privilegiou nesta sexta-feira a hipótese de falha humana para explicar o acidente com os dois caças franceses Rafale que caíram no mar Mediterrâneo há dois dias. Em entrevista coletiva na cidade de Toulon, no sul da França, próximo ao local do acidente, o ministro procurou dar garantias sobre a qualidade dos caças.

"O que sabemos, com base no depoimento do piloto, é que, a princípio, o avião não tem nada a ver com tudo isso e que se trata de acidente de voo", disse.

Segundo Morin, os elementos recolhidos e o depoimento do piloto que foi resgatado com vida indicariam que a hipótese mais provável é a de que os aviões tenham se chocado no ar durante voo de treinamento.

O ministro disse, entretanto, que é cedo para determinar as causas com precisão.

Os caças, similares aos que o Brasil vem negociando com a França, caíram no mar Mediterrâneo, a cerca de 30 km da cidade de Perpignan, no sul da França, pouco após as 18h, hora local (13h de Brasília). Segundo a Marinha francesa, o acidente ocorreu quando os caças se reagrupavam para voltar ao porta-aviões Charles de Gaulle.

O cenário que vem sendo privilegiado pela Marinha é o de uma colisão causada por manobra brusca à esquerda feita por uma das aeronaves, a cerca de 60 km do porta-aviões.

O piloto Yann Beaufils, 40, que sobreviveu, contou a Morin que seu avião perdeu o controle e que, quando foi ejetado, pôde ver o avião do colega que continuava a voar. "Poucos minutos depois, perdemos o contato de radar com o segundo caça", disse Morin, que informou que as buscas pelo piloto vão continuar "pelo tempo necessário".

Segundo Morin, os pilotos acumulavam, cada um, entre 3.000 e 5.000 horas de voo.

A hipótese de erro humano em detrimento da falha técnica é considerada a mais provável pelos especialistas e pilotos ouvidos pela Folha. Segundo o ex-piloto da Aeronáutica francesa e autor de um livro sobre o Rafale, Germain Chambost, os exercícios de treinamento procuram reproduzir o chamado "fight dog", ou seja, condições extremas de combate em que os aviões têm que voar em velocidades muito elevadas e próximos um ao outro. "Nessas condições, somente contam os olhos e o cérebro do piloto."

O jornalista e consultor em questões militares e de defesa Michel Chevalet também explica que, ao contrário dos chamados TCAS (Traffic Collision Avoidance System), o sistema contra colisão usado nos aviões civis, os caças de combate não contam com mecanismos similares. "Os aviões de combate são feitos para evoluir, o tempo todo, muito perto do solo ou próximo a outras aeronaves em situação de combate. Se existisse sistema de alerta, seria disparado o tempo todo."

O comando da Aeronáutica brasileira informou que pediu às autoridades francesas acesso a informações sobre as investigações. Um assessor do ministério da Defesa francês disse não ter conhecimento de contato entre o Ministério da Defesa e o governo brasileiro.

O ministro Nelson Jobim (Defesa) disse ontem que a queda dos Rafale não interfere nas negociações com a Dassault. "Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Não interfere em absolutamente nada [no processo de compra]. A questão do acidente é normal."

Colaborou a Sucursal de Brasília

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