As bases dos EUA e a intervenção

Editorial – Jornal do Brasil

A revelação pelo JB das dúvidas em torno da real utilização das bases cedidas pela Colômbia para os EUA joga luz sobre uma discussão antiga. Afinal, qual é o limite entre uma instalação de observação e uma plataforma de intervenção? Em termos Militares, a diferença entre ambas está apenas no tipo de alarme que aciona os soldados ali acantonados. A questão, então, passa a ser política. Se o uso de aeródromos pode ser rapidamente modificado, então nada mais lógico que acordos como o que permitiu a cessão de Palanquero fossem claros ao definir que tipo de uso se daria nesse contrato. E não há essa clareza no texto.

Pelo contrário, especialistas citados na reportagem descobrem o véu que a ambiguidade tenta esconder: sem uma referência clara, a argumentação de direito à legítima defesa pode carimbar alguma representatividade legal em caso de operação Militar em territórios vizinhos. A tese da guerra preventiva não é nova, é aplicada no Oriente Médio há tempos, e os EUA a aplicaram também nas duas intervenções no Iraque. A diferença sutil no tipo de acordo fechado entre Washington e Bogotá justifica em parte o discurso beligerante do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a respeito do tema.

Escolado pela forma como os colombianos liquidaram, em solo equatoriano, o segundo homem mais importante da guerrilha das Farc (Raul Reyes), Chávez teme que essa ação se repita.

Antes da assinatura desse acordo com o presidente Álvaro Uribe, os EUA mantinham sua presença no coração da América do Sul operando a partir da base de Manta. Mas o contrato de arrendamento chegou ao fim, e o regime de Rafael Correa não quis manter o compromisso e ordenou a devolução das instalações.

Oficialmente, a base era usada pelos americanos para vigiar a movimentação de traficantes de armas e drogas tentando infiltrar-se no país através do Golfo do México. Mas nada impede que tenha funcionado como apoio logístico ou operacional aos helicópteros e jatos que dizimaram o acampamento das Farc a 13 km da fronteira com o país. Satélites poderosos podem coordenar ataques em pontos remotos.

O envolvimento umbilical dos colombianos com os EUA datam do Plan Colombia, um megaacordo assinado na época do governo Bush pelo qual os EUA despejaram toneladas de dólares e suporte Militar para Uribe. Graças a esse apoio, por sinal, o presidente que enfrentou um ataque direto da guerrilha já no dia da posse pôde enfrentar os comandados de Tirofijo com vantagens táticas que acabariam, no longo prazo, reduzindo a capacidade Militar e operacional das Farc. O plano foi uma ação necessária diante de um país convulsionado e refém de cartéis de drogas, os quais se associaram à guerrilha e a financiaram – para quem não se lembra, o traficante Fernandinho Beira-Mar foi preso naquele país, quando estava sob proteção da coluna liderada por Nego Acacio, um dos mais temidos comandantes da guerrilha.

As bases americanas na Colômbia são a estrutura americana para atuar na chamada “sub-região crítica”, a América do Sul ameaçada pelas drogas, miséria, terrorismo, antiamericanismo e recorrência de desastres naturais. Mesmo com as garantias dadas pelo governo de uma presença não intervencionista, fica difícil crer totalmente nessas intenções diante do que exibe o documento oficial citado pelo jornal.

Afinal, as ameaças não convencionais são a principal preocupação dos estrategistas.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem