Lula deve ignorar parecer pró-caça sueco e manter opção por Rafale

Para presidente, compra dos 36 aviões é "política e estratégica" para consolidar parceria entre Brasil e França

Eugênia Lopes, Vera Rosa, Denise Chrispim Marin e Leonêncio Nossa - O Estado de SP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende ignorar relatório do Comando da Aeronáutica que avaliou o caça Gripen NG, da empresa sueca Saab, como o melhor para a renovação da frota da Força Aérea Brasileira (FAB), informou um de seus mais próximos auxiliares. Lula já manifestou a preferência pelo caça francês Rafale e tem repetido que a decisão sobre a compra dos 36 aviões é "política e estratégica" para consolidar a parceria entre o Brasil e a França.

O vazamento do relatório do Comando da Aeronáutica para o jornal Folha de S. Paulo - com a avaliação ainda parcial das propostas para o projeto FX-2, de renovação da frota da FAB - irritou Lula e provocou mal-estar no governo. Auxiliares do presidente disseram que o documento já foi modificado e não faz um ranking das melhores propostas, apenas avalia tecnicamente itens como transferência de tecnologia e aspectos comerciais e logísticos. Nota do Comando da Aeronáutica informou ontem que o relatório ainda não foi enviado ao Ministério da Defesa.

A compra dos caças é mais um capítulo da crise do governo com os militares. Na véspera de Natal, os comandantes das três Forças e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ameaçaram se demitir em represália à criação da Comissão da Verdade, prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos, que abre brechas para a revisão da Lei de Anistia. Mas o impasse foi temporariamente contornado com a promessa de Lula de reexaminar os pontos de atrito.

A simpatia de setores da Aeronáutica pelo caça sueco já é velha conhecida do governo. Lula não queria, no entanto, que isso viesse a público. Afinal, dera o sim à compra dos Rafale antes mesmo de conhecer o relatório da Aeronáutica. Desde que anunciou sua preferência pelo caça francês, durante visita do presidente Nicolas Sarkozy ao Brasil, em setembro, Lula aguarda que a empresa Dassault reduza em 40% os custos de operação do Rafale. Naquela ocasião, Sarkozy chegou a garantir ao colega brasileiro que melhoraria substancialmente a proposta.

Lula tem demonstrado que não gosta de ser contrariado em decisões tomadas de antemão. Ao dar a entender que poderá ignorar o relatório da FAB, ele praticamente repete o que disse em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF), que abriu a possibilidade de responsabilizá-lo, caso opte por não extraditar o ex-militante de esquerda Cesare Battisti. O italiano foi condenado à prisão perpétua em seu país, acusado de quatro assassinatos. Indagado sobre o caso, Lula reagiu: "Não me importa o que disse o STF. Ele teve a chance de fazer e fez. Eu não dei palpite. A decisão é minha. Até lá não tenho comentários a fazer."

POLÊMICA

Três empresas competem para fornecer os 36 caças: além da Dassault e da Saab, a americana Boeing está no páreo com o F-18 Super Hornet. No relatório preliminar, o sueco Gripen NG ficou em primeiro lugar na avaliação técnica, seguido pelo Super Hornet. O Rafale, preferido por Lula e Jobim, obteve o terceiro e último lugar, pelo preço, considerado extremamente alto.

"O Lula só tem duas alternativas: ou mantém sua decisão política de comprar o Rafale ou não decide nada e empurra isso com a barriga, deixando o pepino para o próximo governo", opinou o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), presidente da Frente Parlamentar da Defesa Nacional.
 
Um dos argumentos usados pelos defensores do caça francês é de que não se pode comparar preços entre equipamentos diferentes. Alegam, por exemplo, que o sueco Gripen é monomotor e está em fase de projeto.

"Não se pode comprar equipamento militar como se fosse um objeto em uma prateleira de um shopping", disse o deputado José Genoino (PT-SP). "Essa visão da Aeronáutica é equivocada e parcial.

A discussão é de parceria estratégica com a França." Para um assessor de Lula, "não dá para comparar equipamentos que existem com caças que estão no papel".

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, será o primeiro integrante do governo a enfrentar a reação de Sarkozy diante do relatório da Aeronáutica. O chanceler participará amanhã, em Paris, de um seminário que será aberto pelo presidente francês. O Itamaraty trabalhava ontem para acomodar um horário para o ministro na agenda reservada de Sarkozy.

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