Acordo militar pode ajudar Embraer a vencer disputa na Força Aérea americana

Alex Ribeiro, de Washington - Valor

O acordo militar assinado ontem entre o Brasil e os Estados Unidos ajuda a Embraer na disputa para a venda de até 200 aviões Super Tucano para a Força Aérea americana, informou ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Esse é o primeiro acordo militar entre os dois países desde 1977, quando o entendimento anterior, assinado ainda na Guerra Fria, foi rompido pelo então presidente Ernesto Geisel. Sua existência permite que a empresa brasileira participe com alguns privilégios na seleção feita pelo governo americano.

"Existe a possibilidade de os Estados Unidos dispensarem a licitação para a compra de aviões se o país tiver um acordo militar", disse ontem Jobim, que participou da cerimônia de assinatura do acordo 
 
militar com o seu colega americano, Robert Gates. Jobim integra a comitiva do presidente Lula que participa da reunião de cúpula de segurança nuclear, que termina hoje em Washington.

A Força Aérea americana abriu um processo de escolha para a compra de cem aviões turboélice de ataque, que pode ser estendida para outras cem unidades. A Embraer já apresentou uma proposta que, se aprovada, representará a maior venda de Super Tucanos já feita pela companhia. Uma versão básica deste avião custa entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões, o que significa que o valor do contrato chega a casa dos bilhões.

Os americanos querem aviões que possam atuar em operações antiguerrilha na Colômbia. O principal concorrente brasileiro é o suíço Pilates PC-9. "O Super Tucano é muito superior ao Pilates", disse Jobim. "O Pilates é bom para passear por aí, para ir à praia." Se a empresa brasileira vencer a disputa, terá que abrir uma fábrica nos Estados Unidos.

Jobim disse que essa disputa não tem nada a ver com o processo de escolha, pelo Brasil, dos caças que vão equipar a Força Aérea Brasileira (FAB). A americana Boeing se candidatou a fornecer os jatos num projeto de modernização da FAB, cuja primeira fase, composta de um lote de 36 unidades, tem um valor estimado em US$ 2 bilhões. O governo americano tem feito lobby aberto em favor da Boeing.

"Não queremos vincular uma coisa a outra", disse Jobim.

Ontem, foi assinado o que se chama de acordo-quadro entre Brasil e Estados Unidos. Sob ele, serão abrigados outros acordos entre os dois países, alguns já em vigor, como a cooperação tecnológica e o treinamento de militares. Não há nenhuma previsão, disse, de instalação de base americana no Brasil. "Esquece isso", disse Jobim. "É um acordo-quadro, como a gente tem com vários países", disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. "Não tem base americana." Segundo o ministério, o Brasil tem acordos semelhantes com quase três dezenas de países, incluindo a Rússia.

O acordo militar entre o Brasil e os EUA representa uma distensão na relação entre os dois países na área, após o incidente da instalação de nova base americana na Colômbia no ano passado e dos desentendimentos na ação de resgate após o terremoto no Haiti no início do ano. O incidente da base na Colômbia levou à assinatura, dentro da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), de um documento que diz que acordos militares com países de fora da região, caso dos Estados Unidos, deverão respeitar a soberania dos países e inviolabilidade dos territórios dos Estados e não interferir nos assuntos internos de cada país.

O Brasil, disse Amorim, informou previamente aos países da Unasul sobre "os termos do acordo". No acordo com os Estados Unidos, foi inserida uma cláusula que trata do respeito à soberania e integridade territorial dos países.

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