Irã vai à ONU contra política nuclear dos EUA

Na véspera de cúpula de segurança, Obama afirma que terrorismo atômico representa a maior ameaça ao país

Fernando Eichenberg Correspondente - O Globo

WASHINGTON. Na véspera da abertura da Conferência sobre Segurança Nuclear, o governo do Irã anunciou ontem que vai registrar uma queixa formal na ONU contra a nova política nuclear americana, anunciada na semana passada pelo presidente Barack Obama. A queixa condena a postura americana de excluir Irã e Coreia do Norte de sua lista de possíveis alvos de uma bomba atômica.
 
A Revisão da Postura Nuclear do governo Obama, revelada na semana passada, restringe o uso de armamento nuclear, mesmo em caso de agressões com armas químicas e biológicas, mas abre uma exceção para eventuais ataques a países que violarem as regras do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).

Esta decisão implicitamente intimida a nação iraniana com o posicionamento de armas nucleares disse o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.

Hillary minimiza ausência de Netanyahu

A reação iraniana um dia antes da abertura da conferência, em Washington, aumentou a expectativa pelo encontro, que reúne representantes de 47 países no campo minado da diplomacia sobre o controle do material nuclear no mundo. Ontem, Obama começou a se reunir extraoficialmente com os primeiros líderes a chegarem aos EUA. O presidente americano destacou a urgência da cúpula de dois dias e voltou a advertir contra os esforços da al-Qaeda e de outros grupos terroristas para conseguir armamento nuclear.

A maior ameaça à segurança dos EUA a curto, médio e longo prazo é a possibilidade de que uma organização terrorista obtenha armas nucleares disse Obama. Sabemos dos esforços da alQaeda e, se conseguirem obtêlas, não hesitarão em usálas emendou, após reunirse com o presidente sulafricano, Jacob Zuma.

A secretária de Estado, Hillary Clinton, minimizou a ausência do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu que desistiu de comparecer, temendo pressões de países como Egito e Turquia por mais transparência em seu programa nuclear: Gordon Brown não vai vir da Grã-Bretanha. Kevin Rudd não virá da Austrália. O rei Abdullah não virá da Arábia Saudita.

Não se trata de crise Instabilidade no Paquistão será um dos temas-chave A desistência de Israel poupou Obama de um debate incômodo e potencialmente explosivo.

Mas, o presidente enfrentará outros, como os esforços para sedimentar adesões para a aplicação de novas sanções econômicas a um Irã cada vez menos disposto a aceitar a interferência internacional no controle de suas instalações atômicas.

Em entrevista ao programa Face the Nation, da rede CBS, o secretário de Defesa americano, Robert Gates, foi explícito sobre a exceção aberta ao Irã e à Coreia do Norte como possíveis alvos de um ataque nuclear: Eles não estão em conformidade com o TNP. Então, para eles, todas as opções estão sobre a mesa.

Outro tema delicado é o Paquistão, país com o mais rápido crescimento de arsenal nuclear do mundo e de um nível crescente de violência política.

Estima-se em 25 mil o número de civis mortos ou feridos em ações terroristas no ano passado. O receio maior de Washington é o grupo terrorista Lashkar-e-Taiba, autor do atentado a Bombaim, na Índia, em 2008, que matou mais de 160 pessoas. A Índia acusa os terroristas de agirem com a conivência dos serviços de inteligência paquistaneses e conexões do Lashkar e-Taiba no país apontam facilidades de acesso ao arsenal nuclear.

O Paquistão e a vizinha Índia têm armas nucleares e não são signatários do TNP. Talvez por isso, seus primeiros-ministros, o paquistanês Yusuf Raza Gillani e o indiano Manmohan Singh, estivessem entre os primeiros a serem recebidos por Obama, antes mesmo do início da conferência.

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