Russos oferecem avião à força aérea americana

Ilyushin-96 concorrerá a programa de fornecimentos de aviões-tanque
 
Área Militar

O programa de aquisição de aeronaves de reabastecimento para a força aérea dos Estados Unidos, tem sido marcado por avanços e recuos, por entre problemas técnicos e acusações de preferências e proteccionismo.

O programa norte-americano, conhecido como KC-X prevê a aquisição de 175 aeronaves de reabastecimento em voo de combate que devem substituir a frota de aeronaves presentemente ao serviço, que se baseia em aviões to tipo Boeing B-707 e Douglas DC-10/MD-11. [1]

Competidor russo

Nua altura em que os europeus acusam os norte-americanos de proteccionismo, a organização russa U.A.C. que é controlada pelo governo russo afirmou estar interessada em apresentar um modelo de aeronave de reabastecimento em voo para concorrer no programa KC-X.

Segundo os russos, a aeronave apresentada seria o Ilyushin 96 (IL-96), com quatro motores, que também é utilizado pelos russos para a mesma função, sendo igualmente utilizado como aeronave de transporte em algumas linhas aéreas russas.

A apresentação da opção russa é no mínimo estranha. O IL-96 é uma aeronave que já foi rejeitada como aeronave de transporte pela própria Aeroflot, a antiga «companhia de bandeira» do estado soviético.

O avião é uma versão modernizada do IL-86 que foi lançado nos anos 70 para competir com os modelos americanos e europeus dos anos 80 e substituir os modelos IL-62 nas linhas de longo curso.

A aeronave, um quadrireactor, tinha um consumo excessivo mesmo para os padrões russos, pelo que rapidamente se iniciou o desenho de um substituto, com motores mais modernos e menos gastadores.

A maioria dos analistas perguntados sobre a questão não teceram comentários, porque não há qualquer informação sobre qual seria o potencial «parceiro» a que a empresa russa se poderia aliar para apresentar uma proposta credível.

Além disso entidades ligadas à administração norte-americana afirmaram que qualquer proposta para o programa KC-X apresentada por fornecedores com capacidade demonstrada será bem-vinda, mas não se sabe se as fábricas estatais russas são consideradas pelas autoridades militares norte-americanas como um «fornecedor com capacidade demonstrada».

As questões de segurança nacional, não poderiam constituir qualquer problema, pois as aeronaves IL-96 não são modernas nem possuem qualquer tipo de tecnologia que não seja dominada nos Estados Unidos, nem o país aceitaria adquirir um avião que pudesse por em causa a capacidade militar da Força Aérea, pelo que a ideia poderia até não ser assim tão absurda.

Neste caso seriam necessárias modificações enormes nos sistemas da aeronave russa que provavelmente transformariam o IL-96 num avião americano, embora parte do trabalho já esteja feito, desde que foi apresentado o IL-96T, que está equipado como motores Pratt & Whitney de origem norte-americana e que foi concebido para avião de transporte de carga.

Afora os sistemas ocidentais o resto da aeronave é relativamente ultrapassada e a principal vantagem competitiva dos russos acabam sendo os baixos salários, mas neste caso isso implicaria a necessidade de construir aeronaves fora dos Estados Unidos, o que automaticamente colocaria o IL-96 fora da competição.

O principal problema, e a razão que faz a proposta russa aparentemente cair no vazio, é o reconhecido facto de as aeronaves IL-96 não serem conhecidas como competitivas em termos de consumo de combustível e durabilidade dos seus sistemas e mesmo com motores de origem norte-americana, o IL-96 tem quatro motores, contra dois motores nos modelos da Boeing e da Airbus.

Truque publicitário

Outra possibilidade não aventada, mas que não deixa de poder ser considerada, é que a proposta e o seu anuncio não passem de um truque publicitário.

As principais fábricas de aeronaves civis russas, encontram-se numa situação complicada, não conseguindo vender aeronaves nem para as empresas russas. Desde que a aviação comercial na Rússia passou a reger-se por regras de mercado, a durabilidade e o consumo das aeronaves, fecharam muitas das estruturas russas herdadas do período soviético. A linha de produção do Tupolev Tu-154 está praticamente encerrada e outros modelos de aeronaves estão com dificuldades em vender.

Ao apresentar-se como potencial concorrente ao programa norte-americano, a empresa russa estaria a transmitir uma mensagem de capacidade industrial e vitalidade.

Uma análise mais conservadora e realista no entanto, levaria a acreditar que a probabilidade de os norte-americanos adquirirem um avião russo para constituir a espinha dorsal da sua capacidade de transporte é tão realista quanto acreditar que a Força Aérea dos Estados Unidos desista do programa F-35 para o substituir por caças MiG-29.


[1] - Os dois principais concorrentes ao programa, são os dois maiores construtores de aeronaves do mundo. A Boeing norte-americana, que apresentou uma aeronave tendo como base o Boeing B-767 e o conglomerado europeu EADS, com uma aeronave baseada no Airbus A-330.

A competição entre o Boeing B-767 e o Airbus A-330 que nos Estados Unidos foi apresentado pela americana Northrop-Grumman (que deveria construir os aviões nas suas fábricas naquele país) acabou sendo favorável ao A-330.

No entanto, uma forte pressão da Boeing, apoiada nos meios políticos norte-americanos por deputados e senadores dos estados onde estão instaladas fábricas da empresa, levou a que todo o concurso fosse novamente analisado, tendo como base várias irregularidades comprovadas.

Em Setembro de 2008, a concorrência foi cancelada, tendo inicio um novo processo, com questões jurídicas levantadas de permeio. Em Setembro de 2009 o programa de aquisição foi novamente lançado.

Desmentido / actualização

No dia 22 de Março, o presidente da UAC, Alexey Fedorov, negou a intenção da empresa russa de apresentar o cargueiro IL-96 a concurso. Tal competição não faria sentido, porque o IL-96T é inferior aos modelos da Boeing e da EADS.

Ainda segundo as palavras do dirigente russo, mesmo que a empresa apresentasse o seu modelo, a industria aeronautica russa nunca teria capacidade para produzir os 179 aviões que os americanos pretendem adquirir num futuro próximo.

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