Do Exército para as empreiteiras

Atraídas pela qualidade das obras, construtoras estão convidando os soldados para trabalhar. Exército virou hoje um grande formador de mão de obra

Leonardo Spinelli - Jornal do Commércio

A qualidade reconhecida das obras de construção civil realizadas pelos soldados brasileiros vem transformando o Exército num grande formador de mão de obra para a iniciativa privada na área de engenharia. Muitos dos soldados que trabalham nos destacamentos da BR-101 vêm recebendo convites de trabalho de empresas do setor. Grande parte do contingente abandona o uniforme militar por bons salários em cargos como os de operadores de máquinas e laboratoristas.

"Recebemos os soldados sem experiência e aqueles que se destacam recebem orientação dos mais experimentados. Os que operam máquinas fazem cursos técnicos porque, além da prática, precisam do conhecimento teórico, técnico e normativo de segurança", comenta o capitão Fabiano Queiroz, chefe da seção técnica do destacamento de Goiana. O grupo faz parte do 3º Batalhão de Engenharia do Exército, responsável pela duplicação da BR-101 no trecho do município de Goiana.
 
Capitão Queiroz salienta que a maioria dos soldados entra para realizar o trabalho braçal e poucos deles sobem para atividades mais qualificadas. "Nosso batalhão recebe 600 homens por ano e a maioria não é promovida", salienta. Para chegar em atividades melhores, o soldado tem de mostrar força de vontade e se adaptar às regras rígidas do Exército. Quem está na corporação e conseguiu uma função destacada, sabe que seu futuro na iniciativa privada está garantido, principalmente porque entrou no Exército sem nenhuma qualificação.

"Estão oferecendo R$ 1.400, R$ 1.800 para trabalhar na obras da transposição do Rio São Francisco em Cabrobó e Floresta. Também em obras da BR. Com hora extra o salário pode chegar a R$ 2.500. Para quem não é formado é uma ótima remuneração", opina o soldado Paulo Souza, operador de escavadeira hidráulica. Antes de se alistar no Exército, Souza era estudante na cidade de Dom Expedito Lopes, no Estado do Piauí. A sede do 3º Batalhão de Engenharia de Construção fica em Picos, município piauiense, e por essa razão a maioria dos operários-soldados em Goiana são daquele Estado.

Segundo o soldado Souza, muitos de seus colegas estão hoje trabalhando em obras públicas pelo Nordeste. "É difícil de achar operador de escavadeira e de patrol", diz. Ele mesmo já recebeu uma proposta para trabalhar em Angola. "Não fui porque me casei", afirma. Souza diz que, apesar de o soldo do Exército ser menor do que a remuneração da iniciativa privada, ele prefere completar os sete anos de serviço, como soldado engajado (quando deixa de ser recruta).

No Exército, o procedimento padrão para se chegar a uma máquina complexa como a escavadeira hidráulica começa com o trator agrícola. Depois dela, o soldado passa pela motoniveladora – veículo de seis rodas com lâmina para aplainar o solo –, trator de esteira e, enfim, a escavadeira. Há outros tipos de maquinários que são utilizados dependendo do tipo de serviço. Depois da terraplenagem, vem a equipe de asfalto. Nesta fase são utilizados instrumentos como a usina de asfalto e a vibroacabadora, que também exigem formação técnica e prática.

Laboratorista é outra função na qual o Exército vem dando uma mãozinha ao mercado. O técnico Gilson Amorim, de 35 anos, saiu dos laboratórios de testes da corporação para uma empresa da iniciativa privada. Apesar de ter entrado formado, como técnico em edificações, ele conta que foi no Exército que fez contatos e aprendeu, na prática, o seu serviço.

"Passei como técnico civil, mas fiquei desestimulado porque o horário militar é estressante. Acordar às 4h não é fácil. Fui chamado pela minha atual empresa e resolvi sair", relata Gilson Amorim. Ele informa que aprendeu no Exército a trabalhar com testes de placas de concreto. "Ter o Exército no currículo, segura qualquer um no mercado", diz.

Currículos são mais valorizados

Não é apenas o pessoal técnico que tem boas opções de trabalho depois de passar pelas obras das Forças Armadas. Profissionais de nível superior também viraram alvo das empresas privadas. A Concremat, por exemplo, tem dois engenheiros vindos de obras do Exército. "Passei três anos como militar e uma empresa de fora, terceirizada, viu meu trabalho e me chamou", conta o engenheiro Heleno Bezerra. Ele informa que sua patente era a de tenente, dentro da carreira militar temporária. "Apesar de ter ainda mais quatro anos de emprego garantido, a proposta salarial foi boa, 50% a mais", disse.
 
Na opinião de Bezerra, com as obras de infraestrutura, o Exército vem desempenhando uma função social, pois capacita pessoas que não tinham qualificação e as coloca no mercado de trabalho.
 
"Meninos de 19 anos, sem experiência, são formados numa especialidade e podem passar até sete anos desempenhando a função", diz. "O rapaz passa quatro, cinco anos numa retroescavadeira. Com essa experiência ele tem emprego garantido em Suape, por exemplo. Na obra da transposição tem mais de 100 máquinas como esta. O soldado sai valorizado".

Bezerra conta que aproveitou os seus anos de serviço para ficar de olho no pessoal que ele acha mais qualificado. "Passei três anos lá dentro e conheço ótimos profissionais. Estou de olho para chamar para trabalharem comigo", conta.

Leovigildo Galdino é outro exemplo. Ele abandonou a farda para exercer um cargo de coordenação regional da Concremat, empresa de engenharia do Rio de Janeiro. Sua passagem pelos destacamentos o transformou num olheiro da empresa. "Contratei várias pessoas do Exército e estou em busca daqueles que estão dando baixa. Na minha área, mão de obra tem de ter conhecimento prático", define.

Sua função básica é a de controle tecnológico, na qual são analisadas a qualidade do concreto, terraplenagem, das britas e também do serviço executado. "Sempre estou precisando de pessoal técnico da área de edificações e com experiência no controle do concreto e do asfalto", revela, salientando. "Às vezes há muito técnico formado, mas na área de edificações é difícil encontrar um especializado na área de concreto. No curso se vê o assunto de forma genérica e o pessoal só se especializa desempenhando a função mesmo."

Galdino lembra que na sua área o mercado também está aquecido, e por este motivo ele decidiu abandonar a carreira militar. "Meu salário de oficial-tenente era de R$ 4 mil. Hoje eu recebo este valor líquido e com outros benefícios. Um deles é a perspectiva de progredir na carreira. Entrei como engenheiro da empresa e hoje já sou coordenador regional, por conta do meu conhecimento no mercado do Recife".

Departamento de Engenharia abre vaga temporária

O jovem que pretende arrumar uma qualificação nas Forças Armadas tem de esperar até o início do ano, que é quando acontece o alistamento militar obrigatório. Nem todos são absorvidos e os que ficam têm de mostrar serviço durante o período de recruta. Um dos objetivos das corporações militares é formar o jovem, inclusive bancando cursos profissionalizantes, em alguns casos. O alistamento militar, no entanto, não é a única forma de adentrar nas Forças Armadas. Há muitas opções de empregos temporários.

Uma delas está com edital na praça e abrange pessoal técnico qualificado na área de engenharia. O Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército está com processo seletivo simplificado para contratar mão de obra temporária para "atender os serviços de execução do Programa de Desapropriação e Relocação" da população afetada pela obra de duplicação da BR-101 no trecho entre os municípios de Palmares e Feira de Santana, na Bahia. Os interessados devem se inscrever até sexta-feira. As propostas devem ser encaminhadas pelos Correios ao DEC, que fica em Brasília. O edital foi publicado ontem no Diário Oficial da União (Seção 3, página 15) e o documento completo está disponível no site www.dec.eb.mil.br. Até ontem, no entanto, o edital completo não havia sido publicado.

Os cargos temporários vêm sendo cada vez mais disputados. Aquelas pessoas que não têm maiores pretensões dentro de um quartel podem encontrar nas Forças Armadas um incentivo para o aperfeiçoamento.

Na

Aeronáutica, assim como no Exército e na Marinha, os formados de diversas áreas, inclusive do ensino médio técnico, podem garantir uma permanência máxima de oito anos de trabalho, que é renovada todos os anos, dependendo das necessidades de cada órgão. Para entrar, o único caminho é prestando concurso de seleção. No caso da Força Aérea, a aprovação leva o aspirante ao Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (Ciaar), onde o aluno passa três meses em Belo Horizonte e sai de lá um segundo-tenente, cuja remuneração é por volta de R$ 4 mil. Um terceiro-sargento temporário (de nível técnico), tem salário na base de R$ 2 mil. Existem escolas orrespondentes para cada Força.

A

Escola de Sargentos das Armas (ESA) do Exército, por exemplo, está com processo seletivo em aberto para quem tem interesse nas 1.176 vagas de aluno. A escolaridade exigida é o ensino médio.

Após curso de um ano e meio, os vencimentos brutos iniciais são de R$ 2.962,14. O curso é para jovens  entre 18 e 24 anos. O valor da taxa é de R$ 70 e a inscrição segue aberta até 20 de julho. Mais informações no site www.esa.ensino.eb.br. Também para o Exército há edital do concurso da Escola Preparatória de Cadetes (EsPCEx 2011). Em oferta 520 vagas para rapazes de todo o País com, no mínimo, a 2º série do ensino médio concluído. As inscrições vão até 14 de julho no site www.espcex.ensino.eb.br.

A

Aeronáutica
está com o edital do curso preparatório de Cadetes-do-ar (IE/IA CPCAR 2011). São 215 vagas para rapazes com ensino fundamental completo. Inscrições até 7 de julho, somente via internet, no site da Escola Preparatória de Cadetes-do-Ar (http://www.barbacena.com.br/epcar/concursos.htm). A instituição também tem 164 vagas para os Cursos de Formação de Oficiais Aviadores, Intendentes e de Infantaria (CFOAV/CFOINT/CFOINF 2011). Podem participar da seleção, moças e rapazes (conforme o curso), com o ensino médio completo. Após quatro anos, os salários são de aspirantes-a-oficial, no valor de R$ 5.275,14.

As

Escolas de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (no Rio e no Pará) também está com inscrições em aberto até o dia 30 de junho. Ao todo são 370 vagas.

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