Isolados recebem primeira ajuda oficial

Médicos da Aeronáutica vão a São José do Vale do Rio Preto: atendimento e vacinas
 Rafael Galdo - O Globo
 
Sem luz, telefone e praticamente isolados. Quase uma semana depois da enxurrada na Região Serrana, moradores das localidades dos Freitas e das Caldelas, no bairro do Poço Fundo, em São José do Vale do Rio Preto, receberam ontem a primeira ajuda oficial desde que tiveram suas casas varridas pelas águas do Rio Preto. Num helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB), médicos do Hospital de Campanha da Aeronáutica montado em Itaipava chegaram à região para prestar atendimento aos moradores ilhados e vaciná-los contra o tétano.

 
Num abrigo à beira da Rodovia Bianor Esteves, que liga São José a Teresópolis, Mike de Oliveira Ferreira, de 12 anos, conta que sua casa, no alto de um morro, ameaçou desmoronar ainda na madrugada da última quarta-feira. A família correu para a casa de amigos, às margens do Rio Preto. Mas no início da manhã seguinte, o rio encheu rapidamente e destruiu também o lugar onde tinham se abrigado.

 
- Desbarrancou tudo. Fiquei muito assustado - diz o garoto.


A tia dele, Suelen de Oliveira Ferreira, conta que, desde a semana passada, os moradores têm recebido donativos apenas de igrejas e ONGs. As doações, diz, chegam de Teresópolis, por uma estrada que continua desmoronando, cortada por trechos em que não sobraram nem dois metros de asfalto. Já em direção a São José, só é possível passar a pé, de moto ou bicicleta, por uma ponte improvisada num ponto em que a estrada sumiu.

 
Dali, para onde se olha, se vê um rio de lama às margens do rio. As casas que sobraram de pé próximo ao curso d"água têm marcas de barro até o teto. E, na maioria, restaram apenas algumas paredes. A poucos metros do abrigo onde estão Suelen e Mike, uma porteira que dava acesso a um pequeno caminho paralelo ao rio agora tem pela frente apenas água barrenta.

 
Diante de um cenário de caos, a visita dos militares foi um alívio para os desabrigados, que pedem doações de repelentes, por causa da grande quantidade de mosquitos. Além de medirem pressão e serem vacinados, receberam analgésicos e antitérmicos. A iniciativa da Aeronáutica, de acordo com o coronel Henry Munhoz, foi uma experiência-piloto, que vai se repetir, levando atendimento a outras comunidades isoladas.

 
- Tínhamos um dia com pouca demanda no Hospital de Campanha. Entendemos, então, que tínhamos que ir até a população que precisa de nossa ajuda - disse o coronel.

 
Num sobrevoo pela região próxima a São José do Vale do Rio Preto e Itaipava, é possível ver plantações arrasadas, casas e fazendas destruídas. Muitos animais também continuam isolados.

 
Em relação aos animais, em Petrópolis a vigilância sanitária teve que desmentir boatos de que cavalos mortos durante a enxurrada poderiam estar contaminando as águas dos rios que abastecem a cidade. Segundo o coordenador do órgão, Eduardo de Lucena Gonçalves, três laboratórios fazem a análise da água, e não há riscos:

 
- Os raros cavalos encontrados perto dos rios serão enterrados. Mas não há perigo de contaminação, e não há motivos para pânico.

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