Em época de cortes, compra de caças gera ciúme na Esplanada

Para os que discordam da compra dos aviões que custarão US$ 6 bi aos cofres, gastos são desaconselháveis num momento em que se deve apertar o cinto

Tânia Monteiro e Leonencio Nossa, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Em momento de anúncio de cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento da União, o projeto do Ministério da Defesa de compra dos 36 caças, avaliado em cerca de US$ 6 bilhões, está despertando ciúmes de colegas da Esplanada, que estão bombardeando a ideia, sob a justificativa de que estes gastos, neste momento, são desaconselháveis porque o momento é de apertar o cinto. 

Apesar de o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ressaltar sempre que, mesmo que a compra dos caças seja anunciada ainda este ano, a assinatura dos contratos com a empresa vencedora (Dassault, francesa, Saab, sueca ou Boeing, norte-americana) levará pelo menos mais um ano para entrar em vigor, como acontece em propostas deste gênero, sempre aparece alguém para questionar o volume de gastos do FX-2.

O projeto de compra dos caças se arrasta desde o governo Fernando Henrique Cardoso e foi o primeiro a ser adiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando assumiu em 2003. É dentro desta mesma perspectiva que ele vem sendo tratado por alguns ministros como "um gasto", acrescentando que levá-lo adiante neste momento afetaria as contas públicas, prejudicando a meta do governo para reduzir gastos e segurar a inflação. "Você acha que depois de um corte de R$ 50 bilhões vai dar pra fazer alguma coisa?", disse um ministro, acrescentando que, todos poderiam estar certos que, este ano, com certeza, "não sai nada" em relação à compra dos caças.
 
No Palácio, a presidente Dilma Rousseff já avisou a quem a procura para falar sobre o assunto que não tem pressa para discutir esta questão. O assunto está adiado, sem uma data determinada porque esta não é prioridade da presidente, neste momento. Dilma, no final do ano passado, conversou com Lula e Jobim sobre o tema. Recebeu um relatório da Defesa com avaliação dos modelos F-18, Rafale e Gripen e pediu ajuda na avaliação do tema por outros Ministérios, sob a justificativa de que quer discutir melhor os benefícios deste projeto para o desenvolvimento não só para a aviação militar, mas também para a aviação civil. A Embraer, por exemplo, quer ser beneficiada com o projeto e trabalha no governo para isso.

 
Na terça, ao sair de uma reunião de cortes, no Ministério da Fazenda, Jobim afirmou que "o corte, não necessariamente, vai impactar o projeto FX-2 porque os efeitos financeiros de uma eventual decisão da presidenta da República só deverá ser sentido a partir do ano que vem". A área econômica também vem bombardeando o projeto, tentando evitar novos endividamentos.

 
Outro ministro, embora tenha sido mais ameno no bombardeio ao projeto FX, comentou que em momento de corte não dá para pensar em projeto novo. Mas, em seguida, reconheceu que este é "um projeto de longo prazo" e que, portanto, pode ser adiado já que o fluxo de caixa de início de governo sempre enfrenta problemas, mas que, depois, tudo se ajusta. Contra este argumento, Jobim também faz seu contraponto, lembrando que, em 2016, começa a vencer o ciclo de vida útil dos Mirage-2000 e que, para os novos caças terem chegado até lá, precisam ser encomendados o quanto antes.

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