Generais russos querem Leopard-2

Tanques russos ultrapassados pelos chineses e europeus
 

Área Militar
 
A notícia não é novidade, embora os sectores mais conservadores dentro e fora da Rússia estejam a digeri-la com uma incredulidade extrema, mas em afirmações públicas, mais uma vez, alguns dos mais altos responsáveis do exército russo vieram por em causa a qualidade e a utilidade da adopção por parte do exército da Rússia de mais uma versão modernizada do tanque T-72, desenvolvido a partir do T-64, um modelo com mais de 40 anos de desenvolvimento e que nunca correspondeu às necessidades do exército.

Criticas abertas desde 2009


A última critica, e provavelmente a mais feroz, veio do general Alexander Postnikov, chefe máximo do exército russo, que por várias vezes foi citado por ter afirmado que o T-90 não passava de uma «ratoeira mortal».


Sabe-se agora que pelo menos desde Dezembro de 2009, os militares russos têm feito criticas demolidoras ao veículo e posto a nú um enorme número de deficiências, defeitos de fabrico e erros de concepção, demonstrando que o T-90, não é afinal nada mais que o vetusto tanque T-72 com sistemas mais modernos, que por azar também funcionam mal, e muitas vezes nem sequer chegam a funcionar.


Curiosamente, e contra o que é comum nas forças armadas russas, e principalmente desde que o presidente Dimitri Medvedev chegou ao poder, as criticas aos sistemas de armas tornaram-se públicas mas acima de tudo, as evidências e provas foram tão devastadoras que nem a industria russa conseguiu nega-las.


Como resposta, durante os últimos meses, a URALVAGONZAVOD viu-se forçada a lançar mais uma versão modernizada do T-90, agora rebaptizado T-90AM e que segundo os responsáveis da empresa, é agora o melhor tanque do mundo.

Mas de pouco serviu, dado a acreditar nas acusações dos militares russos, o «novo» T-90AM, ser afinal mais do mesmo, ou seja, o mesmo carro de combate com nova pintura e com os mesmos sistemas com um nome diferente.

O novo modelo não parece por isso ter convencido os militares, ainda que pela primeira vez os engenheiros tenham tentado resolver um problema tão velho quando os mais de 40 anos do veículo: A separação interna na torre, que leva à sua explosão quando se incendeia. Este problema permitiu destruir carros de combate T-72 apenas com simples cocktails Molotov.


Protecção inutil


As críticas ao T-90 são generalizadas, mas a principal dirige-se à agora reconhecida fraquissima qualidade da blindagem do T-90 (que sempre foi um dos problemas do T-72 base), e também à péssima qualidade da blindagem reactiva[1] de última geração, que mostrou ser absolutamente inútil e ineficaz.


«Só funciona nos testes de aceitação», foi uma das criticas do general russo, que se referia ao facto de a industria do país não ser capaz de produzir produtos com uma qualidade linear (sustentada). É muito comum haver sistemas de qualidade aceitável, e no modelo seguinte, o mesmíssimo sistema nunca chega a funcionar.

Atrás dos tanques da NATO, mas também atrás dos tanques chineses


Talvez para os russos e para os sectores que têm tentado manter o problema dentro de paredes, a mais grave acusação seja a de que não só os carros de combate russos estão completamente obsoletos quando comparados com os carros de combate da NATO, mas acima de tudo, estão a ficar ultrapassados quando comparados com os tanques chineses.


A crítica é dirigida ao cerne da questão, as inúteis e obsoletas estruturas fabris do complexo militar-industrial russo, que continua a ser apenas constituído pelos restos das fabricas militares da antiga União Soviética, com as mesmas máquinas, os mesmos métodos de produção e a mesma irresponsabilidade por parte dos directores, que vai até às linhas de produção, onde não há qualquer preocupação com a qualidade do produto.

 
Este problema resulta em fornecimentos irregulares. Um carro de combate russo saído das fábricas dos Urais numa determinado dia, pode ser bom e cumprir com a especificação, mas no dia seguinte, um tanque do mesmo modelo e do mesmo lote, pode ter uma qualidade tão baixa que o destina imediatamente à sucata.

 
Este problema, está relacionado com a estrutura industrial soviética e foi ultrapassado pelos chineses, que incorporaram sistemas e métodos de produção copiados dos países ocidentais, que instalaram fábricas na China para aproveitar a mão de obra quase grátis dos chineses.

O resultado, é que embora os tanques chineses não sejam necessariamente melhores que os russos, os métodos de produção das fábricas chinesas têm capacidade para produzir um produto muito mais uniforme e que dá muito menos problemas.


Isto reflecte-se na operacionalidade das forças blindadas do país e coloca a industria russa em desvantagem perante a industria chinesa nos mercados de exportação.

 
Os chineses também têm indirectamente acesso a tecnologias ocidentais e copiaram abertamente vários sistemas de armas europeus e americanos, coisa que os russos não conseguem fazer.

Desespero de causa


Perante o acumular das criticas o general Postnikov chegou mesmo a afirmar em declarações à imprensa especializada que o exército russo não deve desperdiçar 4 milhões de dólares num tanque T-90, pois com esse dinheiro ficaria melhor servido se comprasse três tanques Leopard-2 em segunda mão, que devem ficar pelo mesmo preço, dando a entender que o carro de combate alemão usado, dava aos russos mais segurança que um T-90 novo de fábrica.


A afirmação foi naturalmente contestada pelos responsáveis da industria russa e Oleg Siyenko, o director-geral da fábrica URALVAGONZAVOD (literalmente, fábrica de vagões dos Urais) está entre os criticos dos generais.

 
A URALVAGONZAVOD é a fabricante do T-90 e a principal visada nas criticas demolidoras que foram dirigidas ao modelo e à capacidade e qualidade de produção da industria.

 
Sabendo dos rumores que davam como certa a preferência dos militares, ele ordenou a realização de testes que provavam que o T-90 modernizado era (em teoria) superior ao Leopard-2 alemão.

O dirigente da industria russa também afirmou que um tanque Leopard-2 custa 5,8 milhões de dólares e que por isso os valores avançados pelos generais não faziam sentido. No entanto, Siyenko comparou tanques Leopard-2 novos com T-90 novos.


A dificuldade de compatibilizar sistemas ocidentais com sistemas russos também foi apontada como uma das razões que torna inviável e desaconselhável a utilização de material de guerra ocidental, num exército cujas armas seriam na maioria dos casos incompatíveis [2].

Entre os mais irritados com as afirmações dos generais russos encontram-se os velhos deputados comunistas da Duma (parlamento russo), que cresceram e envelheceram acreditando que o material de guerra russo era o melhor do mundo. Os deputados, pediram a criação de uma comissão de inquierito (equivalente russo de uma CPI) para analisar a questão.

Para os responsáveis da velha guarda comunista e para os políticos nacionalistas mais conservadores, a possibilidade de a Russia comprar viaturas tão importantes como carros de combate principais aos seus antigos inimigos do ocidente, não é uma questão técnica ou táctica mas sim uma questão de orgulho patriótico.


Já a nova vaga de militares russos, que receberam ordens para criar um exército moderno, que baseasse o seu poder não no numero mas sim na qualidade, olham para o material russo com a desconfiança natural de quem sabe que o material russo não foi feito a pensar na qualidade, mas sim na sua utilização em massa, esperando grandes perdas e considerando a qualidade como um factor secundário.


O clima de mal estar entre os dois grupos não vai melhorar, porque por um lado as fábricas estão ligadas ao clã de Vladimir Putin, normalmente considerado um dos líderes do crime organizado na Russia e que manda no Serviço Federal de Segurança (que tem o seu exército próprio), os militares parecem estar mais próximos da linha de Dimitroi Medvedev.


Os dois políticos têm-se vindo a afastar cada vez mais durante os últimos meses.


[1] – A blindagem reactiva explosiva foi uma das formas encontradas para responder às criticas iniciais sobre a péssima protecção que os militares tinham dentro do veículo.

[2] – Curiosamente este é o mesmo argumento que é utilizado para desincentivar a aquisição de sistemas russos por exércitos habituados a sistemas ocidentais.
 

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